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A fraqueza apontada pelo indicador de atividade econômica do Banco Central no primeiro trimestre fez analistas revisarem a projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro neste ano.
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A economia teve queda de 0,74% em março em relação a fevereiro, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (16).
No primeiro trimestre, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC) teve queda de 0,13% em relação ao último trimestre de 2017.
O BC também revisou para baixo o indicador de fevereiro, que antes mostrava uma alta de 0,09% ante janeiro e agora apresenta uma queda de 0,1% na mesma comparação.
Depois da divulgação dos dados, economistas soltaram relatórios e notas revisando as projeções para este ano. David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, informou que o banco reduziu de 3% para 2,1% a projeção para crescimento da economia brasileira neste ano. "A intensidade da recuperação tem decepcionado na margem", indicou, em nota.
André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, estima o PIB em 2% neste ano. "Temos assim um desafio grande na mão do governo uma vez que a atividade em queda pode, ato contínuo, derrubar mais uma vez a arrecadação", afirmou, em relatório.
Para ele, o dado reforça a percepção de que haverá um 13º corte na Selic, para 6,25% ao ano.
O Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima (associação das entidades de mercado) também revisou para baixo a projeção para o PIB neste ano. A estimativa caiu de 3% para 2,4%, na primeira sinalização de queda desde julho de 2017.
O comitê diz que a recuperação de setores mais sensíveis ao corte de juros, como produção de veículos, ocorre em contraponto ao fraco desempenho dos segmentos que dependem da renda da população, como serviços.
"O quadro está em linha ao baixo dinamismo do mercado de trabalho, refletido nas taxas de desemprego que continuam bastante elevadas", avalia, em nota. A maior cautela do consumidor, após três anos de recessão, também estaria contribuindo para a demora da recuperação da economia, na avaliação do comitê.
Em relatório, Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, comentou o desempenho do indicador no primeiro trimestre.
Segundo ele, dados recentes sugerem que os indicadores de sentimento em abril mostraram erosão da confiança do consumidor e de empresas. "Um mercado de trabalho mais fraco que o esperado e incertezas políticas antes das eleições gerais de outubro de 2018 deixaram os agentes domésticos levemente mais defensivos."
Ramos espera que a economia permaneça no caminho de um crescimento moderado, apoiada pela baixa inflação (que está impulsionando o ganho real de salários), por condições de crédito gradualmente menos estritas e exigentes e pela evolução na redução do endividamento de famílias. Também será beneficiada pelo aumento do investimento privado, seguindo a privatização de ativos federais e o programa de concessões públicas.
Ele reconhece, porém, que a economia ainda está operando com alto grau de folga na utilização de recursos, e destaca que o avanço na consolidação fiscal em níveis federais e estaduais permanece fundamental para ancorar o sentimento de mercado e apoiar melhorias adicionais no sentimento de negócios e consumidores
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco também comentou o dado fraco de atividade econômica medido pelo Banco Central.
"O resultado surpreendeu negativamente tanto as expectativas do mercado (-0,3%) como a nossa (-0,4%) e desacelerou em relação à queda de 0,10% observada no mês anterior", afirmou, em relatório.
Segundo o departamento, o resultado, somado a outros indicadores de atividade, indica uma retomada mais gradual da atividade econômica. A estimativa dos economistas é de crescimento de 0,3% do PIB no primeiro trimestre deste ano.
"Para os próximos trimestres entendemos que a recuperação econômica seguirá seu curso, especialmente diante do estímulo monetário atual mas existem dúvidas sobre a velocidade de retomada, que vem se mostrando menor do que a necessária para a concretização da nossa projeção de crescimento de 2,5%", afirmou, em relatório.
"De todo modo, as condições para o crescimento estão colocadas, especialmente quando levamos em conta a desalavancagem das famílias, os estoques mais ajustados e os efeitos defasados da política monetária."
Os economistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus também revisaram, na última segunda-feira, as projeções para o PIB deste ano.
Agora, esperam crescimento de 2,51% em 2018, ante projeção anterior de 2,7%. Quatro semanas atrás, a expectativa era de avanço de 2,76%. Com informações da Folhapress.