© Maxim Shemetov/Reuters
Além de serem vítimas de assédio por parte dos turistas durante a Copa do Mundo, as russas agora têm de encarar o machismo da imprensa local. O colunista Platon Besedin, do Moskovskiy Komsomolets - um dos maiores jornais do país - chamou as mulheres russas de putas e afirmou que o comportamento sexual das mulheres está envergonhando o país em artigo publicado no dia 27.
PUB
No texto intitulado "A hora das putas: as russas se envergonham e envergonham o país na Copa", o jornalista acusa as mulheres de se venderem ao se envolverem com os estrangeiros.
"Nas cidades onde têm a Copa do Mundo, muitas russas se comportam como prostitutas na frente dos estrangeiros. As mais espertas colocaram anúncios nos sites de relacionamento. Claro que muitas mulheres procuram estrangeiros por dinheiro, outras procuram o casamento. Mas tem mulheres que estão prontas para dormir com estrangeiros de forma gratuita só porque são estrangeiros. Podemos dizer que dá vergonha. Muitas mulheres nem conhecem o sentimento de vergonha. Muitas mulheres que correm atrás dos estrangeiros não têm vergonha, moral e valores. Nós criamos uma geração de putas prontas para abrir as pernas ao escutar algum sinal de idioma estrangeiro."
+ Naufrágio de balsa deixa 29 mortos e 41 desaparecidos na Indonésia
Ainda segundo Besedin, o autor diz que o Mundial tem sido importante para quebrar estereótipos, mas o que envolve as mulheres russas tem sido reforçado.
Hoje em dia, esse comportamento é cultivado e se vender não é vergonha. Vergonha é trabalhar como enfermeira simples no hospital e ganhar 9 mil rublos. As redes sociais têm muitos vídeos onde meninas jovens e não tão jovens se comportam como prostitutas com responsabilidade social baixa. O caso menos grave é o de um torcedor brasileiro que paga a uma menina num clube da cidade de Rostov por 5 minutos de esfrega-esfrega. Ou por exemplo aquele dos torcedores poloneses fazendo sexo oral em uma menina russa numa banca no centro da cidade, enquanto as pessoas que estão passando gritam 'que nojento' e outros riam. O mais horroroso nesse vídeo é o fato que a russa também está bebendo Coca-Cola e vodca."
Para o autor da coluna, o problema do país é querer imitar o Ocidente, além de ter homens "fracos e irresponsáveis".
Besedin diz acreditar que o "problema" tem solução: "Você vai dizer que existem alternativas. Eu tenho certeza que sim. Mas quem vai nos mostrar esses caminhos? Precisamos não apenas para a Copa, mas em geral. As putas estão em todos os lugares como baratas mortas que só consomem, comem e cagam. Pensando apenas em suas necessidades. O teto, o ponto mais alto dos sonhos dessas mulheres, é ter um apartamento em seu nome e todas as contas pagas por um homem branco e nobre".
O artigo viralizou nas redes sociais. Segundo o UOL, um grupo de mulheres escreveu uma petição exigindo um pedido de desculpas e reforçando que as russas são livres para terem o comportamento sexual que quiserem. O próprio jornal Moskovskiy Komsomolets publicou outros artigos criticando a coluna.
Ao ver a repercussão, Besedin publico um novo artigo no dia seguinte, no qual afirma ter sido mal interpertado. Segundo ele, o modelo atual de comportamento imposto ao público pela sociedade e pela mídia é o grande problema, não as mulheres em si.
“Eu vi muitos comentários de mulheres indignadas no meu artigo 'A geração das putas'. Ele supostamente degrada sua dignidade. Não, meu artigo não degrada sua dignidade, mas a imagem de uma mulher como uma prostituta, que é cultivada em nossa sociedade: de revistas de moda a talk shows populares. Pareça uma prostituta, seja sexy - venda-se para o sucesso”, escreveu.
Vocês insultaram a minha frase: 'Nós criamos uma geração de prostitutas'. Estou pronto para repeti-la novamente. Porque sim, é assim que elas foram criadas. A geração não está na idade, mas na perspectiva do mundo. Não é desde jovem que ensinamos às meninas o que chamamos timidamente de sexualidade? Nós ensinamos as garotas a parecerem sexy e dançarem sexualmente, porque elas precisarão disso na vida. As mães e os pais ensinam isso. Nós trouxemos uma geração de garotas que consideram o objetivo principal - o número máximo de inscritos no Instagram.”