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O prefeito da cidade italiana de Riace, Domenico Lucano, foi preso nesta terça-feira (2) sob a acusação de favorecimento à imigração clandestina e de irregularidades em licitações para coleta de lixo.
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A prisão foi efetuada pela Guarda de Finanças, a pedido do Ministério Público, e Lucano foi colocado em regime de detenção domiciliar. Segundo os investigadores, o prefeito facilitava casamentos forjados entre imigrantes e cidadãos italianos para garantir a permanência de estrangeiros em situação irregular no país.
Em uma interceptação telefônica, Lucano fala com uma nigeriana a quem havia sido negada a permissão de estadia na Itália em três ocasiões. "Você só tem a possibilidade de voltar à Nigéria, então o único caminho possível é que você se case. Eu sou responsável pelo escritório de registro civil, posso casá-la imediatamente com um italiano. Faça uma declaração na qual você diga ser livre. Como você é solicitante de refúgio, não vou examinar seus documentos, porque alguém que foge de guerras não tem documentos", disse.
Segundo o Ministério Público, o prefeito de Riace e sua esposa, Tesfahun Lemlem, também investigada, transgrediam normas civis, administrativas e penais com "desenvoltura". Além disso, Lucano teria agido de forma "fraudulenta" ao conceder o serviço de coleta de lixo a duas cooperativas, Ecoriace e L'Aquilone, sendo que esta última empregava imigrantes, entre 2012 e 2016.
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"Eu vou contra a lei justamente para desrespeitar essas normas estúpidas", disse Lucano em uma conversa telefônica interceptada pelos investigadores.
Perfil
Riace é uma cidade de 2,3 mil habitantes situada na região da Calábria, o "bico da bota" que representa o mapa italiano. Ela é governada desde 2004 por Domenico Lucano, ativista conhecido internacionalmente por ajudar migrantes e refugiados.
Seu empenho em defesa do acolhimento o fez entrar, em 2016, na lista dos 50 maiores "líderes" do mundo da revista "Fortune". Em seus mandatos, ofereceu casas abandonadas - em um vilarejo que sofre com o esvaziamento demográfico - e treinamento profissional a migrantes, ajudando a recuperar a economia local.
"Quero ver o que dirão Saviano e os bonzinhos que querem encher a Itália de imigrantes", ironizou o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, artífice do endurecimento das políticas migratórias do país.
O escritor Roberto Saviano, que é processado por Salvini por tê-lo chamado de "ministro do submundo", não demorou a responder. "Esse governo, por meio de uma investigação da qual Mimmo [apelido de Lucano] saberá se defender, cumpre o primeiro ato rumo à transformação definitiva da Itália em um Estado autoritário", acusou o autor de "Gomorra".
De acordo com Saviano, as ações do prefeito de Riace tinham como objetivo a "desobediência civil", e não o lucro. (ANSA)