© REUTERS/Stephane Mahe
GUILHERME GENESTRETI - Após ser ovacionado na sessão de estreia de "BlacKkKlansman" no Festival de Cannes, o diretor americano Spike Lee afirmou a jornalistas esperar que o filme sirva como um "alerta". E não economizou palavrões para se referir a Donald Trump, que ele não citou nominalmente em nenhum momento.
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O filme, inspirado num caso real, narra a história de um policial negro (John David Washington) que consegue se infiltrar nas entranhas da organização racista e nacionalista Ku Klux Klan, nos anos 1970.
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Em um final que provocou catarse nas sessões, Lee fecha a obra com imagens da marcha de supremacistas em Charlottesville, ocorrida no ano passado e inclui o discurso de Trump a respeito.
Na ocasião, o presidente disse que houve violência das duas partes e que tinha "algumas boas pessoas" também do lado dos que marcharam."Aquele filho da puta teve a chance de dizer coisas amorosas e denunciar a Ku Klux Klan e aqueles nazistas de merda, mas não fez", afirmou Lee, ouvido com um incomum silêncio na sala em que falou à imprensa.
Embora ambientado em outra época, o filme a todo momento traz menções a Trump, como se atribuindo a ele corresponsabilidade pelo ódio racial no país. Numa das cenas, o então líder da KKK, David Duke (Topher Grace) afirma que quer trazer a "grandeza de volta à América", parodiando o lema de campanha do republicano. Noutra, quem surge é Alec Baldwin, ator que também participa de um quadro do humorístico "Saturday Night Live" em que imita o presidente.
"A nossa preocupação número 1 era pegar essa história que se passa nos anos 1970 e conectar ao presente", disse o diretor. Ele afirma que pretende lançar o filme em agosto, na data que marca um ano da marcha em Charlottesville.
"Aquele foi um momento definidor na história americana." Maior cronista cinematográfico das questões raciais nos Estados Unidos, Lee também falou sobre a opção de incluir imagens do carro que avançou sobre os que se opunham à marcha e acabou matando a moradora local Heather Heyer -o filme é dedicado a ela.
"A mãe de Heather me ligou e disse: Spike, te dou permissão para incluir essa cena", contou o diretor. "Depois que ela disse isso, eu falei, foda-se todo mundo, vou incluir essa merda no filme." Segundo ele, "BlacKkKlansman" é um "alerta".
"A mentira está sendo alardeada como verdade. E nós estamos do lado certo da história com esse filme." Uma jornalista também questionou o diretor sobre o uso excessivo da palavra "nigger", forma pejorativa de se referir a negros. "As palavras podem conter ódio. E essa é a forma como a KKK se refere a nós. Queria que esse ódio fosse verbalizado." Com informações da Folhapres.