Censurar é absurdo, diz Daniela Mercury sobre peça com atriz trans

"Me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro", disse a cantora

© Divulgação

Cultura cantora 23/07/18 POR Folhapress

Após o Governo de Pernambuco cancelar a apresentação da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", no Festival de Inverno de Garanhuns,  a cantora Daniela Mercury reagiu, durante show no evento, neste fim de semana, ao que chamou de censura.

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"Me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro, que censurem uma exposição de arte de grandes artistas. É de uma petulância absurda."

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Logo quando subiu ao palco, a baiana dedicou o show à atriz transexual Renata Carvalho, que interpreta Jesus no espetáculo. Daniela contou que, antes da apresentação, falou com ela pelo telefone. "Arte é para incomodar, é para fazer pensar, é para refletir, para libertar a cabeça de merda".

Em seguida, a cantora disse sentir vergonha pelos políticos e afirmou ser absurdo censurar uma peça por convicções religiosas. "Então não me venham agora com ignorância querer conceituar o que é arte e o que não é. É ignorância absurda. O ministro [do STF aposentado] Carlos Ayres Brito disse que a gente estava na idade da mídia, mas parece que estamos na Idade Média. Censurar uma peça de teatro por convicções religiosas é um absurdo. Isso não pode ser permitido. A nossa Constituição não deixa isso. A nossa Constituição não é a bíblia", desabafou.

Antes de tocar um trecho da música "Bichos Escrotos", do Titãs, Daniela ressaltou que era uma desumanidade retirar o espetáculo da programação oficial. "Ela [Renata] é Jesus Cristo, sim. Eu estou aqui. Eu sou gay. Eu sou lésbica e daí?", questionou. 

Na sequência, a cantora tocou "Tempo Perdido", de Renato Russo. "Meu amigo Renato Russo era gay, muito bicha, muito veado sim."

Após pressão do prefeito de Garanhuns, Izaías Régis (PTB), e do bispo dom Paulo Jacson Nóbrega, o governo de Pernambuco resolveu cancelar a apresentação alegando não querer estimular a cultura do ódio e do preconceito. 

Em nota divulgada nesta segunda-feira (23), a Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) afirmaram que não censuraram a apresentação.

"Tampouco, a não inclusão da peça na programação oficial se deu por preconceito ou discriminação da parte do Governo, mas tão somente para garantir a realização do FIG e o próprio espaço que o festival fomenta de luta pela liberdade."

Na peça, a história de Jesus é recriada como uma transexual. O espetáculo vai ocorrer durante esta semana de forma independente. "Todos os ingressos já estão esgotados. Ainda não divulgamos o local e o horário por questões de segurança. Recebi ameaças e tudo já foi devidamente denunciado à Polícia Civil", diz Francisco Ludemir, um dos articuladores da apresentação. Com informações da Folhapress.

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