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A preocupação com a formação do governo e a possibilidade de novas eleições na Itália, que passa por uma crise política, levaram os mercados a despencar no país nesta terça-feira (29). Carlo Cottarelli, ex-economista do FMI (Fundo Monetário Internacional), foi escolhido pelo presidente Sergio Mattarella para formar um governo de técnicos, temporário, depois que a tentativa dos dois partidos mais votados nas eleições de março fracassou.
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A Liga, de direita nacionalista, e o 5 Estrelas, de verve antissistema, queriam que o professor Paolo Savona fosse o próximo ministro da Economia. O nome de Savona, no entanto, incomodou Mattarella, por se tratar de uma figura extremamente crítica à moeda comum europeia, o euro. Por essa razão, o chefe de Estado não aceitou aquele gabinete. A decisão surpreendeu o país, no domingo.
A expectativa era de que Cottarelli submetesse uma lista de possíveis ministros ao presidente nesta terça, mas ele saiu da reunião com Mattarella sem falar com a imprensa depois de cerca de uma hora. Segundo o presidente, os dois se reuniriam novamente nesta quarta, já que Cottarelli precisava de mais tempo para propor nomes para o gabinete.
O fato de o gabinete não ter sido anunciado levou a preocupações de que um governo liderado por Cottarelli não vingue. A Liga e o 5 Estrelas prometeram não apoiar o voto de confiança no governo dele, o que obrigaria o país a fazer novas eleições nos próximos meses.
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O principal índice do mercado italiano caiu 2,7% e chegou ao menor nível desde julho de 2017, puxado pela queda das ações de bancos. Já os juros de referência, que indicam a percepção dos investidores sobre a segurança de investir no país, tiveram a maior alta diária em 26 anos.
O medo de aprofundamento da crise na Itália também atingiu outros mercados da Europa. O índice acionário pan-europeu Stoxx-600 caiu 1,4%; já as Bolsas de Madri e Lisboa recuaram 2,5% e 2,6%, respectivamente.
A Liga e o 5 Estrelas têm usado o fato de Mattarella ter recusado a proposta de gabinete dos partidos para reforçar o discurso de que Mattarella, representando a elite, impediu um governo eleito pelo povo de ser estabelecido. Analistas preveem que as siglas populistas podem, dessa forma, se fortalecer, e transformar as novas eleições em uma espécie de referendo sobre se a Itália deve continuar na zona do euro.
"A Itália vai ficar embrulhada em um período longo de negociações que terá tons intensos de antissistema e euroceticismo", disse Wolfgango Piccoli, analista político. O especialista diz que não acredita que nenhum dos dois partidos vai adotar uma plataforma clara defendendo a saída do euro, mas que os discursos serão mais hostis a Bruxelas.
A agência de classificação de risco Moody's disse que cortaria o "rating" (nota) da Itália -que hoje está em Baa2, dois níveis acima do chamado grau especulativo (a nota do Brasil é Ba2, três degraus abaixo da Itália)- se o próximo governo não apresentar um orçamento que reduza a dívida do país, hoje em 132% do Produto Interno Bruto. Com informações da Folhapress.