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Estudantes da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, registraram um boletim de ocorrência nessa terça-feira (7) contra outros dois alunos da instituição que teriam incitado estupro e compartilhado imagens íntimas de colegas em um grupo no WhatsApp. Além disso, segundo a denúncia, os acusados enviaram mensagens de cunho racista e homofóbico e expuseram cerca de 15 mulheres.
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Em prints compartilhados nas redes sociais, é possível ler mensagens como "Bora logo meter o estupro", seguido por risadas e uma resposta: "Estupro não. Sexo surpresa". "Tô querendo comprar um anão, acho que branco deve tá caro. Um negro deve ser mais barato", diz outra conversa.
Nos últimos dias, protestos foram realizados no campus, pedindo que eles sejam expulsos.
Uma das vítimas, que preferiu não se identificar, disse ao Globo, na manhã desta quarta-feira (8), que a incitação de estupro foi diretamente para ela e uma amiga.
"Conseguimos o histórico no domingo. Eu não conhecia ninguém, esse foi o maior susto. Eles faziam um ranking das meninas mais bonitas. A gente fez uma festa de São João e eles me viram lá, começaram a falar de mim, do meu corpo, coisas absurdas, como "essa é a bunda mais bonita da UFRA", coisas que nos deixam mal, não respeitam nossos corpos. Um deles falou "vamos fazer uma casinha, bora meter o estupro". Se eles me abordassem, eu não teria como escapar, então fiquei com muito medo. Comecei a tremer. Nunca passei por isso", relatou.
A jovem disse ainda que o registro se deu também por conta de comentários racistas no grupo.
"Não é a primeira vez que escutamos algo do gênero e sabemos que existe racismo, machismo em todo lugar. Uma das mensagens também dizia "porque é preto tem que morrer, tem que meter uma bala". Esse tipo de crime tem que ser levado à frente, porque se a gente não fizer (a denúncia), a polícia não pode fazer nada. A gente também vai no Ministério Público, em todos os órgãos que a gente puder. Essas coisas vão continuar a contecendo se a gente não fizer nada. Não se brinca com estupro, isso é uma coisa muito séria", afirmou.
Os estudantes da universidade ficaram indignados com o caso, que teve repercussão nas redes sociais. Cartazes com as frases mais marcantes foram espalhados nas paredes da universidade, expondo os seus autores.
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"Hoje (terça-feira), nós alunas da UFRA, fechamos a pista da universidade cobrando respostas e justiça em relação ao grupo machista, racista e homofóbico, mas muitos viram como bagunça e mimimi. Até quando meu Deus? Lutar hoje não tá fácil, mas continuo. LUTE COMO UMA MULHER!", escreveu uma usuária do Twitter.
"Criaram um grupo de machos na Ufra onde a grande maioria ali faz apologia ao estupro, racismo e machismo e compartilhamento de nudes onde eles classificam as moças de melhor a pior. Estão expondo todos. Acho pouco", escreveu outro internauta.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Pará, disse em nota que repudia "veementemente as ações de apologia a crimes previstos na legislação brasileira", mas que "não cabe a esta Universidade controlar os conteúdos exauridos por alunos em seus aparelhos telefônicos pessoais, mesmo não compactuando com tais conteúdos".
Leia abaixo a íntegra da nota da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA):
"A Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), por meio desta nota, repudia veementemente as ações de apologia a crimes previstos na legislação brasileira, feitas por meio de aplicativos de celular, pelos quais incorrem em comentários de cunho capcioso, ilegal e indignos à pessoa humana, além de apresentarem-se inadequados ao ambiente acadêmico. No entanto, não cabe a esta Universidade controlar os conteúdos exauridos por alunos em seus aparelhos telefônicos pessoais, mesmo não compactuando com tais conteúdos.
Adicionalmente, temos a informar que esta gestão da UFRA tem agido para prevenir e apurar infrações dessa natureza, prestando o devido apoio psicossocial aos alunos e realizando os encaminhamentos cabíveis".