Ações da Petrobras caem e estatal perde R$ 40 bi em valor de mercado

Os papéis preferenciais (mais negociados) recuaram 14,86%, cotados a R$ 16,16

© Reuters / Paulo Whitaker

Economia prejuízo 01/06/18 POR Folhapress

As ações da Petrobras fecharam em queda de quase 15% na Bolsa brasileira nesta sexta-feira (1º), após o então presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciar pela manhã que entregou o cargo. Ivan Monteiro, diretor-executivo da área financeira e de relacionamento com investidores da estatal, foi indicado pelo conselho da petroleira para a presidência.

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Os papéis preferenciais (mais negociados) recuaram 14,86%, cotados a R$ 16,16. Os ordinários (com direito a voto) caíram 14,92%. As ADRs (recibos de ações negociadas nos Estados Unidos), perderam 14,59%, para US$ 10,13. Em um dia, a empresa perdeu R$ 40,3 bilhões em valor de mercado.

Desde que teve início a paralisação de caminhoneiros, em 21 de maio, perdeu R$ 126 bilhões. Agora, a Petrobras vale R$ 231 bilhões."Para se ter uma ideia de grandeza, o valor de mercado do banco Santander no Brasil é de aproximadamente R$ 125 bilhões", aponta Einar Rivero, da empresa de informações financeiras Economática.

Apesar de a Petrobras ter um peso de cerca de 12% do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, o indicador conseguiu subir 0,63% nesta sexta, para 77.239 pontos, segurado pelo bom humor no exterior. "A Bolsa poderia ter subido mais se a Petrobras não puxasse para baixo", avalia Vinicius Freitas, economista da Ativa Investimentos.As ações da Petrobras chegaram a abrir em alta na casa de 2%.

Por volta de 11h20, o mercado foi comunicado da renúncia de Parente, e os papéis entraram em leilão -as negociações ficam suspensas por atingirem oscilações máximas.A B3, dona da Bolsa, explica que este é um procedimento comum e previsto pela regulação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) quando um comunicado de empresa de capital aberto é publicado com o mercado em funcionamento.

Quando voltaram a serem negociados, os papéis da Petrobras reabriram caindo 14%, e chegaram a perder 20%."O mercado via com bons olhos a gestão de Pedro Parente, com um histórico de melhor governança e resultados operacionais e financeiros", aponta Freitas.

ESTRANHO

O mercado estranhou o anúncio da demissão de Parente com o pregão aberto: "A gestão dele foi marcada por colocar ordem na empresa e caprichar na comunicação com o mercado. Se a Bolsa fechasse às 18h, às 18h10 saía o balanço, quando era época de divulgação de resultados. E agora ele sai numa sexta-feira, emenda de feriado, com a Bolsa aberta?", reclamou um gestor de recursos.

Ele acredita que o "susto" com o pregão aberto também alimenta as perdas hoje, já que semana passada os papéis saíram da casa do R$ 26 para ao redor de R$ 19, com a expectativa de mudança na política de preços da empresa e a saída de Parente, o que acabou se confirmando. "Hoje as ações foram para a casa dos R$ 16, me parece exagerado", avalia.

Desde o início da paralisação dos caminhoneiros, há rumores no mercado de que Parente poderia renunciar, apesar dos esforços do governo e do próprio comando da Petrobras para garantir que não haveria interferência política nas decisões da estatal. Em teleconferência em inglês com investidores no dia 24, após anunciar que a Petrobras cortaria o preço do diesel em 10% por 15 dias, Parente afirmou que se o governo voltasse a controlar a política de preços da estatal, teria que encontrar "outra diretoria alinhada a essa decisão". 

"Foi um golpe muito forte, mas de certa forma não foi uma surpresa. Mas a saída dele é uma sinalização muito forte para o mercado de que talvez a Petrobras não consegui permanecer com sua política de preços atual", diz  Bruno Foresti, gerente de câmbio do banco OurinvestOs analistas destacaram a frase "não serei empecilho para que alternativas sejam discutidas" na carta de demissão de Parente. "As ações da Petrobras agora vão voltar a ser o que eram na época do governo do PT", afirmou um gestor, referindo-se aos tempos em que a empresa era utilizada para compor interesses do governo.

