© Leah Millis/Reuters
Enquanto a identidade do autor do artigo crítico a Trump publicado no jornal The New York Times nesta quarta-feira (5) continua um mistério, jornalistas e veículos de comunicação americanos especulam sobre quem seria esse alto funcionário que faz parte da "resistência silenciosa" dentro do governo.
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A rede CNN, em busca dos bastidores da história, conversou com Jim Dao, editor da página de opinião do NYT. O jornalista contou que a fonte secreta o procurou por meio de um intermediário "há muitos dias', sem especificar a data exata.
Em um podcast do NYT, Dao afirmou que trata-se de alguém "em quem confia e conhece bem". Segundo ele, pouquíssimas pessoas sabem da identidade do autor e que foram tomadas precauções para protegê-lo, mas sem mencionar quais.
Nas redes sociais, surgiram teorias sobre quem seriam os autores baseadas nas palavras usadas no texto, como relata o site Vox. O termo "lodestar" (estrela-guia) chegou a ser atribuído ao vice-presidente Mike Pence e "don't get me wrong" (não me entenda mal) à secretária de segurança nacional Kirstjen Nielsen. O secretário de Estado, Mike Pompeo, também seria um suspeito.
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Pence e Pompeo negaram ser os autores do texto anônimo nesta quinta-feira (6).
Para o Vox, o termo "autoridade sênior da administração Trump" é "elástico" e poderia se referir a tanto a alguém da Casa Branca quanto a um funcionário das agências federais.
A avaliação do site é de que o autor soa como um republicano tradicional, ao escrever sobre "mentes, mercados e pessoas livres" e falar sobre "desregulação, reforma tributária histórica e forças militares mais robustas" como conquistas dignas de orgulho.
A publicação do artigo gerou uma pequena crise ética no setor de notícias do New York Times, independente da página editorial. O site Politico relata que jornalistas do veículo têm dedicado esforços para descobrir a identidade da fonte. Alguns teriam se aborrecido com a situação.
"Então, basicamente, repórteres do Times devem agora tentar revelar a identidade de um autor que os colegas de opinião juraram proteger com o anonimato? Ou todo o jornal deve seguir a promessa de anonimato?", questionou a repórter investigativa Jodi Kanto. "Eu não acho, mas isso é fascinante."
Helene Cooper, que cobre o Pentágono, afirmou ao Politico que "ninguém esperava por isso" e que não ficou insatisfeita com a decisão.
O medo de que outras fontes deixassem de falar com o jornal por causa da decisão de buscar a fonte anônima também estaria assombrando os jornalistas.
Michael Schmidt, também do Times, escreveu em uma rede social que recebeu da mãe uma mensagem perguntando quem era o autor do texto. "Você pode me contar", teria dito ela.
O artigo publicado no NYT diz que há uma "resistência silenciosa" na administração formada por "pessoas que têm escolhido colocar o país em primeiro lugar" e que os americanos deveriam saber que, apesar de todo o caos, há "adultos na sala" que tentam fazer o certo.
O texto foi publicado poucos dias após o lançamento de "Fear", novo livro de Bob Woodward sobre os bastidores do governo Trump. O jornalista do The Washington Post, junto com Carl Bernstein, revelou o escândalo de Watergate que levou à renúncia do ex-presidente Richard Nixon nos anos 1970.
A obra de Woodward revela que aliados chegaram a esconder documentos do republicano para proteger a segurança nacional e a economia dos Estados Unidos. Uma carta que poderia retirar os Estados Unidos de um acordo comercial com a Coreia do Sul e outra sobre a saída do país do Nafta, por exemplo, foram retiradas de sua mesa, sem que percebesse, por assessores.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que "estão desapontados, mas não surpresos, que o jornal tenha escolhido publicar esse op-ed patético, imprudente e egoísta". Também afirmou que deveriam publicar um pedido de desculpas.
"O indivíduo por trás desse artigo escolheu enganar, em vez de apoiar, o presidente dos Estados Unidos devidamente eleito", afirmou Sanders. "Ele não está colocando o país em primeiro lugar, mas ele mesmo e seu ego na frente da vontade do povo americano. Esse covarde deveria fazer a coisa certa e renunciar." Com informações da Folhapress.