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A mesma eleição que rifou clãs que dominavam a política em regiões brasileiras reforçou e alimentou novos e velhos grupos que combinam familiares e apadrinhados.
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Nacionalmente, a própria família de Jair Bolsonaro saiu vitoriosa, com ele à frente do primeiro turno da eleição à Presidência da República e com três de seus filhos em cargos no Legislativo - um no Senado, outro na Câmara dos Deputados, além da vaga que já têm na Câmara Municipal do Rio.
Em seu entorno, se formou um grupo de diversos políticos que surfa nas pautas caras à família Bolsonaro, como segurança pública e conservadorismo nos costumes.
No Rio de Janeiro, reduto político de Bolsonaro, o clã Garotinho também obteve vitórias, apesar de o pai Anthony ter sido vetado em sua candidatura ao governo pela Lei da Ficha Limpa: Wladimir Garotinho (PRP) e sua irmã Clarissa Garotinho (Pros) foram eleitos para a Câmara.
Mesmo em lugares onde um grupo dominante foi derrotado, como no Acre, foi alçado ao poder um personagem relacionado com outra família do poder político local.
Eleito governador em primeiro turno, Gladson Cameli (PP) é sobrinho de Orleir Cameli, ex-governador entre 1995 e 1998. Depois de sua gestão, a família Viana, filiada ao PT, passou a dar as cartas na política do estado.
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Foram dois mandatos de Jorge Viana seguidos de dois do seu irmão, Tião. Jorge tentava se tornar senador e seu afilhado político, o ex-prefeito de Rio Branco Marcus Alexandre, governador. Ambos foram derrotados.
No Pará, a família Barbalho vê a oportunidade de retomar o Executivo depois que o atual senador Jader Barbalho deixou o governo, em 1994.
Helder, seu filho, está no segundo turno da eleição no estado com um discurso de renovação: "70% do Pará disse não ao abandono do atual governo, esse grupo que há 20 anos governa o Pará", afirmou o emedebista nas redes sociais.
O próprio Jader foi reeleito ao Senado para mais oito anos. Elcione Carvalho, mãe de Helder, renovou seu mandato na Câmara.
Calheiros
Em Alagoas, a família Calheiros também se saiu fortalecida. O governador Renan Filho (MDB) foi reeleito com 77% dos votos em Alagoas e conseguiu ajudar seu pai, o senador Renan Calheiros (MDB) a renovar seu mandato no Senado -será o quarto mandato consecutivo.
O irmão de Renan, Olavo Calheiros (MDB), foi reeleito deputado estadual. Seu outro irmão Renildo Calheiros (PC do B), será deputado federal por Pernambuco -mesmo com o parentesco, Renildo tem trajetória política própria.
Ainda em Pernambuco, o filho do ex-governador Eduardo Campos, João Campos (PSB), foi o deputado mais votado da história do estado. O sucessor político de Campos no governo, Paulo Câmara (PSB), foi reeleito em primeiro turno.
Também se elegeu em Goiás Ronaldo Caiado (DEM), membro de uma família tradicional que elegeu políticos ao governo, Senado e Câmara dos Deputados.
Outros clãs tiveram um desempenho inverso e sofreram derrotas eleitorais.
Sarney
No Maranhão, pela primeira vez desde 1958, a família do ex-presidente José Sarney não terá nenhum representante no governo do Maranhão ou no Congresso Nacional.
A eleição deste ano, no entanto, foi de derrota para vários outros clãs políticos. No Maranhão, pela primeira vez desde 1958, a família do ex-presidente José Sarney não terá nenhum representante no governa do Maranhão ou no Congresso Nacional.
O governador Flávio Dino (PC do B) foi reeleito derrotando Roseana Sarney (MDB), que governou o estado por quatro mandatos.
O deputado federal Sarney Filho, com mandatos no Congresso desde 1983, foi derrotado em sua tentativa de chegar ao Senado. A família Lobão também sofreu revés com a derrota de do senador Edison Lobão (MDB), que tentava a reeleição.
