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A leitura de "Rio Sem Lei" (Geração Editorial), livro reportagem dos jornalistas Hudson Corrêa e Diana Brito, ajuda a entender um pouco melhor as engrenagens da criminalidade do Rio de Janeiro e por que parece inexistir plano de segurança capaz de conseguir enfrentá-la com algum sucesso -incluindo a intervenção federal atual no estado.
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É um quadro desalentador pintado com uma série de histórias verídicas narradas pela dupla nas quais policiais fluminenses -em especial da Polícia Militar- são coadjuvantes ou protagonistas de crimes que, por lógica, deveriam combater. De tráfico de drogas a homicídios.
É um cenário no qual criminosos conseguem impor medo e derrotar quem tenta enfrentar esse sistema, como fez a juíza estadual Patrícia Acioli, assassinada em 2011. A magistrada foi morta por policiais bandidos que, segundo os autores, são o elemento comum entre as organizações criminosas do Rio: "trabalhavam de segurança particular para os bicheiros; recebiam propina do tráfico de drogas, vendiam fuzis a bandidos e, com as narcomilícias, dominavam favelas para arrecadar dinheiro de moradores desprotegidos."
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Há uma ressalva. "Não significa que os 47 mil policiais militares do Rio formem uma quadrilha armada. A vida de PM honesto é muito difícil. Ele paga pela vida marginal dos colegas. Enfrentam hostilidades de moradores, principalmente nas favelas cariocas, e são caçados por criminosos."
Mas esse é o único refresco aos PMs que o livro dá."Rio Sem Lei" relata também barbaridades praticadas por traficantes, como um assassinato ordenado por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em telefonema interceptado pela polícia. Nos diálogos reproduzidos pelo livro, o traficante conversa com o responsável por uma sessão de tortura imposta a um rapaz que teria se envolvido com uma namorada de Beira-Mar. O telefonema termina com os disparos fatais, mas passa, primeiro, por duas orelhas, duas mãos e dois pés cortados da vítima enquanto ela pede desculpas pelo erro.
O livro fala também sobre o assassinato neste ano da vereadora Marielle Franco (PSOL), ainda que de forma mais modesta em comparação com o espaço dedicado ao caso da magistrada –compreensível, pois ainda não é possível dar todas as respostas sobre o crime de março passado.
Causa estranhamento, porém, a omissão deliberada de nomes de muitos personagens. "A editora e os autores concordaram em ocultar nomes ou trocá-los por fictícios para não colocar em risco a segurança de testemunhas e para preservar a intimidade de pessoas envolvidas."
É difícil encontrar lógica em se preservar o nome (ou a intimidade), por exemplo, de chefes do jogo do bicho mortos ou presos na guerra entre a máfias ou, até mesmo, o nome de um secretário da Segurança Púbica do Rio, como José Mariano Beltrame.
Rio Sem Lei - Como o Rio de Janeiro se transformou num estado sob o domínio de organizações criminosas, da barbárie e da corrupção política
Autores Hudson Corrêa e Diana Brito
Editora Geração Editorial.
R$ 54,90 (312 páginas)