© Pilar Olivares/Reuters
Este está sendo o primeiro Dia das Mães dos últimos 38 anos que Marinete Silva passa sem a filha Marielle Franco, assassinada brutalmente em 14 de março deste ano, no Rio. Em entrevista ao O Globo, a matriarca, de 66 anos, lamentou os últimos dois meses sem a filha e os "requintes de crueldade" da ação.
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"Se fosse bala perdida... Não que tirasse minha dor, mas você não imagina o que representam esses quatro tiros na cara da minha filha... A nêga era muito linda. Eu só acreditei que mataram ela quando vi aquele mulherão no caixão. Que cena... ", relembra.
"Alguém arquitetou isso tudo, planejou, foi maquiavélico... É uma mente diabólica. Nenhum ser humano normal, a não ser tomado por uma 'coisa', é capaz de fazer isso. Minha filha não tinha uma arma, não tinha como se defender. Ela só tinha voz, a retórica dela. Estava pensando outro dia... O executor pode ter sido só pago, e talvez não conhecesse a história da minha filha, mas quem planejou a conhecia muito bem. Sabia até aonde ela podia chegar. Isso é que me deixa ainda mais triste. Quem planejou aquilo estava incomodado com tudo que Marielle podia fazer, não admitiu que uma preta daquela chegasse aonde ela estava, onde só tem homem branco, dentro de um sistema podre."
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Segundo Marinete, ela poderia estar ao lado da filha no carro que foi baleado e teve os seus dois integrantes mortos, Marielle e o motorista Anderson Pedro Gomes, de 39 anos. Ela conta que foi convidada pela vereadora a participar do evento na Casa das Pretas, de onde Marielle tinha acabado de partir quando foi baleada.
Advogada, Marinete diz que não parou de trabalhar e está resolvendo questões jurídicas relacionadas à morte da filha.
Quando questionada sobre o perdão às pessoas que espalharam boatos difamatórios em relação a Marielle, a mãe diz não desejar mal e lamenta que as pessoas usem uma tragédia para denegrir a imagem de alguém.
As pessoas não conseguiram e não vão conseguir matar minha filha uma segunda vez. Não me atinge, de coração. Teve muita gente irresponsável, que não tem compaixão e misericórdia com o outro. Falar mal da Marielle depois que ela morreu é muito fácil. Deus queira que não aconteça nada parecido na vida dessas pessoas. Eu não desejo nenhum mal nem à dona desembargadora nem à qualquer pessoa, pois usar uma tragédia para denegrir a imagem do outro já é muito deprimente..."
Marinete se refere à desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que fez um post no Facebook um dia após a morte da vereadora afirmando que ela estava “engajada com bandidos”, “foi eleita pelo Comando Vermelho” e “provou o remédio que receitava”.