Empresas alemãs tiram Brasil do radar dos investimentos

Declarações foram feitas durante reunião da diretoria da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha

© Bruno Domingos/Reuters

Economia Comércio 05/10/18 POR Folhapress

Executivos de grandes companhias alemãs com presença local afirmaram à reportagem que a piora no ambiente de negócios no Brasil, marcado por crescente complexidade tributária e burocracia acima da média, estão levando suas matrizes a tirar o Brasil do radar para investimentos futuros.

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As declarações foram feitas durante reunião da diretoria da AHK (Câmara de Comércio Brasil-Alemanha). Estavam presentes o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, e o cônsul geral alemão em São Paulo, Axel Zeidler.

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Os executivos disseram que travas na economia brasileira fazem com que o país perca espaço para os asiáticos.

"A situação para nós nos últimos anos foi muito difícil. O Brasil está saindo do radar dos investimentos futuros, perdendo representatividade para a Ásia", disse Martin Duisberg, representante do DZ Bank no país e vice-presidente da câmara.

Segundo Duisberg, os 210 milhões de consumidores brasileiros, que sustentavam uma posição mais privilegiada do país no mapa global das apostas alemãs, já não é mais argumento para atrair investimentos internacionais.

A reclamação dos executivos é uníssona, e o motivo está no fato de que, além das companhias terem perdido o mercado interno com o desaquecimento econômico nos últimos anos, também encontram barreiras para exportar.

"Para a indústria conseguir exportar é preciso melhorar a competitividade das empresas. Há muitas causas que impedem isso aqui. A dificuldade em registrar normas técnicas e propriedade intelectual é uma delas, a complexidade tributária é outra", disse Wolfram Anders, presidente da câmara e vice-presidente-executivo do grupo Robert Bosch na América Latina.

Segundo Anders, a Bosch tem 39 funcionários no Brasil para cuidar de questões tributárias, enquanto na Espanha, que tem um faturamento semelhante, a companhia conta com apenas cinco.

O embaixador alemão no Brasil disse que, apesar de haver acordos em andamento para simplificar o sistema, os processos estão muito lentos.

"O progresso do acordo do Mercosul com a União Europeia, em Montevideo, foi limitado. Além disso, o Brasil precisa retomar a discussão sobre o acordo de bitributação com a Alemanha e pensar também nas negociações para ingressar na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)."

No fim de maio de 2017, o Brasil formalizou pedido para se filiar à OCDE. A entrada no grupo deve impactar o sistema tributário nacional, como noticiou a Folha de S.Paulo em fevereiro deste ano.

Esse incômodo dos executivos alemães com o sistema tributário brasileiro foi diagnosticado em pesquisa feita pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha no primeiro semestre deste ano.

Levantamento com 160 companhias mostrou que os impostos no Brasil, com 73%, lideram a lista de assuntos com maior grau de insatisfação. Em segundo lugar aparece, com 59%, a preocupação com o endividamento dos cofres públicos.

Para os alemães, contudo, a complexidade de documentos não se limita somente a questões tributárias. Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil, diz que a burocracia no país impede que as empresas cresçam aqui.

"Para a nossa fábrica de Iracemápolis [168 km de São Paulo], demorou mais tempo para conseguirmos uma licença do que para a construção."

De acordo com o relatório Doing Business 2018, do Banco Mundial, o Brasil está em 170º lugar no ranking de 190 países que lista a facilidade de empresas em obter alvará de construção.

Os executivos também lembram que a relação Brasil-Alemanha anda enfraquecida. Em junho do ano passado, a chanceler alemã Angela Merkel esteve na América Latina para fechar acordos comerciais e não passou pelo Brasil.

Depois, no mesmo mês, o presidente Michel Temer cancelou de última hora um almoço que teria com Merkel no encontro do G20, em Hamburgo, devido a uma crise em seu governo. Na época, Temer foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) pelo crime de corrupção passiva.

Em relação às eleições, a pesquisa feita pela câmera mostra que 92% dos executivos afirmaram que as decisões nas urnas podem ter impacto negativo em negócios locais.

Sobre o próximo governo, 100% disseram que a reforma da Previdência é prioritária. A reforma tributária e a educação de base são destaques para 96% e 91% dos executivos, respectivamente.

Para Schiemer, o próximo governo precisa instalar um ambiente de estabilidade e fazer profundas reformas, inclusive no modelo político. Com informações da Folhapress. 

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