© Denilson Cardoso / Divulgação
Entitulado "Lama", o novo espetáculo do Grupo Teatro Andante, de Belo Horizonte, não poderia ser apenas uma referência à tragédia de Mariana (MG), mas um relato documental e cronológico do rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015.
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Naquele dia, às 15h32, como enfatiza a peça, um mar de lama atingiu as comunidades rurais de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, matando 19 pessoas e deixando cerca de 350 famílias desabrigadas, antes de percorrer todo o rio Doce rumo ao oceano. A barragem era operada pela mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton —empresas que criaram a Fundação Renova para reparar danos sociais e ambientais.
A dimensão e a dificuldade (ou até impossibilidade) dessa reparação tornam-se evidentes em pouco mais de uma hora de apresentação. É uma visita aos atingidos e uma constatação do que foi perdido: a horta, a brincadeira na rua, a varanda, a vaca, a tranquilidade e tudo mais que não se pode mensurar.
O espectador vive o impacto e o peso da tragédia desde o minuto a minuto em que as pessoas fogem tentando salvar suas vidas até um futuro distante, numa crítica à reparação lenta e à resposta mecânica das mineradoras.
"É uma homenagem as pessoas que sofreram e que estão sofrendo. Usamos a linguagem artística para trazer à tona esse tema e mantê-lo vivo, manter a informação e a reflexão", diz a atriz Ângela Mourão.
Explorando o mote da memória a partir de contos contemporâneos de Marcelino Freire, o diretor Marcelo Bones chegou a Mariana e quis contrubuir para seu não esquecimento. O trabalho de pesquisa de um ano sobre a tragédia é exposto em vídeos, fotos, depoimentos, notícias, relatórios e pesquisas —flashes de realidade ou flertes a partir dela.
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"São junções das histórias dos atingidos e de todos nós", afirma a atriz Bruna Sobreira. A importância da mineração, a vida na roça, o café coado dizem respeito a Minas Gerais.
Ainda mais para os atores: Mourão tem bisavó nascida em Mariana, o pai de Sobreira também morou na cidade e Thiago Amador, o terceiro compomente da peça, não só viveu ali como seu pai trabalhou na mina de Alegria nos anos 1990, no mesmo complexo onde surgiria Fundão.
Poderia bastar, mas ele ainda descobriu, durante uma visita a Bento, que a tia nasceu na comunidade, mais precisamente em frente à igreja, e ali também morou mesmo depois de casada, antes de se mudar para Catas Altas (MG).
A informação veio dos próprios moradores de Bento, que conhecem uns aos outros, mas não se reconhecem na cidade, apartados dessa relação comunitária. A gaiola não é um elemento cenográfico, mas o termo que eles usam para definir a nova vida.
O objetivo do Grupo Teatro Andante é exibir o espetáculo para os maiores interessados, os atingidos, e buscam patrocínio para isso. A peça estreou em BH porque é financiada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
"Mais de dois anos depois, as incertezas são muitas e a reparação é pouca. Precisamos ajudar a fazer o grito da sirene avisando: estabeleçam uma mineração responsável", diz Mourão.
LAMA
Dias 8, 9 e 10 de junho - 20h - Teatro João Ceschiatti- Av. Afonso Pena, 1537 - Centro - Belo Horizonte
Dia 19 e 20 de junho - 10h - Zap 18 - R. João Donada, 18 - Santa Terezinha - Belo Horizonte
Com informações da Folhapress.