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Como em outras ocasiões nas duas últimas décadas, os negociadores do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul voltaram nestes dias a demonstrar algum otimismo quanto ao trato.
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Circulam ao menos nos corredores da burocracia europeia, sede das principais instituições desse bloco econômico, as expectativas de que possa haver algum anúncio de um acordo político até o fim de junho, deixando os entraves mais técnicos para uma etapa seguinte.
Esse tipo de boa vontade não é raro. Em fevereiro, por exemplo, já se dizia que os anúncios eram iminentes -e eles nunca vieram de fato.
Mas essa nova data foi escolhida como meta tendo em conta uma série de circunstâncias políticas, inclusive as eleições brasileiras de outubro, com os receios de que o vencedor do pleito não seja um entusiasta do tratado comercial ou do multilateralismo.
A ideia de que Jair Bolsonaro (PSL) possa ser o próximo presidente é discutida em Bruxelas, e como um cenário pouco auspicioso.
Também se fala em junho porque diversos países europeus entram em férias durante os meses de julho e agosto e, a partir de setembro, o Parlamento Europeu para de receber novas medidas para serem votadas, já em preparação às eleições europeias de 2019.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul é negociado pela Comissão Europeia, o braço Executivo do bloco, mas precisa necessariamente ser aprovado pelos legisladores antes de valer. O texto também pode passar pelos Parlamentos nacionais dos 28 Estados-membros.
ATRASO
'Não é que as eleições comprometam o acordo, mas causam um atraso', o eurodeputado português Fernando Ruas disse a jornalistas durante uma visita ao Parlamento Europeu. Ele preside a delegação que trata de assuntos especificamente relacionados ao Brasil. Se não houver acordo até o fim de junho, afirmou, o calendário pode ser adiado pelas circunstâncias até ao menos 2020.
"É preocupante que haja toda essa demora em fecharmos o acordo", disse. "Entendo que o diabo esteja nos detalhes, como no ditado, mas já estamos negociando isso há 20 anos. Nós não podemos deixar um acordo tão fundamental eternamente preso aos detalhes."
Ruas é um dos legisladores mais insistentes na conclusão do trato, e chegou a sugerir no passado que o acordo de livre comércio fosse fechado diretamente entre a União Europeia e o Brasil, evitando as disputas multilaterais que envolvem os outros membros do Mercosul.
O acordo enfrenta há anos barreiras que por vezes parecem intransponíveis, como a resistência vinda dos agricultores franceses. Da última vez em que havia a chance de um anúncio de sucesso, eles protestaram nas ruas de Paris contra a carne brasileira, que enxergam como uma ameaça a seu setor.
Afirmam que a competição com o produto brasileiro -descrito como mais barato e menos regulado- seria prejudicial ao país. Há um posicionamento semelhante na Irlanda.
"A União Europeia tem a obrigação e o dever de zelar pelos interesses de seus agricultores", afirmou o eurodeputado português Ruas. "Mas não podemos deixar que um setor impeça um acordo."
Diplomatas europeus, porém, sinalizam que esperam que o Mercosul também ceda em alguns pontos. Pressionam o bloco sul-americano, por exemplo, para que abra o seu setor automotivo.
Uma das razões para o otimismo quanto à resolução dos impasses neste ano é que a União Europeia tem demonstrado um especial apetite por acordos comerciais. O Reino Unido vai deixar o bloco em 2019, no chamado "brexit", e os Estados Unidos têm privilegiado abordagens unilaterais no comércio.
O Mercosul tornou-se um escape. A União Europeia exportou em 2016 a esse bloco sul-americano bens equivalentes a Ç 43,2 bilhões (R$ 184 bilhões) e importou outros Ç 41,6 bilhões (R$ 175 bilhões) dali durante o mesmo período. Com informações da Folhapress.