© Reprodução / Facebook
Após perícia no corpo da soldado Juliane dos Santos Duarte, 27, a cúpula da Polícia Militar de São Paulo avalia que ela deve ter permanecido por mais de 24 horas em poder de criminosos antes de ser assassinada com tiros na cabeça.
PUB
A policial, que desapareceu na favela de Paraisópolis na madrugada de quinta-feira (2), foi encontrada morta na noite desta segunda (6) dentro de um carro em Jurubatuba, na zona sul, a 8,5 km de distância.
A avaliação da PM tem como base os exames periciais realizados no corpo da vítima. Eles apontaram que a soldado morreu entre 24 horas e 48 horas antes da localização do corpo. Isso daria, de acordo com a polícia, entre sábado (4) e domingo (5).
Segundo testemunhas, a soldado foi levada por bandidos ainda com vida na madrugada de quinta de um bar da favela de Paraisópolis. Ela teria ficado na mão de criminosos até que seu destino fosse decidido.
+ Denúncias de violência contra a mulher chegam a 73 mil em 2018
A partir do resultado da perícia, a outra hipótese era de Juliane ter recebido os disparos e ficado agonizando no porta-malas do veículo por mais de um dia até morrer. Mas essa possibilidade é considerada muita remota porque, segundo policiais, além de tiros na virilha e na nádega, ela tinha também duas perfurações na cabeça, que seriam fatais.
Até agora, a polícia paulista prendeu um suspeito de participação direta no crime. As investigações sugerem a participação de ao menos mais três criminosos.
De acordo com policiais civis e militares, o único suspeito preso até agora sob suspeita de ter participado do assassinato é Everaldo Severino da Silva, 45, conhecido como "Sem Fronteira". Ele nega.
Everaldo seria integrante da facção criminosa PCC. Na região de Paraisópolis, teria a função de ordenar mortes, segundo informações da Polícia Civil.
Ainda segundo a polícia, dificilmente alguém mataria um policial na comunidade de Paraisópolis, conhecido reduto do PCC, sem uma ordem dos chefes da quadrilha da região. Isso porque a morte de um policial militar, sabidamente, provoca reações por parte dos colegas e, em caso de repercussão, da cúpula da corporação.
Isso explicaria, em tese, a razão por que a PM não foi morta em um primeiro momento. Os criminosos provavelmente consultaram instâncias superiores até decretarem a morte da policial.
Desde o final de semana, várias equipes da PM estão empenhadas em dar uma resposta ao caso, entre as quais o Comando de Operações Especiais, do Canil, do Grupamento Aéreo e das unidades de policiamento da região, bem como da Equipe de PM Vítima, da Corregedoria, em conjunto com a Polícia Civil.
Essas equipes, segundo o comando da PM, não têm prazo para deixarem o local.
A polícia avalia que, embora seja uma tragédia indiscutível, a PM morta não seguiu procedimentos de segurança orientados pela tropa. Um deles é se colocar "em ambiente vulnerável": uma favela com grande presença do crime organizado.
Além disso, após ingerir bebida alcoólica, a soldado teria sacado a arma para resolver um furto de celular embora estivesse sozinha em local sem apoio rápido.
Segundo testemunhas, após Juliane se identificar como policial nesse bar, frequentadores do espaço informaram aos bandidos da área de sua presença. Quatro deles teriam aparecido e levado a PM para local desconhecido, após ter dado um tiro na perna dela.
POLÍCIA NÃO ENTRA EM PARAISÓPOLIS
Em novembro do ano passado, a diretora do DHPP (Departamento de Homicídios), a delegada da Polícia Civil Elisabete Sato disse, durante evento em São Paulo, que a polícia enfrentava problemas ao entrar em favelas, incluindo Paraisópolis.
"Eu converso muito com nossos investigadores. E nossos investigadores me falaram na semana passada: 'Diretora, está difícil entrar em Paraisópolis [...] Nem a PM nem a Rota estão entrando lá'", disse.
Na época, o governo negou tal dificuldade e, em resposta à delegada, a PM fez operações naquele mesmo dia. O secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, também reagiu às afirmações da delegada. "A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldade em cumprir seu trabalho, seja em comunidades ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo." Ele citou operações e prisões recentes na favela de Paraisópolis. Com informações da Folhapress.