Macron faz reformas e ainda é popular, diz cientista político

Pascal Perrineau avalia popularidade do presidente, que voltou à casa dos 50%, bem acima da de seus dois antecessores no mesmo período do mandato

© Thilo Schmuelgen / Reuters

Mundo Entrevista 13/05/18 POR Folhapress

O jovem político que implodiu a paisagem política da França em 2017 não parou por ali. Um ano após tomar posse, o presidente Emmanuel Macron, 40, "está conseguindo vencer o desafio de ser simultaneamente um reformador e popular", diz Pascal Perrineau, 67, cientista político do Sciences Po de Paris.

PUB

Aprovado por 66% dos franceses quando assumiu a Presidência, Macron experimentou dias difíceis no fim do ano passado, chegando a 45%. Hoje, sua popularidade voltou à casa dos 50%, bem acima da de seus dois antecessores no mesmo período do mandato.

+ Polícia revela identidade do autor de ataque em Paris

Perrineau, que acompanha eleições na França desde 1974, afirma que, após "quebrar a esquerda" no pleito de 2017, quando o então governista Partido Socialista obteve 6% dos votos, Macron agora "quebra a direita" com suas reformas, notadamente a flexibilização das leis trabalhistas, mudanças na aposentadoria e nos subsídios ao setor ferroviário. Em São Paulo para uma palestra na Fundação FHC na quinta-feira (10), Perrineau conversou com a reportagem.

PERGUNTA - Um ano depois, qual o balanço do governo Macron?

PASCAL PERRINEAU - Por enquanto, e diferentemente dos dois antecessores, Nicolas Sarkozy e François Hollande, o saldo é positivo. O presidente perdeu muito menos em popularidade em um ano e, desde que colocou em prática a série de reformas, em setembro, sua popularidade se estabilizou e até melhorou um pouco. Ele está conseguindo vencer o desafio de ser simultaneamente um presidente reformador e popular. O que não quer dizer que não haja contestação social, porque a França não estava acostumada com tantas reformas em tão pouco tempo.

P - Macron ainda é uma força de centro?

PP - A principal força de Macron no início foi a de ter ocupado o centro que existia entre, de um lado, uma esquerda enfraquecida, e de outro, uma direita dividida. Num primeiro momento, ele quebrou o eleitorado da esquerda. E aos eleitores de centro ele conseguiu acrescentar os eleitores da esquerda moderada. Desde as reformas ele está quebrando o eleitorado da direita e acrescentando ao seu espectro os eleitores da direita moderada. Então, como ele diz, ele realmente é de direita e de esquerda.

P - A polarização esquerda/direita ainda se aplica ao mundo de hoje?

PP - Essa divisão muito antiga que surgiu na Revolução Francesa está em crise profunda. Claro que muitos franceses continuam a se sentir de direita ou esquerda, mas esses mesmos franceses compreendem que ela não é mais eficaz para compreender as grandes questões do mundo hoje: globalização, construção europeia, ambiente, questões culturais como bioética e fim da vida. Para essas questões, a sociedade francesa compreende que a clivagem não é mais esquerda/direita, mas uma entre, como eu chamo, sociedade aberta e recentralização nacional. Essa clivagem foi observada na eleição, sendo Marine Le Pen a candidata da recentralização nacional e Macron o da sociedade aberta.

P - Macron será bem-sucedido em seu desejo de 'refundar a Europa'?

PP - A vontade de Macron é de retransformar a Europa em sonho, em um projeto. Ele considera que se o euroceticismo continua a crescer, é reflexo do fato de a Europa ter se transformado numa questão puramente técnica. Mas para refundar a Europa ele precisa da Alemanha, que tem um modelo de liderança menos inovador e mais cansado que o francês. Portanto a ambição de ter essa Europa como o projeto de Macron encontra dificuldades.

P - Como o sr. explica a surpreendente química entre Macron e Trump?

PP - No plano diplomático Macron também é um homem do "ao mesmo tempo". Ele sabe que os EUA são uma grande potência e que sempre teve relações amigáveis e difíceis com a França. Então ele envia sinais de reconhecimento por meio de Trump aos EUA. Mas ao mesmo tempo mantém um discurso severo com relação às posições protecionistas de Trump. Ele faz o mesmo com Vladimir Putin. Ele o recebe no Palácio de Versalhes, mas diz que é escandalosa a atitude da Rússia em matéria de fake news.

P - O sr. faz paralelos entre o cenário político francês e o brasileiro, em especial a desilusão com os políticos e a indefinição que marca a eleição presidencial. Quem seria o Macron brasileiro?

PP - São os brasileiros que devem responder a essa pergunta. É preciso, entretanto, que seja uma pessoa relativamente jovem, que não pertença ao velho sistema de alianças partidárias, acima de qualquer suspeita de corrupção e que carregue em si uma inovação política e ideológica. Se existe no Brasil uma pessoa com essas quatro qualidades, ela deve ter chance. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Dinheiro Há 15 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

tech Aplicativo Há 15 Horas

WhatsApp abandona celulares Android antigos no dia 1 de janeiro

brasil Tragédia Há 9 Horas

Sobe para 14 o número desaparecidos após queda de ponte

mundo Estados Unidos Há 16 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Realeza britânica Há 8 Horas

Rei Chales III quebra tradição real com mensagem de Natal

fama Emergência Médica Há 16 Horas

Gusttavo Lima permanece internado e sem previsão de alta, diz assessoria

brasil Tragédia Há 16 Horas

Vereador gravou vídeo na ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira pouco antes de desabamento

fama Hollywood Há 11 Horas

Autora presta apoio a Blake Lively após atriz acusar Justin Baldoni de assédio

mundo Estados Unidos Há 11 Horas

Policial multa sem-abrigo que estava em trabalho de parto na rua nos EUA

brasil Tragédia Há 16 Horas

Mãe de dono da aeronave que caiu em Gramado morreu em acidente com avião da família há 14 anos