© Ricardo Moraes/Reuters
Era a tarde de uma quinta-feira quando o Logan branco foi parado pela polícia na rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro.
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No veículo, os agentes encontraram um arsenal de guerra: 19 fuzis, 41 pistolas, carregadores e grande quantidade de drogas que provavelmente seriam levados ao crime organizado carioca.
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Essa descoberta bem sucedida de armamento pesado, sem tiroteios nem mortes, que ocorreu em janeiro deste ano, é exceção no estado do Rio. E isso não mudou após a intervenção federal na segurança pública, decretada em fevereiro pelo presidente Michel Temer (MDB), que nomeou o general do Exército Walter Braga Netto para comandá-la.
Números do Instituto de Segurança Pública, ligado ao governo do Rio, mostram que a apreensão de fuzis, submetralhadoras e metralhadoras caiu nos três meses completos após o início da intervenção.
Foram 92 dessas armas retiradas de circulação de março a maio deste ano, ante 145 no mesmo período do ano passado - uma redução de 37%. Considerando todos os tipos de armas, também houve queda de 5% (de 2.343 para 2.229).
Mesmo considerando que 2017 foi um ano atípico, com mais apreensões do que a média, os números de 2018 se mantêm próximos aos de anos anteriores, indicando que a intervenção federal na segurança não teve impacto nessa atividade policial.
A média de 2007 a 2016 era de 91,7 armas pesadas apreendidas no mesmo período. Reduzir a quantidade de traficantes circulando armados pelas favelas é um dos objetivos a curto prazo da intervenção federal na segurança do Rio, segundo afirmou o interventor e general Walter Braga Netto em um evento na semana passada. "Temos que diminuir aquela ostensividade que estava existindo no Rio", afirmou ele na ocasião.
Os fuzis - que são de uso restrito das forças de segurança e chegam a custar R$ 50 mil no mercado clandestino - são considerados um dos pesadelos no estado.
Eles representavam 3,3% de todas as armas apreendidas no Rio em 2014, o que é bastante alto. Para se ter uma ideia, em São Paulo a taxa era de 0,8%, segundo o levantamento mais recente disponível, do Instituto Sou da Paz.
Para pesquisadores da área, a queda nas apreensões de armas pesadas é preocupante, ainda mais num contexto de recrudescimento da disputa entre facções e num momento em que se esperava mais investimentos na atividade.
"Quando foi nomeado um general do Exército, achamos que isso seria resolvido, mas não vemos a retirada de armas sendo priorizada. E o plano estratégico da intervenção não tem nada previsto para melhorar isso", afirmou Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz.
Pelo Estatuto do Desarmamento, o Exército é responsável por fiscalizar a produção e venda de armas de fogo no país. "Operações são importantes, mas descobrir onde essas armas estão sendo desviadas e fechar o foco do desvio é muito mais efetivo", afirma Langeani.
Na avaliação da pesquisadora Silvia Ramos, da Universidade Cândido Mendes, não é o que tem sido feito.
"Os fuzis estão sendo retirados das ruas ao custo de tiroteios e mortes, inclusive de policiais. Vale a pena?", questiona. "Contra as armas, precisamos de inteligência, e não de força cega", afirma.
Essa discussão ficou ainda mais acalorada nesta semana no Rio, após uma operação da Polícia Civil com apoio do Exército no complexo de favelas da Maré, na zona norte, na quarta-feira (20).
Realizada inicialmente para cumprir 23 mandados de prisão, a ação terminou com sete mortos - incluindo um garoto de 14 anos que caminhava para a escola -, nenhum preso e quatro fuzis e outros itens apreendidos.
O menino foi atingido pelas costas, em meio ao tiroteio entre policiais e criminosos. A família chegou a acusar agentes policiais pelo disparo que atingiu o adolescente.
Para ambos os especialistas, a solução passa por um recurso que o Rio de Janeiro já possui: a Desarme, delegacia especializada criada em abril de 2017 para reprimir o comércio de armas e munições.
A unidade foi um dos fatores que fez disparar as apreensões no ano passado, usando inteligência e integração com a PF (Polícia Federal) e países fornecedores de armas, como os Estados Unidos.
"Isso mostra que investimento em segurança pública com foco, metas e planejamento tem efeitos rápidos. A pergunta é: que prioridade a intervenção está dando para a Desarme?", afirma a pesquisadora Silvia Ramos.
A reportagem questionou os órgãos responsáveis pela intervenção federal sobre os investimentos feitos na delegacia, sobre o que tem sido feito para apreender armas e sobre as críticas ao pouco uso da inteligência.
O Gabinete de Intervenção Federal e o Comando Militar do Leste, porém, não responderam até a conclusão desta edição nem indicaram um porta-voz para comentar a queda nas apreensões. Com informações da Folhapress.