'Movimento pró-aborto é mundial e não haverá retrocesso', diz ativista

María Virginia Godoy, 37, mais conhecida como Senhorita Bimbo, é uma das líderes do movimento feminista jovem que vem tomando as ruas de Buenos Aires

© Reuters / Martin Acosta

Mundo legalização 05/08/18 POR Folhapress

"O aborto saiu do armário", diz, sorrindo e com seu lenço verde -símbolo da campanha pela legalização do recurso- a atriz e comediante argentina María Virginia Godoy, 37, mais conhecida como Senhorita Bimbo.

PUB

Ela é uma das líderes do movimento feminista jovem que vem tomando as ruas de Buenos Aires para pressionar o Senado a aprovar o projeto de lei que já passou pela Câmara dos Deputados e que permite a interrupção da gravidez na Argentina até a 14ª semana de gestação.

Consciente de que, apesar do placar apertado, a vantagem é dos que se opõem à lei -32 a 28, com 11 indecisos, segundo levantamento da imprensa local-, Bimbo diz que a luta já está ganha, mesmo se o Senado barrar a legislação.

+ Durante discurso, Maduro é alvo de tentativa de atentado com drone

"Porque o que conquistamos foi muito e não há volta atrás, derrubamos estigmas, colocamos lado a lado gente que pensa diferente em outras áreas, mas que concorda nesse ponto, mulheres de distintas gerações", diz à reportagem, no estúdio onde grava seu programa de rádio.

"Se não ganharmos agora, quando se apresente outra vez o projeto no Congresso, e vamos lutar para que se apresente logo, haverá o dobro de gente nas ruas."

De fato, nesta semana, estão sendo organizados "pañuelazos" (ato com panos verdes) em Nova York, Barcelona e no interior da Argentina.

Filha da veterana cantora de tango Virginia Luque, Bimbo tem milhares de seguidores nas redes sociais e diz que foi por esse meio que as mulheres mais jovens se articularam.

"Há uma onda mundial, e isso não terá retrocesso. Posso ser uma cara conhecida adiante desse movimento, mas quem o protagoniza mesmo são as meninas mais jovens, que já estão crescendo com outra cabeça. Elas não carregaram a carga pesada de gerações anteriores e estão menos suscetíveis para aguentar coisas pelas quais nós e nossas mães passamos", diz.

Bimbo participou da vigília de 14 de junho, quando milhares de mulheres passaram a noite do lado de fora do Congresso enquanto se votava a lei na Câmara de Deputados.

"Até as 5h eu não achava que fosse passar. Quando me dei conta de que havíamos ganhado, foi uma emoção muito forte. Essa é a experiência política mais importante que vivi, porque senti o poder das ruas de verdade, o poder popular, concreto e transversal."

E acrescenta: "Sinto que, se pudéssemos transferir isso para outras áreas, seríamos uma sociedade melhor."

Para a atriz, a Argentina é um país ainda muito hipócrita. "No meio dos que são contra o aborto, por exemplo, há muitos que abortam. Assim como no meio dos que eram contra o casamento homossexual, havia muitos que levavam uma vida homossexual, mas a força do estigma social e a pressão da Igreja Católica, principalmente no interior do país, ainda contam muito."

Uma nova vigília se prepara para a noite de quarta (8) e a madrugada de quinta (9), quando o Senado votará, por fim, a lei. Apesar de ser antiaborto, o presidente Mauricio Macri vem afirmando que não usará seu poder de veto, caso a Casa aprove o projeto.

"Eu sei que o placar está desfavorável, mas vamos encher as ruas e fazer tanto barulho que, se a proposta perder, a frustração será imensa. Não sei se o que os senadores farão ao ver tanta gente decepcionada. Vamos lutar para não perder o capital político que construímos", afirma.

Para ela, o mais importante é que tanta gente hoje esteja debatendo "uma palavra que até então era proibida e que essa discussão tenha feito com que muita gente pudesse contar sua história pessoal, ou traumas com que se teve de conviver por muito tempo. Isso é uma vitória contundente, não somos as mesmas mulheres de antes".

