© Ibrahem Alomari/Reuters
Se a Rússia de Vladimir Putin usou a Copa como vitrine política num momento de isolamento internacional, há uma expectativa sobre o que vai acontecer na próxima sede do Mundial, o Qatar.
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Além de ter de lidar com acusações de que sua escolha como anfitrião foi comprada e de que usa trabalho desumano para erguer elefantes brancos no deserto, o pequeno emirado no Golfo Pérsico está imerso em uma enorme crise diplomática.
Em junho do ano passado, a Arábia Saudita rompeu laços diplomáticos e decretou boicote comercial com o vizinho, sendo acompanhada por outros 11 países -inclusive no entorno regional, como os Emirados Árabes Unidos.
O motivo alegado foi o apoio qatariano a organizações terroristas, em especial na guerra civil síria. Não só: Doha tem um escritório do Taleban afegão e laços conhecidos com diversos grupos jihadistas.
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A questão é que se há um lugar que fomenta ideologia extremista no mundo muçulmano é justamente a Arábia Saudita, berço do ramo wahhabista do sunismo.
E o Qatar sempre mordeu e assoprou na questão, tendo laços sólidos com os EUA, que mantêm no país sua maior base aérea no Oriente Médio.
A ambiguidade que irritou os sauditas é outra: a aproximação do emirado com o Irã, o maior rival geopolítico de Riad na disputa pelo posto de potência regional dominante.
É uma rivalidade também religiosa. A Arábia Saudita sedia as duas cidades mais sagradas do islamismo e se sente uma líder natural do ramo majoritário da crença, o sunismo.
Já Teerã é o centro mundial do xiismo, professado por cerca de 15% dos aderentes da fé muçulmana.
Além de discordâncias doutrinárias e sobre a linha de sucessão do profeta Maomé, o centro da disputa hoje é política.
Há outros focos de tensão. Quando houve a sequência de revoltas que derrubaram autocracias em 2011, a chamada Primavera Árabe, o Qatar deu apoio a grupos que tentaram fazer o mesmo no reino vizinho -sem sucesso.
A rede de TV Al Jazeera é a mais influente do mundo árabe, e tem sede em Doha. É vista como instrumento político do emirado pelos vizinhos.
Alguns países já reataram laços diplomáticos, mas o principal efeito do boicote ainda se faz sentir: o bloqueio aéreo, terrestre e naval dos vizinhos.
Com isso, uma das maiores empresas aéreas da região, a Qatar Airways, patrocinadora da Fifa, teve de redirecionar muitas de suas rotas -que passavam por espaço aéreo da Arábia Saudita, do Egito e dos Emirados Árabes, por exemplo.
O voo São Paulo-Doha chegou a ganhar uma escala, mas agora já é feito diretamente por uma rota tortuosa sobre o Mediterrâneo, Turquia e águas internacionais do Golfo Pérsico.
O jovem emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, 38, terá agora quatro anos para ver a crise resolvida ou usar a imensa riqueza baseada em petróleo e gás de seu país e bancar o espetáculo apesar dela. Com informações da Folhapress.