© Reuters / Andrew Kelly
Quando Usain Bolt anunciou que iria jogar futebol após se aposentar do atletismo, teve muita gente que não deu bola e até duvidou do jamaicano. Um ano depois do Mundial de Londres que marcou a despedida das pistas do homem mais rápido da história, ele cumpriu sua promessa e tem se aventurado nos gramados. Deixou de calçar as sapatilhas douradas para usar chuteiras 46. Se o desempenho pelo Central Coast Mariners é irrisório, uma coisa é certa: aos 32 anos, Bolt continua um showman. O holofote que atraiu ao desconhecido Campeonato Australiano, inclusive, pode elevar a disputa a um outro patamar no cenário mundial.
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Em entrevista ao Estado, o agora jogador de futebol revela que foi ninguém menos do que Pelé quem o encorajou a continuar no esporte depois da aposentadoria no atletismo. "Tenho muitos ídolos no futebol. Conheci o "Grande Pelé" e foi ele quem me incentivou", diz.
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Bolt sempre foi apaixonado por futebol. Sua ligação com a bola vem desde a infância, mas ele acabou optando pelas pistas ainda na escola por ser muito mais veloz do que os colegas de sala e pela óbvia tradição da Jamaica no atletismo.
"Sempre joguei futebol na infância e sabia que, uma vez que me aposentasse do atletismo, tentaria jogar. É isso que estou fazendo", disse ao Estado após sua estreia no campo.
Neste início de nova carreira, Bolt tem se dividido entre críticas e elogios. Os seus defensores o aplaudem não só pela velocidade, mas pela dedicação nos treinos. Foi o caso do alemão Mario Gotze, autor do gol do título mundial em 2014, que teve a companhia de Bolt em seu estágio no Borussia Dortmund, em março. "Tenho de admitir que esperava que ele fosse pior", afirmou o alemão semana passada. Já entre aqueles que o atacam, a queixa é que o jamaicano não tem talento algum para jogar futebol e resolveu mudar de esporte somente para atrair patrocinadores.
Se no auge da carreira Bolt passava ao público a imagem de marrento, agora parece mais comedido, sem autoelogios na hora de responder aos críticos. "Não sou de ouvir os detratores. Eu me concentro apenas em trabalhar duro, com dedicação, e em dar o meu melhor", disse. "A velocidade é o meu maior trunfo e espero conseguir colocar isso em prática."
Apesar de dizer que não dá ouvidos aos comentários negativos, as críticas parecem ser um combustível para ele. Não à toa, Bolt faz questão de lembrar dos ataques que sofreu no início da carreira no atletismo e, consequentemente, comparar aquele momento com a sua atual fase como jogador de futebol. "Foi-me dito que eu era muito alto para correr tão rápido. Gostaria que todos vissem que nunca devem pensar em limites, mas sim acreditar que tudo é possível."
Pelo Central Coast Mariners, Bolt fez até agora apenas um jogo. Foi no dia 31 de agosto, em amistoso diante de uma seleção amadora formada por atletas de Gosford, ao norte de Sydney. O seu time ganhou por 6 a 1 e ele atuou os últimos 20 minutos - quando o placar já estava 6 a 0.
Bolt jogou pelo lado esquerdo do ataque, pegou poucas vezes na bola, mas esteve perto de fazer um gol. Curiosamente, não teve velocidade para chegar a tempo de completar um cruzamento. Com o número 95 às costas, em alusão ao seu recorde mundial de 9s58 nos 100m, ele levou o público ao delírio. Aproximadamente dez mil pessoas estavam no estádio para acompanhar a partida, número quatro vezes maior do que a média de público do Mariners no campeonato local.
O carinho do público australiano também tem motivado o jamaicano a se dedicar ao futebol depois de um domínio absoluto e inédito nas provas de velocidade do atletismo, com oito medalhas de ouro em Jogos Olímpicos nos 100m, 200m e revezamento 4x100 m.
Nas pistas, na verdade, Bolt conquistou nove ouros, mas no ano passado a medalha do
revezamento 4 x 100m dos Jogos de Pequim foi retirada pelo Comitê Olímpico Internacional depois que o companheiro Nesta Carter foi pego em um exame antidoping analisado novamente em 2016.
Após quase um mês de treino diário no Mariners, Bolt ganhou folga e viajou semana passada para a França, onde participou de evento de um patrocinador. Ele retoma os trabalhos na Austrália com a mesma empolgação dos tempos em que corria pelas pistas de atletismo. "Fui abençoado com uma incrível carreira atlética e agora é muito bom poder perseguir meu sonho de ser jogador de futebol. Quando você tem um sonho e está disposto a trabalhar duro para isso, essa é a maior motivação que você precisa."
Hoje, o futebol não é uma diversão para Bolt. Ele tem levado a sério a empreitada, mas prefere não arriscar palpites quando questionado pelo Estado sobre como as pessoas, no futuro, lembrarão de sua passagem pelo futebol. "Gostaria de ser lembrado como alguém que desafiou os limites quando, muitas vezes, me foi dito que não podia alcançar meus objetivos." Com informações do Estadão Conteúdo.