© Reuters / Bobby Yip
"Totalmente inaceitável" foi como o governo da China qualificou as últimas tarifas dos Estados Unidos contra produtos do país, anunciadas nesta terça-feira (10) - no maior e mais agressivo movimento da guerra comercial entre as duas potências econômicas.
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"É um comportamento que está prejudicando a China, o mundo e a eles próprios", informou o governo chinês, em nota, prometendo "tomar as medidas necessárias".
Mas a anunciada retaliação ao que Pequim chamou de "irracional", e que ainda não foi detalhada, deverá ocorrer em etapas, segundo especialistas ouvidos pela reportagem -com estratégias que não se resumem a tarifas, e podem incluir manobras cambiais, retaliações burocráticas e até atração de empresas americanas para solo chinês.
"A China tem muito mais margem de manobra", comenta a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington. "Se o custo é escalar uma guerra comercial com os EUA, eles vão peitar e vão escalar."
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As novas sobretaxas da gestão de Donald Trump irão atingir US$ 200 bilhões (pouco mais de R$ 760 bilhões) em produtos chineses, ou quase metade das vendas anuais do país aos EUA.
É muito mais do que os US$ 50 bilhões que haviam sido taxados até aqui, majoritariamente em produtos industriais e de tecnologia, contra o suposto roubo de propriedade intelectual americana por estatais chinesas.
As medidas, somadas, devem ter um impacto, ainda que não decisivo, na economia chinesa: entre 0,2 e 0,5 ponto percentual sobre o crescimento do país, segundo o economista Brad Setser, pesquisador sênior do Council on Foreign Relations.
Trump afirma que quer reduzir o déficit comercial dos EUA com a China, uma particular obsessão do republicano, e reclama do que chama de práticas desleais do país asiático.
Sua estratégia era subir o tom e forçar o regime de Xi Jinping a negociar para aumentar as compras do país, assim como desmontar parte de sua estratégia industrial, o plano "Made in China 2025", que pretende tornar o país um líder tecnológico mundial.
Mas a China não tem baixado o tom, não abriu negociações e reclamou, nesta quarta (11), de uma postura "hegemônica" dos EUA.
A retaliação deve vir por etapas. Na prática, nem se quisesse, a China poderia responder às tarifas americanas num esquema "olho por olho": as compras do país não ultrapassam US$ 130 bilhões por ano em produtos americanos -bem abaixo dos US$ 200 bilhões afetados pela nova alíquota.
Por isso, uma das principais estratégias deve ser a depreciação do yuan, que faz os produtos chineses ficarem mais baratos e ganharem mercado pelo mundo.
"Se a moeda chinesa depreciar 1%, isso já mantém a balança comercial do país em equilíbrio, sem qualquer outra medida retaliatória", comentou o economista Joseph Gagnon, também do Peterson Institute.
"Em termos de câmbio, a bola está no campo da China", afirma Setser. Ele ressalta, porém, que é preciso equilíbrio, para evitar uma fuga de capitais estrangeiros do país.
Outra opção é retaliar empresas americanas que estejam operando na China, aumentando a fiscalização sobre as companhias ou impondo mais condições para que elas entrem no país.
Mas a brasileira De Bolle aposta em uma outra tática: a "estratégia Tesla".
No início desta semana, a companhia americana de carros elétricos, liderada por Elon Musk, anunciou uma nova fábrica em Xangai, sua primeira fora dos EUA.
Baixar as exigências e tornar a China mais atrativa para o capital americano, segundo De Bolle, pode ser "um golpe de misericórdia" em Trump, que tem pautado toda sua estratégia comercial em manter as indústrias no país, evitando o êxodo para o exterior. Com informações da Folhapress.