Medo do feminismo ajuda populistas, diz autora americana em livro

Quando as mulheres conseguem cuidar delas mesmas, isso coloca em risco o poder e o privilégio dos homens, diz a autora

© Reprodução / Facebook

Cultura EMPODERAMENTO 10/10/18 POR Folhapress

A confirmação de Brett Kavanaugh, acusado de abuso sexual, para a Suprema Corte dos Estados Unidos no último sábado (6) deve energizar mulheres para votar nas eleições legislativas de novembro em candidatos que fazem oposição ao republicano Donald Trump, que o apontou para o cargo.

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Mas toda a movimentação feminista, por outro lado, tanto no país americano quanto no resto do mundo, pode acabar contribuindo para a ascensão de líderes populistas de direita, como resultado de uma reação masculina contra o ativismo das mulheres.

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É o que afirma Soraya Chemaly, autora do livro recém-lançado "Rage becomes her: the power of women's anger" (A raiva fica bem nela: o poder da fúria das mulheres, sem edição no Brasil) e uma das diretoras do Women's Media Center, organização que luta por uma maior visibilidade de mulheres na mídia.

"As mulheres têm confrontado o ideal fundamental de masculinidade, no qual o homem é o protetor e provedor", diz. "Quando as mulheres conseguem cuidar delas mesmas, isso coloca em risco o poder e o privilégio dos homens."

A afirmação de Trump e de outros líderes republicanos de que Kavanaugh é um homem inocente, vítima de acusações sem comprovação, seria reflexo desse medo. Três mulheres o acusaram de algum tipo de delito sexual durante o processo de confirmação: Christine Blasey Ford, Deborah Ramirez e Julie Swetnick.

O presidente chegou a afirmar que hoje é "um tempo muito assustador para jovens rapazes na América", no qual poderiam ser acusados de crimes que não cometeram. "Isso não faz sentido", diz a autora. "O maior medo deles não é de as mulheres estarem mentindo, mas, sim, dizendo a verdade, porque isso vai exigir um reordenamento da sociedade."

Em seu livro, a autora e ativista fala sobre como as mulheres podem usar a raiva como ferramenta para transformar a sociedade. Mas não em seu sentido negativo. "Precisamos falar da raiva mais progressista, ligada à compaixão e à busca por justiça social."

É ela que serve de combustível para movimentos como o #MeToo, os protestos contra Brett Kavanaugh e, no Brasil, os atos contra o candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro. "Sempre que há momentos de turbulência política as mulheres têm mais liberdade para sentir raiva. É típico", diz.

Mas nem todas se sentem confortáveis em expressar esse sentimento. Um estudo que Chemaly usou em seu livro mostra que o maior medo das mulheres que expressam a sua raiva é de que sejam ridicularizadas ""chamadas de "feminazi", por exemplo.

"As mulheres se policiam, desde pequenas, pensando na reação da sociedade ao seu redor", diz. "Ao separar raiva de feminilidade, deixamos as mulheres indefesas contra injustiças, já que é um sentimento que sinaliza de que algo está errado e que limites foram violados."

Como usar o sentimento da melhor forma, então? "O importante é reconhecer que está com raiva, e não com sono ou estressada, e descobrir o que é preciso mudar."

Rage Becomes Her: The Power of Women's Anger

Soraya Chemaly. Ed. Atria Books (sem edição no Brasil)

US$ 27 (R$ 100; ebook US$ 12,99, ou R$ 48; 416 págs.) Com informações da Folhapress.

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