No lenço verde que leva no pescoço, está escrito à mão a palavra misoprostol, nome do remédio abortivo usado em alguns países onde o recurso é legal, como no Uruguai.

"Se a lei não passar, vamos continuar com nosso trabalho de informar quem quer abortar clandestinamente para que o faça com segurança, vamos informar sobre o misoprostol e continuar apoiando as socorristas que ajudam essas mulheres."

Bimbo se preocupa apenas com o efeito que uma derrota pode ter para as meninas mais jovens. "Elas não devem se sentir derrotadas, porque foram muito importantes, tiraram o aborto do armário, se informaram, levaram a discussão para suas casas, destruíram um tabu. Vamos lutar para que não se sintam abatidas se perdermos agora, porque vamos ganhar depois."

Indagada sobre quem diz que o feminismo se tornou extremo e que chamam as militantes de feminazis, Bimbo se revolta. "Não há extremismo, não há feministas colocando bombas nem fazendo vítimas como a violência machista faz diariamente. Um rosto pintado e um grito de guerra são extremismo?", declarou.

"A única coisa que há do outro lado é o medo de perder privilégio. Não há interlocutores reais nesse debate, apenas gente que tem medo de mover-se de uma posição em que estava confortável para dar lugar a nossos direitos."

Desde adolescente, Bimbo é ativista e trabalhou na ONG Anistia Internacional antes de entrar para a vida artística. Começou com um programa chamado "Villa Cariño", em que se falava de relações héteros e homossexuais, poliamor, sair do armário e de feminismo. Depois veio a comédia e o stand up. Agora tem a agenda cheia de shows e sairá em turnê depois da votação.

LEI PELA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NA ARGENTINA

Qual é a proposta?

Legalizar a interrupção da gravidez em qualquer circunstância até a 14ª semana de gestação, com atendimento na rede pública; hoje só é permitido em caso de risco de morte da mãe e estupro.

Como foi a votação na Câmara?

Após uma sessão que atravessou a madrugada acompanhada de protestos, a legalização foi aprovada pelos deputados por 129 votos a favor, 125 contrários e uma abstenção

Como está a situação do placar no Senado?

No momento, a imprensa argentina estima vitória dos que se opõem à interrupção da gravidez; são 32 legisladores contra o aborto, 28 a favor e 11 indecisos

Como se posiciona o presidente Mauricio Macri?

Embora ele seja contrário ao aborto, considerou o debate um avanço da sociedade argentina e disse que não vetará a lei caso ela passe em votação no Congresso.

Que outras questões estão em jogo depois da votação?

O Congresso também terá que discutir temas como a objeção de consciência de médicos e clínicas, principalmente aqueles com orientação religiosa.

Há estrutura na rede de saúde argentina para o aborto?

Parte dos deputados e governadores de províncias do interior do país critica a medida por não haver condições de atender as candidatas ao aborto. Com informações da Folhapress. 

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Dinheiro Há 7 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

mundo Estados Unidos Há 7 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Patrick Swayze Há 21 Horas

Atriz relembra cena de sexo com Patrick Swayze: "Ele estava bêbado"

brasil Tragédia Há 8 Horas

Vereador gravou vídeo na ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira pouco antes de desabamento

fama Mal de parkinson Há 22 Horas

Famosos que sofrem da doença de Parkinson

fama Emergência Médica Há 8 Horas

Gusttavo Lima permanece internado e sem previsão de alta, diz assessoria

brasil Tragédia Há 7 Horas

Mãe de dono da aeronave que caiu em Gramado morreu em acidente com avião da família há 14 anos

tech Aplicativo Há 7 Horas

WhatsApp abandona celulares Android antigos no dia 1 de janeiro

fama Condenados Há 15 Horas

Famosos que estão na prisão (alguns em prisão perpétua)

justica Minas Gerais Há 7 Horas

Motociclista tenta fugir de blitz e leva paulada de policiais; vídeo