Cientistas políticas debatem lulismo e eleições na FLIP

André Singer e Demétrio Magnoli trocaram réplicas e tréplicas sobre os governos petistas

© Reuters

Cultura análise 27/07/18 POR Folhapress

Quando a fanfarra de Paraty passou pela rua do Comércio na noite desta sexta-feira (27), os cientistas políticos André Singer e Demétrio Magnoli concordaram que seria melhor esperar a banda passar para retomarem a conversa.

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Foi um dos raros momentos em que os dois colunistas da Folha de S.Paulo estiveram integralmente do mesmo lado no debate sobre o lulismo e as eleições 2018, realizado na Casa Folha.

Na maior parte do tempo, os dois analistas trocaram réplicas e tréplicas sobre os governos petistas dos ex-presidentes Lula e Dilma, e o processo de impeachment desta última, em 2016.

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Para Singer, que foi secretário de Imprensa da Presidência entre 2003 e 2007, no primeiro governo Lula, o lulismo vive uma crise.

"O lulismo é uma política de conciliação mais que de confronto. Mas setores da classe média e alta passam a se opor muito radicalmente a que isso continue acontecendo. O lulismo provocou radicalização a despeito dele mesmo, tocou numa espécie de nervo da sociedade brasileira", disse Singer, que é autor de "Os Sentidos do Lulismo" e lança agora "O Lulismo em Crise", ambos pela Companhia das Letras.

Magnoli discordou e apontou como argumento o fato de que Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, mesmo preso em Curitiba após ser condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva na Operação Lava Jato e virtualmente impossibilitado de concorrer por ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

"O lulismo redefiniu a esquerda, a esquerda brasileira é mais lulista do que nunca", afirmou Magnoli, que citou que o candidato à Presidência do PSOL, Guilherme Boulos, é um lulista declarado.

Para Singer, houve uma mudança na estrutura de classes do país durante os governos do PT, devido às políticas como o Bolsa Família, ProUni e Farmácia Popular.

"Não foi só o Bolsa Família, que permitiu que pessoas não comiam passassem a comer. As pessoas dizem que é muito pouco, mas é pouco pra quem come. Pra que não come, é muito", afirmou, sob aplausos da maioria da plateia.

Magnoli reconheceu que houve avanços sociais nos governos do PT. "Mas a estrutura de classe no Brasil, não o nível de renda, é exatamente a mesma que existia antes de Lula subir a rampa do Planalto."

Apesar disso, Magnoli admitiu que partidos de oposição ao lulismo, como o PSDB, não conseguiram produzir uma narrativa política sobre o país.

"Lastimavelmente a única narrativa política oposta ao lulismo, que conta uma história inteira, é uma desastrosa, é a narrativa do Bolsonaro."

A definição do impeachment de Dilma como "golpe parlamentar" por Singer foi outro ponto que levou a discordâncias.

"Foi um golpe por dentro da Constituição, faltou provar que houve crime de responsabilidade, porque não houve", disse Singer.

Magnoli rebateu afirmando que "o golpe por dentro da Constituição é de acordo com as leis" e que isso só mostra que no Brasil "há independência de Poderes".

"Quem tem que achar se houve crime de responsabilidade não é um partido ou corrente política, quem tem que achar é o Congresso, com o controle do Supremo." Com informações da Folhapress. 

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