Polônia vive onda de rejeição a refugiados na política e nas ruas

Em meio à consolidação do que pode ser descrito como uma guinada à direita ao longo dos últimos dois anos, os poloneses querem manter a política migratória

© Reuters

Mundo política migratória 21/09/18 POR Folhapress

MARCIN ZATYKA - O governo em Varsóvia será solidário à Hungria, cujo governo está suspenso de direito a voto na União Europeia por rejeitar imigrantes vindos da Ásia e da África -e violar o estado de direito.

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Em meio à consolidação do que pode ser descrito como uma guinada à direita ao longo dos últimos dois anos, os poloneses querem manter a mesma política migratória.

A Polônia, que se recusa a receber refugiados da guerra na Síria e migrantes de outras partes da Ásia e da África, já antes da chegada do partido conservador Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês) ao poder, se distanciava do sistema de quotas de refugiados imposto em 2015 pela UE.

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O governo anterior também tentou resistir à recepção de migrantes, tal como outros governos do Leste europeu, incluindo o húngaro.

Ainda assim, não faltam imigrantes na Polônia, especialmente após Moscou ocupar a Crimeia ucraniana, e apoiar as tropas pró-russas desde 2014 na guerra no leste da Ucrânia.

Estima-se que na Polônia, país com 38 milhões de habitantes, viva hoje 1 milhão de ucranianos -dos quais mais de 50 mil são fugitivos das zonas do conflito.

O governo de Varsóvia já pediu à UE o reconhecimento de ucranianos como refugiados de guerra, sem sucesso.Os ucranianos já são um elemento permanente na sociedade polonesa. Sua língua é ouvida tanto nas grandes cidades como na província. Eles estão quase em todo lado.

"Não me incomodam, embora ampliem as filas em bancos e escritórios devido ao seu fraco conhecimento da língua polonesa. Chegam aqui desprevenidos", reclama Janina Zielinska. A polonesa de 70 anos que vive em Varsóvia aponta os cartazes com ofertas de emprego em ucraniano que se multiplicam pelas ruas.

Após as saídas em massa de poloneses para países da Europa Ocidental, após a adesão da Polônia à UE em 2004, o mercado interno tornou-se aberto a trabalhadores estrangeiros.

Os ucranianos, alguns anos depois, tornaram-se algo apetecível para os empresários.

Há, contudo, obstáculos.

Hoje, eles não são muito mais baratos que a mão de obra polonesa. Krzysztof Ryszka, proprietário de uma mercearia de Varsóvia, afirma também que sua experiência indica uma alta rotatividade -os funcionários ucranianos que teve estavam sempre em busca de um emprego com salário maior.

Witold Gadowski, comentarista político de Cracóvia, avalia que a situação com os refugiados ucranianos escapou do governo de Varsóvia e está fora de controle. Ele aponta entre os recém-chegados integrantes de quadrilhas de tráfico de armas e membros de organizações radicais.

Devido ao crescente número de residentes estrangeiros, a questão da segurança ganhou importância no país.

Cidadãos de países muçulmanos passaram a ser alvo de preconceito. A opinião predominante é que entre os imigrantes podem estar terroristas sob o status de refugiados.

Atentados terroristas ocorridos na Bélgica e na França são constantemente evocados. No atentado a um mercado de Natal em Berlim em 2016, que matou 12 pessoas, um terrorista tunisiano usou um caminhão polonês -e matou seu motorista- para atropelar e matar as vítimas.

Segundo pesquisa do instituto de opinião pública CBOS, 72% de cidadãos da Polônia não os querem aceitar refugiados de campos da Grécia e da Itália, tal qual seu governo.

No entanto, segundo o mesmo estudo, 56% dos inquiridos aceitam refugiados da guerra na Ucrânia. Pesquisa recente do Centro Pew (EUA) mostrou que apenas 49% dos poloneses apoiavam o acolhimento a refugiados, número inferior à média europeia.

Paradoxalmente, os imigrantes muçulmanos da Ásia e da África também não são bem-vindos pelos seguidores poloneses do islã, os tártaros.

Nesta comunidade mais antiga de muçulmanos na Polônia, no país há mais de 600 anos, prevalece a opinião que os recém-chegados nunca serão assimilados no país.

"A maioria deles não é refugiado de guerra, são apenas migrantes econômicos. A experiência anterior mostra que eles não são assimilados, certamente não na primeira, nem na segunda geração", diz o muçulmano Selim Chazbijewicz, ex-líder da comunidade tártara polonesa.

A questão também tem criado uma polarização com a UE.

As acusações recentes do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a falta de solidariedade na aceitação de migrantes por parte da Varsóvia e suas ameaças indiretas de um castigo financeiro no quadro europeu irritam tanto os eleitores do partido no poder como os da oposição.

Com a detonação do processo de sanção da Hungria, em 13 de setembro, o ambiente se acirrou.

A oposição polonesa acusa o governo em Varsóvia de atemorizar desnecessariamente os cidadãos e exagerar o problema. Aponta que graças aos argumentos contra os imigrantes, o PiS conseguiu em 2015 chegar ao poder.

Pawel Rabiej, deputado do partido oposicionista Nowoczesna, acha que o governo devia procurar um compromisso com as autoridades da UE em vez de alimentar um conflito sobre os migrantes. Sublinha que o acolhimento de refugiados pode ser "politicamente lucrativo".

Em contrapartida, governo e cidadãos poloneses têm fornecido apoio material aos campos de refugiados.

Segundo dados do governo em Varsóvia, em 2017 a Polônia enviou EUR 200 milhões (cera de R$ 1 bilhão) para ajuda humanitária ao estrangeiro.

O presidente Andrzej Duda afirma que muitos imigrantes tratam a Polônia apenas como país de trânsito para integrantes mais ricos da UE, e Varsóvia não tem meios para impedi-los dessa viagem.

"Se essas pessoas vieram para a Europa, não podem ficar presas. Não estamos autorizados a proibi-los de ir para onde querem", disse Duda. Com informações da Folhapress. 

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