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Enquanto o país patina na redução da mortalidade materna, uma parceria entre instituições públicas e privadas mostrou que essa meta é possível mesmo em hospitais públicos superlotados.
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Referência no atendimento de gestantes de alto risco em Pernambuco, o Hospital Agamenon Magalhães, do Recife, diminuiu em 54% as mortes maternas apenas com melhorias na gestão e organização dos fluxos, adoção de novos protocolos clínicos e capacitação dos funcionários.
Entre maio de 2016 e abril de 2017, período anterior ao projeto, o Agamenon realizou 3.783 partos, com 11 mortes maternas. Já entre maio de 2017 e abril de 2018 foram 4.167 partos, com seis óbitos.
O projeto faz parte de uma iniciativa mundial da farmacêutica MSD com foco na redução da mortalidade materna a partir de propostas sustentáveis e adaptadas à realidade de cada local.
No Brasil, é desenvolvido em parceria com o Hospital Albert Einstein, de SP. No Agamenon, o Einstein fez um diagnóstico das falhas assistenciais que levam às mortes maternas e propôs soluções internas para enfrentá-las.
Segundo Guilherme Leser, da MSD Brasil, o objetivo inicial era reduzir as mortes em 30%. Com o resultado além do esperado, a empresa decidiu estender o projeto para outros 24 hospitais que atendem pacientes do SUS.
A equipe do Einstein passou dias acompanhando o percurso das gestantes no hospital. Percebeu, por exemplo, que havia problemas na detecção de casos mais urgentes.
"Qualquer minuto pode fazer a diferença para uma gestante que chega em situação de emergência", diz Cláudia de Barros, do hospital paulista. Entre as causas de morte materna mais comuns estão as hemorragias, a hipertensão (pré-eclâmpsia) e a sepse (infecção generalizada).
Em 2000, o Brasil fez pacto para baixar em 75% os óbitos maternos até 2015 dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A meta era limitar a 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos. Mas em 2015 a taxa ficou em 62 por 100 mil nascidos vivos (redução de 57%) e, no seguinte, subiu para 64,4. As regiões Norte e Nordeste concentram as taxas mais altas (84,5 e 78).
No hospital Agamenon, foram revisados protocolos e sugeridas mudanças. Por exemplo, o laboratório de análises clínicas passou a liberar mais rapidamente os resultados de exames, o que tem impacto direto na decisão médica. Hoje, não passa de 30 minutos. Antes, chegava ao dobro desse tempo ou até mais.
Segundo Angela Lannia, diretora médica do hospital Agamenon, outra mudança foi a reserva de leitos de UTI para as pacientes da maternidade, que antes disputavam com doentes de outras áreas. "São marcos que vieram para ficar. Não há mais como retroceder. Isso motiva a equipe."
Nesta sexta (5), o hospital completou 142 dias sem mortes maternas. Antes do projeto, ocorria uma morte a cada intervalo médio de 17,6 dias. No entanto, alguns desafios ainda persistem. A superlotação é um deles. O centro obstétrico do hospital tem capacidade para 12 leitos, mas, às vezes, abriga até 50 pacientes.
"A demanda é grande, recebemos pacientes de todo o estado. A superlotação é uma questão que a gente não consegue gerenciar", diz Daniella Sequine, do Agamenon.
Outro problema é o grau de gravidade com que muitas pacientes chegam ao hospital, que é mantido pelo governo estadual. O projeto está identificando agora as falhas assistenciais anteriores, como cuidados inadequados no pré-natal ou mesmo no transporte da gestante de alto risco até a maternidade. Com informações da Folhapress.