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Uma década após a pior crise financeira global desde a grande depressão de 1929, o FMI (Fundo Monetário Internacional) diz que os países devem resistir aos clamores para reverter as reformas regulatórias adotadas para impedir que os mercados enfrentem uma nova recessão.
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O apelo ocorre a partir do diagnóstico de que a estrutura dos mercados está mais robusta do que a de dez anos atrás, mas talvez ainda não seja forte o suficiente para enfrentar alguns contratempos que o Fundo vislumbra no horizonte.
No relatório "Uma década após a crise financeira global: estamos mais seguros?", o Fundo reconhece que uma nova estrutura de mercado surgiu uma década após a crise.
Mas avalia que o novo ambiente institucional ainda precisa ser testado sob condições mais adversas para que sua resistência seja confirmada. Segundo o FMI, isso melhorará a habilidade do sistema financeiro de absorver um choque adverso, em vez de propagá-lo.
Sem um teste que confirme a solidez da estrutura criada, os governos deveriam manter, e não desmontar, o arcabouço regulatório pós-crise, defende o Fundo. Nos EUA, algumas regras foram revertidas para dar mais flexibilidade a instituições financeiras de menor porte.
"Conforme nuvens se juntam no horizonte, é crucial para países no mundo completarem e implementarem a agenda de reforma regulatória global e resistirem ao chamado de reverter reformas", diz Tobias Adrian, conselheiro financeiro do FMI, no prefácio do relatório.
Entre as nuvens identificadas, estão uma recuperação econômica mundial heterogênea e que contribuiu para o aumento da desigualdade global, alimentando medidas focadas apenas no cenário doméstico, o que gerou maior incerteza política.
Como resultado dessa desigualdade na retomada, tensões comerciais afloraram, e uma escalada adicional pode afetar o sentimento do mercado e prejudicar significativamente o crescimento global, diz o FMI. O organismo advertiu para a diminuição do apoio ao multilateralismo, "um caminho perigoso que pode minar a confiança na habilidade dos políticos de responder a futuras crises."
Esse cenário torna ainda mais vulneráveis economias emergentes, ainda afetadas pela combinação de aumento de juros nos EUA, um dólar mais forte e a intensificação das disputas comerciais que levam à retirada de capital de mercados emergentes.
Até agora, o apetite global por risco mascarou os desafios que os emergentes poderiam enfrentar se as condições financeiras no mundo piorarem agudamente, diz o Fundo.
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A análise de fluxo de capital do FMI sugere que, com uma probabilidade de 5%, as economias emergentes (com exceção da China) poderiam enfrentar saídas de capital de US$ 100 bilhões no médio prazo, ou mais ainda num período de quatro trimestres (0,6% do PIB somado deles), semelhante em magnitude à crise financeira global.
Em emergentes como o Brasil, a qualidade de crédito permanece uma preocupação à estabilidade financeira. No setor corporativo desses mercados, a fatia de dívida de empresas cujo gasto com juros supera os ganhos está maior do que em outras regiões.
Diante desse contexto maior, os reguladores deveriam permanecer atentos a novos riscos, incluindo possíveis ameaças à estabilidade financeira provocadas pela cibersegurança, tecnologia financeira e outras atividades fora do perímetro de regulação prudencial.
O Fundo indica que os riscos de curto prazo à estabilidade financeira aumentaram modestamente, enquanto os riscos de médio prazo permanecem elevados por causa de vulnerabilidades financeiras persistentes ligadas aos níveis altos de endividamento, entre outros fatores.
Olhando para a frente, uma escalada adicional de tensões comerciais, assim como o aumento dos riscos geopolíticos e da incerteza política nas principais economias poderiam levar a uma piora inesperada no sentimento de risco.
Isso levaria a uma correção ampla em mercados de capitais globais e a um aperto agudo nas condições financeiras globais. Com informações da Folhapress.