© REUTERS / Stephane Mahe
GUILHERME GENESTRETI - O filme "Leto", em competição no Festival de Cannes, é tudo aquilo que a Rússia não costuma apresentar nas recentes mostras estrangeiras: além de romper com o registro realista, é alegre, quente, musical, cheio de jovens e com pouca brutalidade.
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Não que a politização não embebede a trama -a história de uma banda de punk rock sob o jugo soviético no início dos anos 1980. Mas a carga política está mais fora das telas do que dentro.
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O diretor do filme, Kirill Serebrennikov, cumpre prisão domiciliar e não pode viajar para a França. Ele é acusado de ter se apropriado de fundos governamentais investidos em um projeto de teatro.
O que entorna o caldo é o fato de que o cineasta é notório crítico do Kremlin, o que faz com que parte da classe artística local veja sua prisão como uma represália política.
No tapete vermelho, na noite de quarta (9), a equipe do filme empunhou uma enorme faixa com o nome de Serebrennikov. Até mesmo o diretor do festival, Thierry Frémaux, fez questão de empunhá-la.
Na manhã seguinte, seu lugar na mesa da conversa com a imprensa era uma cadeira vazia. A organização do festival leu uma nota, afirmando que Putin "estaria feliz" em ajudar o festival, mas que o sistema judiciário de seu país é "independente".
"Um dia acordamos e nosso diretor não estava mais lá", relatou a produtora do filme Illya Stewart. Segundo ela, o diretor editou a obra mesmo em prisão domiciliar e sem contato com o mundo lá fora.
"Leto", que em russo significa verão, reconta a história de Viktor Tsoi (1962-1980), figura que ficou famosa na cena punk de São Petersburgo, então Leningrado, no início dos anos 1980.
Em uma época em que o rock era a quintessência da subversão ocidental, cabeludos, portadores de moicanos e rebeldes de jaqueta de couro eram vistos como "capachos do inimigo".
Uma das cenas, um delírio mostrado em estilo de videoclipe, traz o bando de músicos cantando "Psycho Killer", do Talking Heads, enquanto se batem com o guarda de um trem e os passageiros do vagão. "Os Beatles também eram proletários", rebate um dos punks quando é chamado de servo dos ocidentais.
Estreantes
Também na competição, "Yomeddine" estreou sob aplausos da imprensa em torno da história de um homem recém-curado da hanseníase que cai nas estradas do Egito com um órfão negro chamado Obama.
O fato de ter chegado ao Festival de Cannes é um feito e tanto para o egípcio-austríaco A.B. Shawky, 32, iniciante que diz ter penado para financiar a obra e, depois de pronta, ter ouvido não de festivais estrangeiros.
O filme faz referências óbvias a "O Homem Elefante" (1980) e "Os M onstros" (1932) para descrever a sucessão de humilhações do protagonista, Beshay, vivido na tela por um ator não profissional que também se curou da hanseníase.
Com os dedos atrofiados e o nariz deformado, o sujeito deixa para trás o leprosário em que passou a vida inteira e é acolhido por toda a sorte de deslocados.
Fora da seção competitiva, o drama de família "Wildlife" abriu a mostra paralela Semana da Crítica. A obra é a estreia na direção do ator americano Paul Dano, 33, de "Sangue Negro" e "Pequena Miss Sunshine".
Ele escalou Jake Gyllenhaal e Carey Mulligan para viver um casal em crise numa cidadezinha remota no estado de Montana. Tudo é visto sob o ponto de vista do filho de 14 anos deles, vivido pelo ator australiano Ed Ozenbould, que em físico e estilo de atuação lembra muito o próprio Dano.Com informações da Folhapress.