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Há algumas semanas, quando os números das pesquisas pareciam não se mover e uma vitória do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, 64, no próximo domingo (1) começou a se mostrar inevitável, uma guerra virtual de propaganda começou no México.
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As redes sociais e os spots oficiais e não oficiais de campanha (aqui não há horário eleitoral) foram ficando mais agressivos. De anônimos ou candidatos, criaram-se redes para distribuir vídeos, fazer ligações em massa e divulgar mensagens a favor e contra o esquerdista que tenta a eleição pela terceira vez e, na noite da última quinta (27), lotou o mítico estádio Azteca como se fosse noite de clássico ou final de Copa do Mundo.
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Toda a propaganda de campanha de López Obrador está ela mesma cheia de mensagens de medo: "há uma máfia neoliberal no poder", "a corrupção dos que vêm mandando no país é a causa da violência crescente" e "[o presidente Enrique] Peña Nieto está por trás de um regime cada vez mais autoritário que busca perpetuar esse status quo" são alguns de seus mantras.
Nisso se baseiam muitos de seus spots, seu jingle oficial e seu discurso de encerramento de campanha. A Folha indagou alguns de seus apoiadores na noite de quarta-feira (27).
"Voto nele porque precisamos de uma mudança radical, todos os políticos são iguais", disse o estudante Jaime Ortigoza. "Peña Nieto não olhou para o resto do país, só para os negócios e para os EUA, e agora os EUA não querem mais saber de nós", afirmou a professora Clara Irrázola.
"Os outros são tecnocratas que não sabem o que é o México, AMLO viajou para todos os cantos, conhece cada pedacinho do país", disse o comerciante Alejandro Arredondo, citando a sigla pela qual o candidato é conhecido.Os xingamentos a Peña Nieto eram constantes na multidão. "Vai ser um voto de castigo?", indaguei a um apoiador. "Mais que isso, queremos Peña Nieto num tribunal por crimes contra a humanidade, por Ayotzinapa [escola de origem de 43 estudantes desaparecidos em 2014, em ação que teria envolvido forças de segurança e traficantes] e todos os massacres em seu período."
O analista e político Jorge Castañeda, que está assessorando o segundo colocado, o centrista Ricardo Anaya, diz que os eleitores de AMLO "querem sangue".
Os que rejeitam a candidatura de AMLO, porém, têm respondido de forma também violenta. Há poucas semanas, viralizou nas redes sociais um vídeo publicado por um assessor do candidato governista José Antonio Meade, no qual um homem de idade tenta dirigir e a filha diz que ele já não pode fazer isso.
O homem insiste, mas dá mostras de que não conhece os carros modernos.A coordenadora de campanha de AMLO, Tatiana Clouthier, diz que há um movimento silencioso de forças que não querem que ele se eleja."Por exemplo, um dia a cidade amanheceu cheia de anúncios de um documentário sobre populismo da National Geographic, comandado por Álvaro Vargas Llosa [filho do Nobel de literatura e crítico feroz dos governos de esquerda da região]", disse ela.
"Para promovê-lo no México, foi usado um cartaz em que aparece AMLO em primeiro plano, e depois Hugo Chávez, Juan Domingo Perón e Luiz Inácio Lula da Silva. Pareceu-nos que houve manipulação intencional."
Já na propaganda oficial de Anaya, há um spot recente que pede o voto útil de indecisos e dos eleitores de Meade. A mensagem diz: "se você não quer que a economia se desestabilize e se percam empregos, vote no único que pode vencer AMLO".
Meade, por sua vez, usou em seus discursos o já tradicional slogan antiesquerdista latino-americano "não deixe que o país vire a Venezuela".
O jornal El Universal revelou, na semana passada, que uma empresa foi contratada por uma das campanhas (não foi revelada qual) para fazer telefonemas em massa com as mensagens "Se você não decidiu seu voto e simpatiza com López Obrador, saiba que ele pretende anistiar narcotraficantes" e "Você sabia que as críticas de López Obrador a grandes empresários põem em risco o investimento estrangeiro?".
Por ora, o setor empresarial está cauteloso, mas algumas corporações têm pedido a funcionários que "se informem bem sobre os candidatos para evitar que o México se desvie economicamente", como dito em um vídeo que circulou entre funcionários da rede El Palacio de Hierro.
Entre outras empresas que sugerem aos funcionários não votar em AMLO estão o Grupo México, que atua em mineração, transporte ferroviário e infraestrutura, o grupo de supermercados Chedraui e a aerolínea Aeroméxico.
Em discurso na quarta (27), o candidato disse que os empresários não devem temer que ele seja um "radical, pois radical vem de raiz, apenas". E que estará aberto ao diálogo com a iniciativa privada, desde que "fique claro que privilegiará os trabalhadores e a população mais pobre". O que isso significa gera muitas incertezas no país, dado que AMLO não detalhou seus planos para a economia. Com informações da Folhapress.