Com o resultado das urnas, o único representante da família Sarney com cargo eletivo será o deputado estadual Adriano Sarney -neto do ex-presidente- que reelegeu-se para mais um mandato.
No Rio Grande do Norte, pela primeira vez desde 1974, o núcleo central das famílias Alves e Maia saem das urnas sem representantes no Senado e com risco de perder a disputa para o governo do Estado.
O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT) -primo de Henrique Eduardo Alves (MDB) e Garibaldi Alves (MDB)- disputa o segundo turno para o governo, mas enfrenta a senadora Fátima Bezerra (PT) na condição de favorita.
Para o Senado, foram eleitos o capitão da Polícia Militar Styvenson Valentim (Rede) e a deputada federal Zenaide Maia (PHS).
Apesar de ter o sobrenome Maia, Zenaide não faz parte do mesmo núcleo familiar do senador Agripino Maia (DEM). É uma prima distante e adversária política local -é aliada da petista Fátima Bezerra.
Agripino, que desde 1983 revezou quatro mandatos de senador e dois de governador, foi eleito para uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele diz que desistiu de tentar o Senado para ajudar Carlos Eduardo a ampliar seu arco de alianças.
"Entendo que o mais importante não é o cargo, mas participar do processo político", afirmou Agripino à reportagem.
Seu aliado Garibaldi Alves Filho (MDB) até tentou renovar o mandato no Senado, mas não obteve sucesso, ficando apenas em quarto lugar. Sai de cena depois de três mandatos de senador e dois de governador nas últimas três décadas.
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Outro representante de um clã político nordestino que não conseguiu sucesso nas urnas neste ano foi o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que tentava a reeleição.
O desempenho de Cássio, que foi líder do PSDB no Senado e teve papel de destaque nas costuras em 2016 para o impeachment da ex-presidente Dilma, foi muito abaixo do esperado. Amargou um quarto lugar, com 17,5% dos votos válidos.
Os dois senadores eleitos pela Paraíba, contudo, pertencem a outras famílias tradicionais na política: Veneziano Vital (PSB) é irmão do ex-senador e atual ministro do Tribunal de Contas da União Vital do Rêgo. Já Daniella Ribeiro (PP) é mulher do deputado federal e ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PP), que reelegeu-se para a Câmara.
Os Cunha Lima também manterão um representante no Congresso: Pedro Cunha Lima (PSDB), filho de Cássio, foi reeleito para a Câmara dos Deputados.
Os Collor também viveram desempenho fraco. O filho do ex-presidente da República Fernando Collor (PTC), Fernando James (PTC) teve 16 mil votos e foi derrotado na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados.
Na oposição ao ex-presidente, a ex-primeira-dama Rosane Collor também não teve sucesso: teve apenas 459 votos para Assembleia Legislativa de Alagoas.
Já Thereza Collor (PSDB), viúva do irmão do ex-presidente, Pedro Collor, e também adversária do ex-presidente, ficou longe de conquistar uma vaga de deputada federal por São Paulo: teve apenas 9.064 votos.
Na região Norte, a família Jucá perdeu seu principal representante no Congresso. Por uma diferença de 426 votos, Romero Jucá (MDB) foi derrotado para oque seria seu quarto mandato consecutivo no Senado.
Nas últimas duas décadas, ele foi líder do governo no Congresso dos presidentes Dilma Rousseff (PT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em Rondônia, a família Raupp perdeu seus dois representantes no Congresso -o senador Valdir Raupp (MDB) ficou na quinta colocação na disputa pela reeleição. Já sua mulher, a deputada federal Marinha Raupp (MDB) foi derrotada para a Câmara.
Na Bahia, os Vieira Lima não terão representante no Congresso Nacional pela primeira vez desde 1975, com a derrota de Lúcio Vieira Lima (MDB). Ele é irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso há um ano na penitenciária da Papuda. Com informações da Folhapress.