Mais um militar é ferido em confronto no Rio

Quatro já morreram sob a intervenção federal

© Pixabay

Justiça Tiroteio 15/09/18 POR Folhapress

Um militar foi baleado durante uma operação no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, realizada neste sábado (15) pelo Comando Conjunto da intervenção federal na segurança pública. De acordo com o Exército, o disparo que o atingiu partiu de dentro de uma escola.

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Segundo o comando, os tiros foram disparados assim que os militares das Forças Armadas iniciaram o cerco à favela do Complexo do Alemão, por volta das 4h, como parte de uma megaoperação realizada na zona norte.

"Quando da posterior aproximação das Forças Armadas, um militar foi atingido por disparo de arma de fogo oriundo de uma escola pública (Ciep). A tropa foi alvejada pelos criminosos que ocupavam o CIEP e não revidou, dados a sensibilidade do local e o risco de danos colaterais. De imediato, o militar ferido foi evacuado para o Hospital Central do Exército, onde se encontra sob cuidados médicos", afirma nota do Comando Conjunto.

O nome do militar não foi divulgado. Segundo o Comando Conjunto, ele foi atingido no pescoço e tem quadro estável, sem risco de morte.

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De acordo com nota do Comando Conjunto, a operação começou às 1h com uma atuação preliminar da Polícia Militar no Complexo do Alemão. Ao chegar ao local, os agentes trocaram tiros com bandidos, segundo as Forças Armadas. Um morador foi ferido por estilhaços.

O Comando Conjunto também realizou operação no Complexo da Maré e no Jacarezinho. Foram mobilizados, de acordo com o Gabinete de Intervenção, 1.850 militares das Forças Armadas e 50 policiais militares.

"As ações destinam-se à verificação de denúncias de atividades criminosas, em particular as ligadas ao tráfico de drogas", informou o Gabinete de Intervenção.

Quatro militares já morreram em confrontos no Rio de Janeiro desde fevereiro, quando o presidente Michel Temer (MDB) decretou a intervenção federal na segurança pública do Estado com a justificativa de combater a escalada da violência.

No fim de agosto, o segundo-sargento do Exército Gilson Alberto de Souza Amaral, foi morto a tiros em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Uma semana antes, três militares (um cabo e dois soldados) morreram em uma operação das forças de segurança nos complexos de favela do Alemão e Penha, zona norte no Rio.

Em junho, um soldado morreu após um acidente de trânsito na Avenida Brasil. Eles se somam à estatística de 65 policiais militares mortos no Estado neste ano.

Em fevereiro, o general do Exército Walter Braga Netto foi nomeado interventor e assumiu controle das polícias, bombeiros e setor penitenciário do Rio.

Antes disso, desde julho de 2017, já havia presença de homens do Exército nas ruas do estado. Em meio à grave crise financeira e de segurança pública no Rio, foi decretada na época a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que dava aval à participação dos militares, embora as polícias ainda estivessem sob comando do governo estadual.

A intervenção foi decretada às pressas e sem um plano pronto logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres da capital foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.

Desde que chegaram ao Rio, os representantes do governo federal intensificaram as operações em favelas. Foram mais de 300 desde fevereiro, com aumento de 60% dos disparos e tiroteios registrados pela plataforma colaborativa Fogo Cruzado.

O orçamento do governo federal, de R$ 1,2 bilhão, tem sido usado majoritariamente na compra de materiais, mas nenhum centavo chegou a batalhões e delegacias. Na lista estão munições (1,1 milhão), armas (11 mil) e veículos (1.350), além de equipamentos para a polícia técnica e manutenção de blindados.

A maioria da população do Rio de Janeiro defende prorrogar a intervenção federal na segurança pública, prevista para acabar em 31 de dezembro deste ano.

Segundo pesquisa do Datafolha realizada no início de setembro, 72% dos moradores do Estado são a favor da continuidade da medida para além de seu prazo final. Dentre os entrevistados, 21% são contrários à prorrogação, 4% não sabiam e 4% eram indiferentes.

