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Sherlock Holmes e múmias egípcias milenares em um palácio centenário no Rio de Janeiro. Pelo menos na ficção esse encontro aconteceu. Em um dos capítulos do livro "O Xangô de Baker Street", o primeiro do apresentador e humorista Jô Soares, ele narra uma aventura em pleno Museu Nacional, que, na vida real, foi devastado em um incêndio na noite do último domingo (2).
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Na obra, classificada como romance histórico, o escritor traz dados reais sobre o museu antes de inserir personagens fictícios. Jô narra como o acervo de múmias egípcias, o maior da América Latina, foi construído. Os primeiros corpos, conta ele, chegaram com o antiquário italiano Nicolau Fiengo em 1826, e passaram na alfândega classificados como "peças de carne-seca".
As obras foram compradas por d. Pedro 1º e passaram a compor o acervo do museu, então chamado Museu Real (a instituição foi criada por d. João 6º em 1818), narra o livro.
A coleção de múmias cresceu, descreve Jô, após uma visita de d. Pedro 2º ao Egito, em 1876, quando ganhou do rei egípcio Ismail o corpo da sacerdotisa Sha-Amun-Em-Su, que viveu entre os séculos 9º a.C. e 8º a.C. -diz a lenda que mulheres menstruavam ao chegar perto da múmia.
"O Xangô de Baker Street" foi publicado em 1995 e se tornou um best-seller ao narrar uma aventura do detetive inglês Sherlock Holmes durante o segundo império no Brasil. Ao final do livro, estão listadas obras que serviram de embasamento histórico. A obra virou filme em 2001.
Leia trecho do livro:
"O salão egípcio do Museu Nacional e Imperial. Situado entre a rua da Constituição e a Conde D'Eu, em frente a Praça da Aclamação, o museu possuía uma importante coleção de múmias autênticas dos tempos dos faraós. As primeiras chegaram em 1826, com um antiquário italiano, Nicolau Fiengo, e os funcionários da alfândega, confusos diante daquele carregamento inusitado, não sabiam como identificar a preciosa bagagem. Primeiro, indignados, acharam que aquele acervo funéreo era uma falta de respeito às nossas autoridades aduaneiras, contudo, depois de muito confabularem e consultarem seus compêndios e alfarrábios, terminaram por permitir a entrada das múmias, classificando-as como "peças de carne-seca". Ao saber do ocorrido, D. Pedro I entusiasmou-se e comprou-as para o recém-fundado Museu Real. Mais tarde, o museu fora enriquecido por outra importante aquisição: em 76, depois de uma visita de Pedro II ao Egito, o rei Ismail presenteou-o com a tumba e o corpo da sacerdotisa Sha-Amun-Em-Su, do santuário do deus Amum. A sacerdotisa fora mumificada com os braços e pernas livres, um processo surgido nas últimas dinastias. Semelhantes a ela, havia somente três em todo o mundo. Para abrigá-la com maior destaque, fora construído, há poucos meses, uma espécie de relicário, contíguo à sala principal. Dizia a lenda que uma curiosa maldição acompanhava a múmia: senhoras sensíveis, mesmo fora do seu período, menstruavam ao se acercar da pequena Sha-Amun-Em-Su." Com informações da Folhapress.