© Tânia Rêgo/Agência Brasil 
Bastante aplaudido em um auditório lotado, o matemático iraniano de origem curda Caucher Birkar, 40, recebeu neste sábado (4) sua nova medalha Fields, popularmente conhecida como o "Nobel da matemática". A cerimônia ocorreu no mesmo palco onde ele foi agraciado com a medalha original, furtada logo após a premiação.
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Na ocasião, também foram laureados o italiano Alessio Figalli, 34, o alemão Peter Scholze, 30, e o indiano Akshay Venkatesh, 36.
Birkar recebeu a nova distinção das mãos do presidente da União Internacional Matemática, Shigefumi Mori. De bom humor, o matemático agradeceu por estar no palco recebendo a medalha pela segunda vez em menos de uma semana. Ele minimizou o roubo dizendo que o mais importante era o prêmio, não o objeto, sobretudo diante de sua história de vida.
"Já aconteceram coisas tão difíceis na minha vida que, comparada a isso, o roubo da medalha foi quase uma piada", disse.
Caucher Birkar nasceu no Irã, na cidade curda de Marivan, bastante afetada pela guerra Irã-Iraque dos anos 1980, e estudou matemática na Universidade de Teerã antes de ir para o Reino Unido em 2000. Depois de um ano, ele recebeu o status de refugiado, tornou-se um cidadão britânico e começou seu doutorado no país, na Universidade de Nottingham.
No final de seu breve discurso ele agradeceu à recepção recebida no Brasil. "Encontrei aqui um ambiente muito amigável, e o que aconteceu não vai mudar em nada minha impressão."
O pesquisador é professor na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Sua área de pesquisa é geometria algébrica, que, grosso modo, estuda a interconexão entre a geometria e a teoria dos números.
A reparação a Birkar foi possível porque, além das quatro medalhas entregues na quarta, existe também uma extra, "virgem", na qual apenas foi necessário gravar o seu nome.
A medalha sobressalente fora cunhada junto com as que foram dadas aos vencedores, mas seria exposta na sede da União Internacional de Matemática, em Berlim.
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Forjadas em ouro 14 quilates, as medalhas são confeccionadas no Canadá e valem aproximadamente R$ 15 mil. Em um de seus lados está gravado o rosto de Arquimedes, um dos maiores matemáticos da história. Também há a inscrição em latim "Transire suum pectus mundoque potiri" -que significa "superar os limites da inteligência e conquistar o universo".
No verso da medalha, encontra-se a inscrição, também latina, "Congregati ex toto orbe mathematici ob scripta insignia tribuere". A expressão significa: "Reunidos, matemáticos de todo o mundo a concedem [a medalha] por escritos notáveis".
Após ter recebido o prêmio original, Birkar o guardou numa pasta. O furto ocorreu enquanto o matemático atendia a pedidos de fotos. A polícia do Rio identificou dois suspeitos de cometer o crime a partir de imagens das câmeras internas dos auditórios, mas até o momento ninguém foi preso.
A medalha Fields é um prêmio de características únicas. Entregue de quatro em quatro anos, contempla apenas matemáticos de até 40 anos. A cada edição, saem de duas a quatro medalhas para pesquisadores com feitos extraordinários na carreira. Até hoje, apenas 60 pesquisadores receberam a láurea, criada em 1936.
O brasileiro Artur Avila, vencedor em 2014, foi o primeiro latino-americano a receber a distinção máxima de sua disciplina.
O cheque que acompanha a Fields, contudo, é modesto, quando comparado com o do Nobel, que paga cerca de US$ 1,1 milhão (cerca de R$ 4 milhões). A medalha matemática rende 15 mil dólares canadenses (R$ 43 mil) aos seus laureados. Com informações da Folhapress.