© REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
FABIANO MAISONNAVE - MANAUS, AM - Fora de controle, o surto de sarampo na fronteira entre a Venezuela e o Brasil já matou 73 ianomâmis neste ano, segundo números oficiais de ambos os países. Desses, apenas um caso foi registrado em território brasileiro.
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Do lado venezuelano, onde vivem cerca de 16 mil ianomâmis, foram confirmadas 19 mortes de ianomâmis apenas entre agosto e setembro, segundo boletim epidemiológico da Organização Panamericana de Saúde (Opas), que se baseia em informações repassadas pelo governo venezuelano.Dois especialistas venezuelanos ouvidos pela Folha de S.Paulo temem que o número de casos e de mortos seja ainda maior.
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"De acordo com a informação que recebemos diretamente de agentes comunitários de saúde ianomâmis, a situação atual parece indicar que os casos estão aumentando, que o surto se expandiu a outros setores e comunidades e que há um número maior de mortos pela doença", diz Luis Bello, da Associação Wataniba, que promove direitos indígenas.
Bello afirma que o governo venezuelano tem dificuldades logísticas e de apoio aéreo para o combate ao sarampo. "Nossa organização é as organizações indígenas têm insistido na necessidade de continuar acompanhando a epidemia, ser mais efetivo com as vacinações e ampliar o alcance dos operativos de saúde."
"A única informação que temos é a publicada por meio da Opas uma vez ao mês, no melhor dos casos", afirma Julio Castro, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Central da Venezuela (UCV), a mais importante do país.
"Mas os médicos que estão nos hospitais nos dizem que os serviços de epidemiologia são lentos para classificar os casos. Ou seja, há uma burocracia relacionada e uma evolução natural sem que o governo tenha controle em nível nacional."
Segundo ele, a epidemia na Venezuela mostra que a cobertura vacinal no país governado por Nicolás Maduro teve uma queda vertiginosa há pelo menos uma década. "O fato de que o grosso dos casos está entre pessoas de 10 a 12 anos revela que elas não foram vacinadas quando tinham 1 ou 2 anos."
Relatório do Ministério da Saúde venezuelano indica que o último surto de sarampo entre os ianomâmis ocorreu em 1968, com uma taxa de mortalidade de até 17,1% entre os doentes de comunidades infectadas.
Nos dois lados, os ianomâmis ocupam uma área de 192 mil km2, pouco menor do que o estado do Paraná.
No lado brasileiro, onde moram cerca de 27 mil ianomâmis, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) conseguiu, até agora, conter o avanço do sarampo, principalmente por meio de campanhas de vacinação.
Até julho, a Sesai havia registrado 74 casos confirmados, incluindo um morto, e nove suspeitos. Desses casos confirmados, 66 são de ianomâmis com nacionalidade venezuelana.
"A Sesai intensificou a ação na fronteira e conseguiu criar um cinturão. Os ianônamis do lado brasileiro se sentem seguros, é uma feliz realidade", afirma Marcos Wesley de Oliveira, coordenador em Roraima da ONG ISA (Instituto Socioambiental). Com informações da Folhapress.