Em entrevista à Folha de S.Paulo em agosto, Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, afirmou que a intervenção deveria acabar no prazo inicialmente previsto, porque os responsáveis pela medida já demonstraram não querer a sua renovação.

GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

O apoio dos moradores do município do Rio de Janeiro à presença do Exército em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) vem caindo nos últimos meses, apesar de ainda ser majoritário, segundo outra pesquisa do Datafolha, divulgada em agosto.

O Exército está nas ruas da cidade desde julho de 2017, quando Temer decretou a operação de GLO. Já a intervenção foi decretada em fevereiro de 2018 e ocorre em paralelo.

O índice dos que são a favor da convocação dos militares diminuiu de 76%, em março de 2018, para 66% em agosto, enquanto aqueles que são contrários passaram de 20% para 27%.

Desde outubro de 2017, quando pesquisa do Datafolha fez essa pergunta pela primeira vez, a aprovação às Forças Armadas na capital fluminense já perdeu 17 pontos - naquele mês, eram 83% favoráveis ao emprego de militares para combater a violência no Rio.

ENTENDA O QUE É A INTERVENÇÃO FEDERAL

Afinal, o que é a intervenção federal?

É uma medida constitucional que permite que a União interfira nos estados em alguns casos. No Rio, ela foi decretada por Temer (MDB) em 16 de fevereiro para "pôr termo a grave comprometimento da ordem pública" e só vale para a segurança pública.

Na prática, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciário estão sob o comando federal, que nomeou interventor o general Walter Souza Braga Netto, do Exército. A medida é inédita no país e vale até 31 de dezembro.

Ela ocorre paralelamente a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada por Temer em julho de 2017, que dá poder de polícia às Forças Armadas no estado também até o fim do ano.

A intervenção era necessária?

Há controvérsias. Outros estados têm índices de criminalidade piores que os do Rio (em 11º lugar na taxa de mortes violentas em 2017) e não receberam ajuda federal, como Rio Grande do Norte e Acre, por exemplo.

Para o Observatório da Intervenção, grupo de pesquisadores da Universidade Cândido Mendes, a decisão teve forte cunho político e permitiu que Temer abandonasse a reforma da Previdência, já que é proibido mudar a Constituição diante de intervenções.

A medida também foi decretada (às pressas e sem um plano pronto) logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.

A intervenção tem sido transparente, como prometeu?

O gabinete de intervenção tem divulgado informações sobre parte de suas ações e começou a fazer reuniões semanais com a imprensa para explicar aspectos técnicos. Operações policiais, porém, continuam sem justificativas e balanços satisfatórios, e pedidos de informação frequentemente não são respondidos.

O interventor Braga Netto e o general nomeado para a pasta da Segurança Pública, Richard Nunes, também evitam a imprensa. À frente da Polícia Civil, eles não comentam crimes como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido em março e até hoje não esclarecido.

O que a intervenção promete até dezembro?

Em seu Plano Estratégico, divulgado quatro meses após o início da medida, cita cinco objetivos: 1. Diminuir os índices de criminalidade; 2. recuperar a capacidade operativa das polícias; 3. articular os diversos órgãos da segurança pública; 4. fortalecer o caráter técnico, e não político, desses órgãos; 5. melhorar a gestão do sistema prisional, com reestruturação.

Para isso, elenca, em 80 páginas, 66 metas e 70 ações, mas elas já estão em revisão novamente, e uma nova versão do documento deve ser divulgada em setembro.

Quanto dinheiro tem para isso?

O orçamento repassado pelo governo federal é de R$ 1,2 bilhão para investimentos, como aquisição de novos equipamentos. Salários de policiais e gastos com gasolina para viaturas, por exemplo, continuam sob responsabilidade do estado do Rio. Esses recursos não estavam previstos na Lei Orçamentária de 2018, por isso foram registrados como "crédito extraordinário". Com informações da Folhapress.

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