Não se sabe tamanho do PCC, diz novo chefe da Polícia Civil de SP

'Existem X elementos vinculados? Existem X torres? Existem X comandos? Não há essa dimensão', diz

© PCSP

Justiça entrevista 12/07/18 POR Folhapress

Anunciado no final de junho como novo delegado-geral de São Paulo, chefe máximo da Polícia Civil, Paulo Afonso Bicudo, 67, avalia que não é possível saber a real dimensão do PCC (Primeiro Comando da Capital), grupo criminoso acusado de ataques e que teve 75 supostos integrantes denunciados neste mês.

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"Existem X elementos vinculados? Existem X torres? Existem X comandos? Não há essa dimensão. O que há são combates isolados a grupos que atuam em determinadas regiões, em determinados momentos", afirma ele, há 42 anos na Polícia Civil. Para Bicudo, porém, a polícia tem conseguido enfraquecer a facção.

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Em entrevista nesta e na última semana, ele diz apoiar a ideia estudada pelo governador Márcio França (PSB) de transferir a Polícia Civil para a Secretaria da Justiça, separada da Secretaria da Segurança Pública e da Polícia Militar. Mas admite não haver certeza de que esse plano dará certo ou até mesmo se ele será implantado algum dia.

A nomeação de Bicudo ocorreu após França negociar a entrega do cargo de delegado-geral ao PP em troca do apoio à sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. O partido, porém, decidiu apoiar João Doria (PSDB) nas eleições ao governo, irritando França. Pergunta - O que o sr. acha da mudança da Polícia Civil para a pasta da Justiça?

Paulo Afonso Bicudo - A ideia do governador é saudável, é estimular a atuação das duas polícias. Imaginou-se, num primeiro momento, que pudesse ser feito por decreto. Depois, entendeu-se que deveria ser feito através de lei. Que é melhor, porque vai ser mais discutido. Tem um grupo de estudo que está se reunindo, que está fazendo os ajustes. E vai passar pelo crivo do Legislativo.

O que a população ganha?

- Uma atuação mais eficiente. O que o governador espera? Baixar índices [de criminalidade]. Qual é o discurso do governador? Que existem diferenças entre as duas instituições [PM e Polícia Civil]. Há um distanciamento. Então, nada melhor do que elas ficarem em secretarias diferentes para produzir melhor. É uma tentativa.

Há anos o governo diz que o melhor é o trabalho integrado das duas polícias. A mudança não é um retrocesso? A integração é interessante?

Lógico que é. Mas são atuações tão diversas. Os conflitos que às vezes surgem são por conta do relacionamento das duas instituições, por pertencerem, talvez, à mesma secretaria.

Mas na prática o que muda?

- Não sei. Está sendo estudado. Para administrar, também é preciso arriscar. É certeza que vai melhorar? Não. A gente não sabe. Quando você toma uma decisão... é o risco da decisão, da ousadia.

Como o sr. vê o fato de o cargo de delegado-geral ser colocado como moeda de troca em eventual apoio político nas eleições, como França vinha discutindo com o PP?

- Sou apolítico. Prefiro... não é que vou fugir da pergunta, mas nem vejo dessa forma. Posso falar da minha indicação: não teve nenhum movimento político, não falei com nenhum grupo. Não conheço nenhum deputado. Conheço um deputado de Jundiaí, mas com quem não falo há seis meses. Não pedi apoio de ninguém.

Já recebeu a visita de políticos após ser nomeado?

- Acabam canalizando, né? Não tem jeito. E eu atendo.

O que eles pedem?

- Pedem cargos, pedem trocas, pedem mudanças...

Atendeu a esses pedidos?

- Não.

Qual o principal defeito da Polícia Civil?

- Ela precisa atender bem a população, precisa melhorar. Sobre aquele contato do dia a dia, o cidadão precisa ser bem atendido. Sair com uma ideia de que se a polícia não vai resolver o problema, pelo menos vai tentar. Ser tratado de uma forma educada. Foi algo que eu sempre procurei fazer na minha vida.

Uma das grandes críticas que se faz à Polícia Civil de São Paulo é a corrupção.

É importante ter uma corregedoria que faça o seu papel com energia, procure expurgar os maus policiais, mas não precisa fazer disso uma bandeira. Não precisamos fazer um holofote. Não é esconder o fato, mas o holofote, que é feito às vezes por meio dos meios de comunicação, dá uma ideia de insegurança à população, o que não é bom. Hoje eu vejo a corregedoria como um órgão atuante, age, faz ações, prende policiais. Não de forma escondida, mas de forma discreta.

A corrupção é um problema grave na instituição?

- É um problema grave em todas as instituições, corrupção está em todo lugar.

Não consegue dizer se o grau de contaminação na Polícia Civil é pequeno, médio, grande?

- Não dá para saber.

E o PCC. Dá para saber o tamanho dessa facção criminosa? Já falaram que o grupo se resumia a 30 gatos pingados presos na penitenciária de Presidente Venceslau (interior de São Paulo), já falaram que estava falido. Afinal, como ele está hoje?

- Não há números. Existem, lógico, conhecimentos estratégicos que a própria administração da polícia não sabe. Eu não sei, exatamente, o que ocorre no dia a dia de uma investigação, nem o diretor sabe, nem o secretário da Segurança sabe, porque é uma coisa que está na essência da investigação, o fato de ela ser sigilosa. Não é desconfiança, mas a essência da investigação é o sigilo.

Mas não dá para dizer a dimensão da facção?

- Não dá para colocar esses números. Não tem esses números. Acho que ninguém tem, não existem. Existem X elementos hoje vinculados? Existem X torres? Existem X comandos? Não há essa dimensão. O que há, sim, são combates isolados a grupos que atuam em determinadas regiões, em determinados momentos.

Quando surge uma investigação, ela é imprevisível. Às vezes ela caminha para duas, três pessoas. Às vezes ela caminha para 50 ou 100 pessoas, como aconteceu em Araçatuba, que foram mais de 120 mandados entre buscas e apreensão e prisões temporárias. Com informações da Folhapress.

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