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Apesar da aparente descrença da sociedade com os partidos políticos em meio a escândalos de corrupção, um grupo considerável de pessoas entrou nas agremiações nos últimos quatro anos e podem ser opção na eleição deste ano.
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De acordo com dados da Justiça Eleitoral, entre 2014 e 2018, mais de 90 mil eleitores se filiaram na Grande São Paulo em alguma das 35 legendas existentes no país, com um aumento de 7%. O crescimento se refere as 39 cidades da região metropolitana da capital.
Só em São Paulo são 568 mil filiados a algum partido, ante 528 mil quatro anos atrás -um acréscimo de 40 mil. Na soma com os municípios vizinhos o total chega a 1,3 milhão de militantes, ante 1,2 mi no período eleitoral anterior. O aumento também é visto nacionalmente, onde houve um salto de 15 milhões para 16 mi filiados.
Os dados são de abril e foram levantados pela Agência Mural junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Este mês é o prazo final para filiação de políticos que queiram disputar a eleição deste ano.
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A sigla com mais membros na Grande São Paulo segue sendo o PT com 241 mil. No entanto, o partido cresceu apenas 0,08% no período em que perdeu prefeituras no chamado cinturão vermelho, além da capital. "Desde o começo do ano o partido tem tido acréscimo no número de filiados", afirmou o diretório estadual em nota.
Entre os principais partidos na região metropolitana, o MDB (223 mil) e o PTB (150 mil) aparecem na sequência, mas com crescimentos tímidos, de até 3%. Em quarto, com 102 mil filiados, está o PSDB, que teve uma alta de 18%, em meio às vitórias de João Doria em São Paulo e outros prefeitos tucanos no ABC e na região oeste da Grande São Paulo.
Os tucanos governam cidades como São Bernardo, Santo André, São Caetano, Barueri e Santana de Parnaíba. Para o cientista político Kleber Carrilho, a chegada do partido ao executivo municipal dessas cidades influenciou o cenário, assim como o de outras legendas.
"Isso faz com que muita gente busque a legenda para garantir cargos com os políticos. Infelizmente não tem a ver com conscientização ou uma questão ideológica", avaliou. "Só alguns partidos conseguem trabalhar com os eleitores de forma competente em termos ideológicos e trazê-los por causa disso".
Carrilho explica, ainda, que apesar das adesões, é preciso relativizar por conta das campanhas realizadas pelas siglas. "O aumento de filiados quer dizer que os partidos estiveram fazendo a campanha de filiação, não que os cidadãos foram atrás dos partidos. Existe campanha que tem a ver com assine essa ficha e ganhe alguma coisa, quase promocional", ressalta Carrilho.
OBJETIVOS
No contingente de novos militantes há quem entrou para disputar a eleição deste ano ou simplesmente por querer participar da política.
É o caso do estudante Rodrigo de Souza Silva, 19, morador da Brasilândia, zona norte da capital e que se filiou ao PSTU. "O que me levou a entrar no partido foi a proposta de uma nova sociedade", afirma. "Vejo na política partidária uma forma de se pensar algo diferente, uma proposta que geralmente não é colocada para as pessoas da periferia e fazê-las participar mais da ação política. Mas depende de cada partido", ressalta.
Além da capital, o município que teve o maior acréscimo de filiados é Guarulhos, onde mora o jornalista Wagner Pereira da Silva, 48, que ingressou no Avante, novo nome do antigo PT do B. "Resolvi buscar um partido com cara nova e com novos políticos", afirma.
O Avante também foi a sigla escolhida pela enfermeira guarulhense Margarida Gaberrão, 50. A falta de candidatos em que pudesse se identificar fez com que decidisse entrar na sigla, visando a disputa de 2020 para a Câmara Municipal. "Estou engatinhando ainda, mas estou próxima dos filiados e estou aprendendo tudo sobre o mundo da política. Quero tentar fazer algo para o meu bairro".
NOVAS SIGLAS
Os filiados entraram também em uma série de partidos novos que surgiram nos últimos anos como Pros, Patriota (ex-PEN), PMB, Rede Sustentabilidade e o Solidariedade. Este último saltou de 2,7 mil membros para 16 mil. Alguns vindos de outros partidos como o motorista Wagner Gomes, 53, que quer disputar a eleição deste ano. "Saí (do PT) porque as reformas políticas e a limpeza dos corruptos não foi feita na sigla".
Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, são 39 mil filiados, 4 mil a mais do que em 2014. O guarda civil municipal Oséias Francisco da Silva, 42, decidiu aderir a uma sigla para disputar o cargo de deputado federal.
Para ele, a escolha do partido foi muito difícil porque no Brasil as ideologias são confusas e sem fronteiras clara. "Há uma cultura política de aluguel partidário", diz.
Ele diz ter escolhido o Pros porque é um partido novo no cenário político e não está envolvido nos escândalos de corrupção. Também porque tem um programa que corresponde a algumas convicções políticas. "O partido defende como direito fundamental a pauta da segurança pública para a promoção da cidadania. Por ser saudável, a democracia precisa de renovação dos parlamentares", afirma. Com informações da Folhapress.