© Ivan Alvarado/Reuters
Os padres vítimas da rede de abusos do ex-pároco de El Bosque, no Chile, Fernando Karadima, disseram que é "um consolo muito grande" o convite do papa Francisco para visitar o Vaticano.
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Mas, em uma concorrida coletiva de imprensa em Santiago, os sacerdotes evitaram detalhar o tipo de relação que tiveram com Karadima.
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"É um consolo muito grande que o Papa veja a dor e a dificuldade que foi vivida durante um período", afirmou Eugenio de la Fuente, pároco de Quinta Normal.
"O convite é um consolo muito grande, e há uma sensação de esperança enorme porque nos dá também uma perspectiva de dizer: Que maravilha que nos convide para que possamos contar nossas percepções pessoais", acrescentou.
"E, a partir da experiência vivida, poder propor circunstâncias e soluções para sair desse grande problema estrutural de poder que permitiu esse tipo de coisa", concluiu.
Além de De la Fuente, os padres Alejandro Vial, Javier Barros, Sergio Cobo e o assessor canônico Francisco Javier Astaburuaga também se manifestaram. As outras quatro pessoas convidadas pelo Papa preferiram manter sua identidade em sigilo.
Alejandro Vial, da cidade de Puente Alto, apontou que seu desejo "de ir até o Papa e poder apresentar o caso a ele é para que se possa evitar a existência de novas vítimas de abusos".
"Queremos colaborar para que as vítimas não existam mais, e por isso estamos aqui. Isso nos custou, não é fácil, mas nosso desejo mais importante é que não sigam existindo vítimas de abusos", ressaltou.
Ao que De la Fuente acrescentou: "Queremos ser voz - não representante de todos -, mas a voz de uma estrutura que gera esse tipo de abuso, que não é próprio nem característico de uma igreja, muito menos da mensagem de Jesus".
O assessor canônico Astaburuaga disse à ANSA que o delicado momento pelo qual a instituição católica passa é de "dor, mas também de esperança".
"É necessário assumir os conflitos e a esperança, porque sempre que há uma situação difícil a vida renasce. Temos que morrer para ressuscitar, como Jesus. Quanto à fé neste duro momento, opino que seja sustentada com muita oração. Nas adversidades, devemos orar, e muito", declarou.
Assessor jurídico dos primeiros denunciantes de Karadima, Juan Carlos Cruz e James Hamilton, Astaburuaga insistiu que "todos os conflitos são uma oportunidade para progredir".
Imaginando a futura mudança na Igreja, comentou que "Deus nos surpreende de maneira inimaginável". "Nunca imaginei que conversaria com o Santo Padre".
Ele ainda reconheceu o impacto mundial e o escrutínio público. "Sabemos que é complexo, doloroso e difícil, mas temos a esperança que devemos solucionar a questão".
Diante da raiva gerada pelos pedidos de perdão dos bispos e pelo fato de novas denúncias terem surgido no dia seguinte, Astaburuaga expressou que esse sentimento é "muito legítimo". "E bendito seja Deus que seja expressado, porque isso nos faz livres e nos permite desabafar as dores que estão na alma", disse.
Para recuperar a confiança dos fiéis, sugeriu que os sacerdotes "fiquem próximos às pessoas, vivendo o que diz o Santo Padre sobre a 'cultura do encontro'". (ANSA)