Primeiro desenho animado totalmente em libras chega ao streaming

Paulo Henrique dos Santos, que está por trás da ideia, conta que a história surgiu a partir de situações do cotidiano

© Divulgação

Cultura inclusão 26/09/18 POR Folhapress

Nesta quarta-feira (26), comemora-se o Dia do Surdo. Para prestigiar a data, Paulo Henrique dos Santos lança uma animação especial, inteiramente em libras, sobre a deficiência que atinge quase 10 milhões de brasileiros por todo o país.

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"Min e as Mãozinhas", que acaba de chegar ao YouTube, conta histórias do cotidiano e aventuras lúdicas de Min, uma menina surda. Voltado para crianças de 3 a 6 anos, o desenho tem a intenção de educar e mostrar que crianças surdas também se divertem e brincam tanto quanto crianças que escutam normalmente.

Santos, que está por trás da ideia, conta que a história surgiu a partir de situações do cotidiano que o fizeram perceber o quanto a população está despreparada para se comunicar com os surdos.

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"Eu estava em um casamento, sentado ao lado de uma pessoa surda, e não sabia como pedir sal a ela. Notei que precisava de um mediador para conversar com uma pessoa que é brasileira. E achei isso muito bizarro", conta.

Entre essa e outras situações, ele decidiu investir no nicho que parece não ter atenção nem no meio acadêmico. "Eu aprendi judô na escola, que não me ajudou em nada na minha vida, mas eu não tive libras", lembra Santos.

O episódio piloto foi lançado para buscar patrocínio. Se conseguir o apoio, Santos pretende produzir e lançar outros 13 episódios, planejados para uma primeira temporada. A cada um deles, assim como o piloto, serão ensinados cinco sinais de libras.

O primeiro episódio chegou a ser exibido para professores e mais de 400 crianças da rede municipal de Itajaí, além de ter participado de uma exibição no Sesc de Brusque nesta terça-feira (25) e de um congresso nacional em João Pessoa.

A recepção foi positiva: Santos diz que recebeu elogios e ficou contente por emocionar as pessoas. "As crianças estavam bem interessadas e acompanhando os ensinamentos. Depois, passamos uma atividade para ver o que elas haviam aprendido, e vimos que foi uma absorção quase que total", conta.

Uma das professoras também comentou: "Tem vezes que você não repara na realidade do próximo, ao menos que alguém venha e mostre para você".

Como o objetivo do desenho é ensinar, para quem não conhece, e entreter os que são surdos, muitas crianças sem audição também estiveram nas exibições. "Uma criança que estava no colo da mãe, em especial, me marcou. Quando começou o desenho, ela ficou olhando surpresa e abriu um bocão de 'nossa'. Olhou para a tela e depois olhou para a mãe, que disse 'sim filho, é em libras'", relembra Santos. "Aconteceu o que estávamos esperando, do surdo pensar 'finalmente, uma coisa para mim'."

Santos trabalha com animação há cerca de sete anos, tendo participado da produção de desenhos como "Turma da Mônica" e "Sítio do Pica-Pau Amarelo". Ele conta que isso também o fez prestar atenção especialmente nos áudios de "Min e as Mãozinhas", para que fizesse sentido tanto para surdos quanto para pessoas sem a surdez.

"O surdo sente vibração, então nosso áudio é bem pesado, com tambores e batuques. Tudo que é som mais sutil, colocamos escrito em onomatopeias", conta.

BRENDA COSTA: MODELO E SURDA

A modelo internacional Brenda Costa nasceu com a surdez, mas é um exemplo de como a vida do surdo pode se desenvolver tão bem quanto a de qualquer um.

"Estudei em uma escola normal, mas era a única aluna surda da minha escola", relembra Brenda sobre sua infância. "Eu tive muita sorte, porque tive pais maravilhosos e que me ajudaram muito a ser independente."

A mãe da modelo trabalhou como gerente de loja de roupas e Brenda acabava acompanhando os catálogos de roupas e as modelos, que despertaram a ideia dela se tornar modelo também. "Eu admirava muitas delas, mas também sentia muito o preconceito por ser surda", conta.

A profissão acabou caminhando junto com a surdez e o primeiro trabalho surgiu quando ela tinha apenas 16 anos. Hoje, Brenda vive em Londres, onde nota uma nítida diferença na questão da acessibilidade, quando comparada ao Brasil.

"Acredito que uma das barreiras para quem é surdo é a comunicação, e o telefone celular ajuda muito. Seria ótimo se as operadoras do Brasil entendessem e fizessem pacotes mais econômicos para os surdos", aponta a modelo.

Para ela, o Dia do Surdo é importante justamente por destacar a questão da acessibilidade. "Eu acho maravilhoso que tenha, pelo simples motivo de chamar a atenção para a nossa causa. Para as outras pessoas entenderem que nós não somos tão diferentes assim, apenas temos uma pequena limitação, e só queremos respeito." Com informações da Folhapress. 

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