Mercado vê agenda superficial de candidatos

A crítica é que as agendas são superficiais e geram incertezas

© Reuters / Paulo Whitaker

Economia Corrida 09/10/18 POR Folhapress

Passada a euforia dos investidores nesta segunda-feira (8), agentes do mercado cobram que os candidatos no segundo turno da corrida presidencial usem as próximas semanas para detalhar suas propostas econômicas e mostrar como planejam executá-las.

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A crítica é que as agendas são superficiais e geram incertezas, tanto do lado do candidato petista, Fernando Haddad, como do de Jair Bolsonaro, do PSL.

O ponto central é como eles vão combater o crescente déficit fiscal do país, apontam economistas, entidades e empresários ouvidos pela reportagem.

"O primeiro turno mostrou um voto contra algo, mas no segundo turno é preciso entender a que dizer 'sim'. Os planos de governo apresentaram linhas gerais muito rasas", diz Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman.Para Rodrigo Soares, professor de políticas públicas brasileiras da Universidade Columbia, o PT de Fernando Haddad, que passou com 29,3% dos votos válidos, reforçou "muito da história do partido, da adoção de políticas econômicas desenvolvimentistas desastrosas, com interferência nas estatais".

No caso de Bolsonaro, que abriu ampla vantagem com 46% dos votos, as políticas são vistas como menos prejudiciais, ao menos no curto e médio prazos. Sua equipe fez claro aceno ao mercado falando em privatizações e enxugamento do Estado.

Mas a avaliação é que falta substância às propostas. "É muito genérico. Há a expectativa de uma política liberal, mas mesmo isso não é muito bem definido", diz Soares.

O consenso é que o ponto de partida para o ajuste nas contas públicas deve ser uma reforma da Previdência.Sobre Haddad, o mercado quer entender primeiro se alterações nas regras de aposentadoria são uma prioridade.

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Em seu programa, o PT refuta a necessidade de uma reforma, embora estabeleça como meta a convergência dos regimes geral e dos servidores.Bolsonaro diz querer introduzir gradualmente o regime de capitalização, em que cada trabalhador faz a sua própria poupança. Como novos participantes poderiam optar entre o sistema novo e o velho, porém, economistas veem risco inicial de aumento do déficit.

Além disso, como Bolsonaro é capitão reformado do Exército, há dúvidas se militares seriam incluídos numa reforma.Especialistas reforçam que mudar o sistema de aposentadoria é apenas o primeiro passo do ajuste, que precisa incluir ainda alterações na forma de tributação, por exemplo.

"Nenhuma das duas equipes tinha muita certeza de suas propostas. O PT se confundiu ao falar em aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda sem contar que isso beneficiaria também quem ganha mais. No caso de Bolsonaro, parece que nem sequer foi feito cálculo para propor a alíquota única de 20%", diz Sérgio Gobetti, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Os candidatos precisam mostrar que têm compreensão do desafio fiscal estrutural, diz Samuel Pessôa, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre e colunista da Folha de S.Paulo.

"Será necessário aumentar impostos ou reduzir gastos ou ambos. Não está claro como farão nenhuma das opções", diz.

Outra incógnita é até que ponto conseguirão implementar seus programas, diante do novo Congresso.

"É curioso, porque boa parte do eleitorado diz querer renovação, no sentido de uma economia mais aberta, mas muitos dos eleitos tiveram na sua vida uma agenda oposta às reformas", afirma Marcos Lisboa, presidente do Insper e também colunista da Folha de S.Paulo.

A bancada do partido de Bolsonaro, por exemplo, vista como de perfil mais estatizante, pulou de nanica para a segunda maior da Câmara.

"As propostas precisam ficar claras, porque os candidatos vão precisar de apoio. Sem isso, o risco é ter um período de euforia por algum tempo e depois frustração", diz.

No setor de infraestrutura e construção, considerado essencial para a retomada do crescimento do país, a percepção é que tanto Bolsonaro como Haddad vão buscar destravar obras e incentivar parcerias com o setor privado, mas que ambos ainda precisam esclarecer propostas.

Do lado de Bolsonaro, a preocupação é justamente em relação à falta de detalhamento. "O mercado de infraestrutura não está confortável. As pessoas querem saber quem vai fazer, o que vai fazer e se há condições políticas. Você pode ter um programa bom, mas quem vai executar?", diz Claudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B.

Um consultor especialista em infraestrutura, que preferiu não se identificar, diz haver um temor de medidas que possam limitar a entrada de investidores estrangeiros, devido a declarações nacionalistas do candidato do PSL.

Ainda assim, há uma preferência pelo discurso mais liberal do programa de Bolsonaro. Da parte de Haddad, a lista de preocupações é mais extensa e carrega um temor em relação ao maior intervencionismo assumido pelo PT.

"Há uma ilusão de que haverá recurso público para investimentos em infraestrutura", diz Frischtak. No programa do petista, menciona-se a criação de um fundo de financiamento da infraestrutura. Há também a previsão de reverter o teto de gastos públicos para acomodar investimentos no setor.

Para Venilton Tadini, presidente da Abdib (Associação Brasileira da In­fraestrutura e Indústrias de Base), o próximo governo de fato precisa abrir espaço no Orçamento para retomar os investimentos, mas diz que isso deve ocorrer com cortes no custeio e redução de isenções fiscais.

A preocupação só é menor porque ambos candidatos concordam que é preciso destravar o setor e porque propostas polêmicas deverão passar pelo crivo de um Congresso pulverizado, diz José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Ele cita como exemplos a proposta petista de reverter a reforma trabalhista e possíveis iniciativas estatizantes de Bolsonaro. Com informações da Folhapress.

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