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Quem passa pela rua Santa Cruz, na Vila Mariana (zona sul), em São Paulo, pode não perceber que na altura do número 325 está o museu e o parque Casa Modernista, um raro exemplar de uma arquitetura que impactou a sociedade paulistana nos anos 1920. Mas o que se vê hoje é um imóvel malconservado, com pinturas e pisos desgastados pelo tempo, ferrugem nas janelas, algumas delas sem vidro, além de uma área anexa praticamente abandonada, com uma parte sem teto e cheia de folhagens.
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Para frequentadores, a situação da Casa Modernista lembra o descaso do poder público com o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que foi destruído pelo incêndio no domingo (2).
A casa é a primeira edificação modernista do país. A construção substitui os enfeites comuns nas casas do início do século 20 por formas geométricas definidas e paredes lisas. Foi projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik, onde morou com a mulher, Mina Klabin, até meados de 1970. Foi ela quem projetou o jardim, de 13 mil m², com plantas tropicais.
Atualmente, a casa está aberta à visitação e tem entrada gratuita. Mas o imóvel vazio e malconservado pouco lembra a sua época áurea do passado. No local não há extintores nem rota de fuga. Em um dos quartos do piso superior, as paredes estão com mofo que compromete a pintura.
Anexa ao imóvel principal, a antiga área de lazer da casa está sem teto. Perto da piscina, vazia, os antigos trocadores estão cheio de lixo e com as portas destruídas.
Ex-integrante do conselho gestor do parque, o aposentado João Luiz Corbelt, 70, lembra que o parque não é acessível e não tem bancos. "É um marco da arquitetura que está sendo destruído", disse.Frequentadores da Casa Modernista lamentaram a situação do patrimônio histórico, e lembraram que o mesmo abandono contribuiu para o incêndio e destruição do acervo do Museu Nacional.
A auxiliar de farmácia Mariciel Delgado, 53 anos, foi pela primeira vez à Casa Modernista nesta sexta (7). Sentada no chão do jardim, disse que se sentia triste pela falta de cuidado. "Se tivesse uma administração como vemos na Europa esse lugar não estaria descuidado", afirmou.
A terapeuta holística Denize Faria, 55, disse que a Casa Modernista é um dos santuários que o Brasil possui, mas que falta consciência da população para aproveitar. "É um santuário que está sendo desrespeitado.
"Morador da Vila Mariana, o cirurgião plástico Fabio Nogueira, 34, voltou ontem ao parque após muitos anos e disse que teve a sensação de que nada foi feito para conservar o local. "Está tudo abandonado, infelizmente", disse.
A Secretaria Municipal da Cultura, sob a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), disse, sem dar detalhes, que a administração do museu e do parque Casa Modernista está em "processo de transferência" para a Secretaria Estadual de Cultura, do governo Márcio França (PSB).
A gestão Covas, atual responsável pelo imóvel, não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem sobre o motivo de a Casa Modernista estar abandonada nem o que pretende fazer para recuperar o espaço. A Secretaria Estadual da Cultura disse que vai verificar se o pedido de transferência foi formalizado pela gestão Covas. Com informações da Folhapress.