© REUTERS / Rafael Marchante (Foto de arquivo)
O clima caótico vivido pelo Sporting repercutiu no planeta na última terça-feira (15), quando cerca de 50 torcedores invadiram o centro de treinamento do clube e agrediram funcionários, jogadores e o técnico Jorge Jesus.
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No entanto, o ambiente tenso e hostil se apresenta há meses; mais precisamente desde abril, quando o presidente Bruno de Carvalho tornou pública a insatisfação com o elenco. O dirigente atacou, expôs atletas e, por fim, minimizou o caso de violência desta semana.
O mandatário do Sporting é um empresário que assumiu a presidência em 2013. Reeleito em 2017, o dirigente deixou aflorar o lado torcedor e perdeu o controle de elenco e comissão técnica.
Primeiro, concluiu que a imprensa era inimiga da instituição; o dirigente incentivou os torcedores a apenas acompanharem os veículos oficiais do clube. O fato de incentivar a censura da imprensa por parte dos "adeptos", no entanto, foi apenas o primeiro passo em que a emoção se sobrepôs à razão do presidente. Insatisfeito com a temporada do Sporting, Bruno de Carvalho começou a atacar os próprios funcionários do clube lisboeta; no caso, o técnico Jorge Jesus e os jogadores, que, obviamente, reagiram.
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O dirigente usou o Facebook, em uma atitude típica de torcedor comum, e a mídia institucional para atacar o elenco. No último domingo (13), depois da derrota para o Maritimo que tirou o Sporting da próxima edição da Liga dos Campeões da Europa, Bruno de Carvalho reclamou do dinheiro que o time perdeu ao não entrar na qualificação para o principal torneio europeu -seriam R$ 86 milhões para os cofres, caso o elenco alcançasse a fase de grupos.
"Lembrem-se que não gerimos só títulos, gerimos também orçamentos. Foi um rude golpe, mesmo rude, do que era o planejamento da próxima época (...) Como em qualquer empresa que se vê privada da possibilidade de atingir umas dezenas de milhares de euros. Gostava que não pesasse, mas pesa, claro", reclamou.
Esta declaração foi o estopim de frases anteriores que resultaram no rompimento de relações entre o presidente e os jogadores. Em 5 de abril, após derrota por 2 a 0 para o Atlético de Madri na Espanha, o dirigente usou o Facebook para criticar o time -mais do que isso, Bruno de Carvalho citou nominalmente Sebastián Coates, Jeremy Mathieu, Gelson Martins, Fábio Coentrão e Bas Dost.
O elenco se revoltou, obviamente, e usou outra rede social para repudiar as críticas individuais do presidente. Bruno de Carvalho, que não recebeu os atletas no dia seguinte aos ataques para conversar, voltou ao Facebook para desencadear uma crise ainda maior: anunciou a suspensão de 19 jogadores.
"Já estou farto de atitudes de meninos mimados que não respeitam nada nem ninguém. Estas crianças mimadas julgam que vão longe, mas desta vez minha paciência se esgotou para quem acha que está acima do clube e de qualquer crítica", escreveu, na mensagem em que afastou atletas do grupo.
A péssima imagem dentro do elenco se estendeu para fora do clube. Segundo apurou a reportagem com pessoas ligadas a membros do elenco, agentes possuem péssima relação com Bruno de Carvalho.
O técnico Jorge Jesus, agredido nesta terça, sequer conversa com o mandatário por culpa da péssima relação do dirigente com o empresário do treinador.
Aliás, a relação com Jorge Jesus piorou depois que o pai do presidente também usou o Facebook para criticar a postura do treinador, que iniciava conversas para aumentar o salário a partir da próxima temporada, tendo em vista a possibilidade de a equipe se classificar para a Liga dos Campeões.
A exposição do elenco e o discurso agressivo começaram a incomodar o torcedor. Bruno de Carvalho decidiu assistir do banco de reservas uma partida recente do Sporting -obviamente, a reação de jogadores e comissão técnica foi de incômodo. A torcida, diante da situação inusitada, vaiou o próprio presidente.
A relação já insustentável quebrou definitivamente na terça, quando 50 torcedores encapuzados invadiram o centro de treinamento e agrediram jogadores. Os atletas, segundo pessoas próximas, deixaram o vestiário após o ataque dos torcedores assim que Bruno de Carvalho chegou ao local. Não há mais qualquer clima profissional entre as duas partes.
A maioria dos atletas presentes no momento do ataque estuda como pedir a rescisão imediata do contrato. Querem deixar Lisboa e sequer defender o Sporting na final da Taça de Portugal, marcada para domingo (20). Bruno de Carvalho, mesmo diante da situação caótica, mantém a pose.
"Foi chato, mas amanhã é um novo dia e temos de perceber que o crime faz parte do dia-a-dia e tem de ser punido no local certo", minimizou o dirigente para a TV oficial do Sporting. Com informações da Folhapress.