Em nota, a agência de classificação de risco Moody's disse que a saída de Parente é um sinal ruim."O pedido de demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras é negativo para o perfil de crédito da companhia. A saída de Parente pode indicar que a tendência de melhoras nas políticas financeiras da Petrobras está comprometida", disse Nymia Almeida, vice-presidente sênior da Moody's. Até o momento, no entanto, a queda das ações não aponta para problemas na estrutura de capital da estatal, ou seja, na relação de quanto ela vale, versus seu endividamento.

+ Petrobras: conselho escolhe Ivan Monteiro como presidente interino

"A desalavancagem deverá continuar, porém com velocidade menor, e os próximos 24 meses já estão equacionados", afirmou um analista. Para André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, a renúncia de Parente respinga não só nos papéis da Petrobras, mas também na imagem do governo. "A situação demonstra uma fragilidade gigantesca do governo. A impressão é que isso pode se reverter nas perspectivas das reformas. Não que a política de preços da Petrobras fosse uma reforma, mas ela estava dentro desse mesmo espírito", diz.

FUTURO

Depois da renúncia de Pedro Parente, a atenção do mercado agora é para eventuais mudanças no conselho da Petrobras e também para a escolha de quem assumirá a companhia interinamente.O conselho, em particular os integrantes independentes, era alinhado com Parente e eventuais substituições podem evidenciar o tamanho das mudanças pretendidas pelo governo na administração da empresa.

A "torcida" do mercado é para que a presidência fique com Ivan Monteiro, atual diretor financeiro, que assumiria a companhia nessa fase final do governo Temer. "De qualquer forma deve ser um mandato tampão, porque estamos em ano de eleições, falta pouco mais de metade do ano para acabar e não sabemos se o próximo governo vai manter a mesma presidência na estatal", diz Freitas.

Contribuíram também para segurar o Ibovespa a recuperação de ações que perderam nos últimos dias, como as do setor financeiro e de siderúrgicas, e a alta de 9,2% da BRF. O mercado especula que, com sua saída da Petrobras, Parente poderia ir para a gigante de alimentos. Ele assumiu recentemente o comando do conselho de administração da empresa no lugar do empresário Abilio Diniz "Isso é mais especulativo, não acredito que as coisas sejam rápidas assim, que amanhã ele estaria na BRF. O mercado começa a especular em cima disso e tenta ganhar sobre esse fato", diz Freitas.

CÂMBIO

O dólar, que já poderia ganhar força com os dados bons de emprego nos Estados Unidos, firmou em alta com investidores buscando proteção às quedas das ações da Petrobras. O dólar comercial fechou em alta de 0,82%, cotado a R$ 3,768. O dólar à vista subiu 0,79%, para R$ 3,7585. O crescimento do emprego nos EUA acelerou em maio e a taxa de desemprego caiu para uma mínima de 18 anos de 3,8%, apontando para um rápido aperto nas condições do mercado de trabalho, o que pode gerar preocupação com a inflação.

Foresti explica que a perspectiva de uma alta na inflação reforça a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos. "O resultado prático é um dólar mais apreciado globalmente", diz. A queda nas ações da Petrobras intensificou a tendência. Com Bolsa e dólar subindo na mesma sessão, fica o indicativo de que investidores não estão saindo do mercado acionário brasileiro, mas estão buscando proteção no câmbio.

"As ações despencaram, as negociações travaram e o dólar começou a subir com mais força, mesmo com o Banco Central colocando todo o seu estoque de swap", afirma Foresti. O Banco Central manteve sua atuação no mercado de câmbio e vendeu 15 mil novos contratos de swap cambial tradicional –equivalente à venda futura de dólares. Com informações da Folhapress.

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