© Paulo Whitaker / Reuters
A duas semanas da votação em primeiro turno, a campanha presidencial segue uma tendência que representa um desafio às candidaturas que podem despontar como uma terceira via à polarização entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). A análise das pesquisas mostra que, se quiserem se cacifar como uma terceira via, os candidatos situados no bloco intermediário das intenções de voto - Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) - terão 14 dias para reverter o movimento atual que está sendo impulsionado pela coesão do eleitorado antipetista em torno de Bolsonaro e do lulista/petista em torno de Haddad.
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Este cenário tem moldado as estratégias das campanhas que ainda lutam para chegar ao segundo turno da eleição. O foco da campanha de Ciro será insistir em apresentá-lo como um nome de terceira via, capaz de quebrar aquilo que o próprio candidato tem chamado de "polarização odienta".
Os marqueteiros de Alckmin não indicam que vão alterar a estratégia agressiva em busca do voto útil. Produziram comerciais que apelam para o medo de uma polarização PSL-PT e pregam que os demais postulantes do campo da centro-direita "não são competitivos".
Após perder uma camada significativa de intenções de voto com o crescimento de Haddad nas pesquisas, Marina mira no eleitorado negro, pobre, de baixa escolaridade e, principalmente, nas mulheres - sua principal base de votos, mas que encolheu nas pesquisas mais recentes. Nas últimas semanas, a candidata da Rede também adotou um tom mais propositivo.
Até o momento, a série de quatro pesquisas Ibope/Estado/TV Globo indica dificuldades para a viabilização de uma terceira via. Os candidatos do PSL e do PT são os dois únicos que ganharam terreno em todos os levantamentos. Os demais oscilaram ou caíram.
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Há uma quantidade razoável de eleitores "volúveis", que admitem probabilidade "alta" ou "muito alta" de mudar de voto para evitar a vitória de um candidato do qual não gostam. Os volúveis são um terço do total.
Mas esse cálculo político não alteraria a opção daqueles que veem seu candidato como favorito. Nove em cada dez eleitores de Bolsonaro acham que ele vai vencer, segundo o Ibope. E seis em cada dez apoiadores de Haddad consideram que o petista é quem subirá a rampa do Palácio do Planalto em 2019.
Restam então os eleitores volúveis de Alckmin, Marina e Ciro. Na remota hipótese de o tucano virar depositário da totalidade dos votos volúveis dos outros dois e dos chamados "nanicos", além de manter todos os seus próprios simpatizantes não convictos, Alckmin subiria de 7% para 14% - taxa insuficiente para assumir o segundo lugar na corrida.
Na hipótese de Ciro herdar os volúveis de Alckmin e Marina, ele passaria de 11% para 16% - e ainda ficaria abaixo dos 19% de Haddad. No caso da candidata da Rede, um rearranjo nesse sentido a deixaria com 14%.
Ou seja, a viabilidade de um candidato de "terceira via" depende, acima de tudo, de uma eventual queda de Bolsonaro ou de Haddad, ou de ambos.
Para o cientista político Oswaldo Amaral, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resta a Alckmin, por exemplo, recuperar eleitores antipetistas - segmento de 30% do eleitorado.
"Por mais paradoxal que seja, a campanha do Alckmin deve torcer para a próxima pesquisa mostrar que o Haddad estar na frente do Bolsonaro de três a quatro pontos no segundo turno. Isso vai dar força para o discurso dele (de que o voto no candidato do PSL representa um passaporte para a volta dos petistas ao poder) dessa etapa final de primeiro turno de se posicionar como candidato competitivo e único capaz de derrotar o PT", disse Amaral, que dirige o Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), na Unicamp.
A campanha tucana trabalha com a crença de que o candidato do PT já tem vaga garantida no segundo turno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.