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Com o aumento do dólar, o Banco Central da Argentina (BCRA) elevou, por três vezes em uma semana, a taxa de juros até 40% ao ano, desencadeando uma série de reações no país. Os argentinos vivem momentos de apreensão, pois com a economia atrelada ao dólar, a tendência é de disparada de preços, perda do poder de compra e especulações.
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Ao mesmo tempo, o governo de Mauricio Macri busca apoio internacional para conter as dificuldades internas e aprovar a reforma trabalhista, adiada desde o começo do ano. Apesar das semelhanças com o Brasil, a Argentina tem uma inflação elevadíssima, que varia entre 20% e 24% ao ano, perdendo apenas para a Venezuela na América Latina.
O clima de incerteza domina os principais setores do país. As centrais sindicais convocaram para o próximo dia 28 o início de uma temporada de mobilizações denominada “Plano de Luta”, na tentativa de resistir a eventuais reajustes de tarifas dos setores de públicos, como energia elétrica, água e gás. Paralelamente, atuam ao lado de organizações sociais em favor de uma proposta da oposição que limita os aumentos das tarifas.
Funcionário de uma empresa de segurança há cinco anos, Carlos Ernesto Calabrese, de 43 anos, é o exemplo do que vive o trabalhador assalariado argentino. “Comecei ganhando 6 mil pesos e o dinheiro alcançava ate o fim do mês”, conta. “Hoje ganho 15 mil pesos, quase três vezes mais, e não alcança. Os preços aumentam muito mais do que o salario”, disse.
Dólar dispara e preços dos alimentos sobem
Nesta sexta-feira (11), o dólar bateu novo recorde no país e superou os 24 pesos. Na Argentina, qualquer aumento no valor do dólar costuma ter impacto sobre a inflação, que continua alta (cerca de 25% ao ano).
As emissoras de televisão e rádio acompanham passo a passo o comportamento da moeda norte-americana. A alta ocorre às vésperas de uma ação que o governo terá de promover, no dia 15, frente a um vencimento de 600 bilhões de pesos em Letras do Banco Central (Lebac).
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A disparada do dólar, que começou na semana passada, foi acompanhada pelo aumento do preço da alface, do espinafre e da rúcula, cujos preços duplicaram. “Parece que tudo que é verde aqui está aumentando”, queixou-se Cristian Ortiz, comerciante de frutas e verduras. “Até a semana passada, eu vendia dois abacates por 50 pesos. Hoje somente um vale 55 pesos”, disse.
Os aumentos dos produtos “verdes” foram atribuídos, em parte, às fortes chuvas. Mas a organização Consumidores Libres, liderada por Hector Polino, registrou aumentos nos preços de vários tipos de farinha e azeites nos supermercados. “O problema é que quando o dólar sobre, os empresários repassam os aumentos aos produtos”, disse Polino.
Independentemente das negociações, o porteiro Carlos Dominguez, de 53 anos, acompanha as articulações como a maior parte da sociedade argentina: observando a alta do dólar e o aumento dos preços dos alimentos. “Por experiência própria, só sei que cada vez que o dólar aumenta, os preços sobem”, disse o porteiro.
À Agência Brasil, o analista político Rosendo Fraga disse que a compreensão dos argentinos com o governo de Macri está chegando ao fim. “Os eleitores entenderam que Macri herdou uma situação difícil, mas politicamente esse argumento tem data de vencimento. Só vale durante os primeiros dois anos de mandato”, afirmou. “Agora os argentinos estão cobrando resultados do presidente, que prometeu e não conseguiu reduzir a inflação”, afirmou.
Herança
O economista Gaston Rossi faz uma análise sobre a complexidade econômica encontrada por Macri ao assumir o governo há quase três anos. “Macri herdou uma situação complicada: tarifas defasadas, que desestimulavam o crescimento; um nível de reservas baixo; uma inflação anual de dois dígitos. Um país sem acesso a créditos estrangeiros, desde a moratória de 2001, que não tinha terminado de ser renegociada”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Para o economista, o presidente argentino fez a opção de tomar decisões homeopáticas para tentar solucionar o caos. “Ele tinha que consertar esses desequilíbrios, mas não podia fazer tudo de uma só vez. Por isso optou pelo gradualismo”.
Sem maioria no Congresso, Macri conseguiu aprovar a reforma da Previdência a duras penas: a votação, em dezembro do ano passado, teve que ser adiada depois que confrontos entre manifestantes e a polícia resultaram em dezenas de feridos e detidos.
Determinado a aprovar a reforma trabalhista, o governo se viu obrigado a adiar as discussões. O presidente enfrenta a oposição dos sindicatos, que historicamente estão ligados ao Partido Justicialista (PJ) ou Peronista, dividido em grupos, um deles liderados pela senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), viúva do ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007).
Segundo o governo, o objetivo do governo é reduzir os custos para empregadores e formalizar a situação de trabalhadores não registrados. Com informações da Agência Brasil.