Um dos mitos do câncer é 'pensar que se trata de uma única doença'

"Trata-se de um número grande de doenças, cerca de 300 ou 400, que têm uma característica comum: a reprodução celular descontrolada", disse o cientista Paul Nurse

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Lifestyle Oncologia 17/06/18 POR Lusa

O bioquímico britânico Paul Nurse, que recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2001, considerou que, na atualidade, um dos maiores mitos relacionados com o câncer "é pensar que se trata de uma única doença".

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"De fato, trata-se de um número grande de doenças, cerca de 300 ou 400, que têm uma característica comum: a reprodução celular descontrolada", disse o cientista à agência Lusa, a propósito de uma sessão sobre o ciclo do controlo celular, que aconteceu no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), em Portugal. 

Segundo o investigador inglês, que na década de 1970 descobriu como é controlado o ciclo celular em todos os organismos - através do estudo de células de levedura -, esse é um dos motivos pelos quais é "tão difícil tratar o câncer: existem muitas doenças diferentes no câncer".

A descoberta do controle do ciclo celular revolucionou o conhecimento sobre patologias onde esse ciclo é afetado, com grande impacto nas doenças em que ocorre proliferação descontrolada das células, como é o caso do câncer.

Outro dos mitos associados ao câncer prende-se com o fato de a doença ser causada "somente por fatores externos", referiu Paul Nurse, que em 2001 foi o agraciado com o prêmio da academia sueca, distinção partilhada com dois outros investigadores cujos contributos foram igualmente relevantes para o estudo do ciclo celular.

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"O câncer pode, de fato, ser causado por fatores externos. O mais óbvio: quem fumar tabaco tem mais probabilidade de desenvolver câncer de pulmão e quem tem pele clara e se expõe ao sol, sem proteção, tem mais probabilidade de ter câncer de pele", indicou o investigador, que foi diretor da Universidade Rockefeller, em Nova York.

Contudo, continuou, existem outros fatores que influenciam a doença, como a herança genética herdada dos pais.

Além disso, "de todas as vezes que uma célula se divide e se reproduz, ocorrem erros", o que vai decorrendo "ao longo da vida de todos os seres humanos", continuou o presidente da instituição acadêmica Royal Society entre 2010 e 2015.

"Consoante se vai envelhecendo, esses danos podem acumular, não havendo nada que se possa fazer acerca disso. Só o fato de estarmos vivos vai resultar em danos nos genes que podem provocar câncer e, quanto mais tempo vivemos, maior a probabilidade de ocorrerem incidentes", notou o investigador britânico, que trabalhou no Imperial Cancer Research Fund (atualmente Cancer Research UK), do qual se tornou diretor em 1996.

De acordo com Paul Nurse, apesar das melhorias conseguidas no tratamento do câncer, este nunca poderá ser erradicado, visto que, embora seja possível alterar os fatores externos que podem originar a doença, o mesmo não acontece com a herança genética recebida dos pais e com a divisão celular.

"O que estamos aprendendo é a controlar a divisão celular, principalmente através da manipulação do sistema imunológico", de forma "a se controlar uma parte do processo", reduzindo assim os riscos.

Com relação à prevenção, o "grande problema" identificado pelo cientista está no fato de, na comunidade científica, haver investigadores que utilizam somente a genética para estudar o câncer, enquanto outros estudam somente os fatores externos, quando, na realidade, "ambos são importantes e precisam de ser estudados juntos".

"Não é suficiente saber muito sobre os genes ou sobre os fatores externos que podem levar a doenças, o que é mesmo importante é estudá-los juntos", acrescentou.

Paul Nurse, que passou também pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, defende que a informação credível sobre o câncer provém de estudos epidemiológicos que envolvem "amostras significativas e controladas", a partir dos quais é possível conseguir "resultados e evidências sensíveis e criteriosas", sendo nesses que "as pessoas devem acreditar".

O cientista inglês foi responsável pela criação do Francis Crick Institute, do qual se tornou diretor em 2011, um centro de investigação sediado em Londres que junta várias instituições no mesmo espaço, à semelhança do que acontece no i3S.

Segundo Paul Nurse, através do trabalho desenvolvido no centro, os investigadores têm procurado "entender como a vida funciona e como usar essa informação e conhecimento para pensar de forma correta sobre as doenças e sobre como as controlar". Com informações da Lusa. 

 

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