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O próximo governador de São Paulo terá pela frente o desafio de integrar as redes de saúde do estado e dos municípios, fortalecendo o SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo diante de um cenário de queda nas receitas e orçamento enxuto.
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Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela reportagem. "O primeiro é o financiamento. Há candidatos que acham que tem dinheiro sobrando na saúde, o que é hipocrisia e ignorância", afirma Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Segundo o especialista, as parcerias público-privadas, com a atuação de OSSs (organizações sociais de saúde) precisam ser mantidas.
Vecina Neto diz também que é importante fazer a articulação entre a rede estadual e a dos municípios, garantindo que o cidadão siga por um fluxo de atendimento desde as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) até hospitais, se for o caso. "Agenda única e porta única, sendo o caminho que garante o acesso da população de forma mais ordenada. Não faz e não fez por uma série de questões políticas. É gravíssimo", diz.
Ele também aponta a necessidade de manter investimentos em inovação e tecnologia, por meio das universidades públicas e de fundações. "Os políticos só conseguem enxergar equilíbrio de contas sem gastar, o que é um sinal da mediocridade."
FINANCIAMENTO
Marilia Cristina Louvison, professora do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública, diz que o SUS tem crise de financiamento. "Está relacionada a acreditar que a saúde pública não é um direito", afirma.
"O sistema de saúde privado tem a lógica do lucro. A saúde precisa ser igual para todo mundo. Como posso imaginar que não seja em função da necessidade, mas da capacidade de comprar? É um direito universal", diz.
Ela afirma que o novo governador precisa priorizar a atenção básica. "Nas comunidades, do jeito que precisam, com menos tecnologia que a gente conhece, mas com as relações, cuidados."
Um exemplo das dificuldades de integração entre os serviços estaduais e municipais de saúde é o Hospital do Mandaqui (zona norte de SP), do governo do estado.
Conselheiro gestor do hospital, Marco Cabral aponta uma série de problemas: elevadores, macas, cadeiras e equipamentos em geral quebrados, falta de profissionais e médicos, de estrutura para acomodar pacientes, que ficam muitas vezes espalhados pelos corredores.
Para ele, além disso, há uma indefinição sobre a função da unidade. "Por falhas na atenção básica, muitas pessoas acabam buscando ajuda diretamente no hospital", afirma. A atenção básica, a começar pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), é de responsabilidade das prefeituras municipais.
O gestor de segurança do trabalho Robson Frank Silva, 47 anos, é um exemplo das dificuldades na atenção básica. Na última sexta-feira, ele acabou no Mandaqui após procurar, por três dias, ajuda para tratar uma infecção testicular em outras unidades de saúde.
Tinha ido a uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e uma UBS, onde prometeram um ultrassom em 25 de outubro. As unidades são da prefeitura, da gestão Bruno Covas (PSDB). "O meu problema é urgente", disse Silva, que saiu do hospital com uma lista de remédios, após ser examinado.Quem acompanha pacientes internados critica também a falta de leitos.
RAIO-X
Número do governo estadual:
101 hospitais
60 Ames (Ambulatórios Médicos de Especialidades)
139,5 mil profissionais
104 contratos de gestão de serviços em parceria com OSSs (Organizações Sociais de Saúde)
Ao ano:
72,5 mil internações
50,9 mil cirurgias
1,3 milhão de consultas ambulatoriais e de urgência
3,5 milhões de exames
Recursos anuais:
R$ 22,4 bilhões de orçamento
R$ 1,2 bilhão em assistência farmacêutica
Com informações da Folhapress.