Empresariado recua em onda de apoio a Bolsonaro para não se expor

Discrição busca evitar impacto negativo nos negócios e falas que prejudiquem vitória

© Adriano Machado / Reuters

Economia Cautela 20/10/18 POR Folhapress com JOANA CUNHA

A despeito do relativo consenso do empresariado em torno da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência, empresários que vinham se expondo publicamente ao lado do capitão reformado nos últimos meses agora decidem voltar atrás ou adotar posição mais discreta.

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Meyer Nigri, acionista da construtora Tecnisa, Flávio Rocha, da rede de moda Riachuelo, Sebastião Bomfim, da varejista esportiva Centauro, e Salim Mattar, da locadora Localiza são alguns dos que passaram a lidar com o tema com cautela, apesar de terem acenado a Bolsonaro durante a campanha em diferentes graus de entusiasmo.

O recuo é apenas formal, não significa que decidiram anular ou guinar seus votos para Fernando Haddad, até porque um dos principais fatores que os aglutina com Bolsonaro é o temor de que o PT, se eleito, possa derrubar a reforma trabalhista.

Trata-se agora de uma discrição, muito parecida com o que levou a equipe de campanha de Bolsonaro a rejeitar a participação em debates e cercear as falas do assessor econômico Paulo Guedes e do vice Hamilton Mourão.

A poucos dias da previsível vitória, com a liderança disparada do capitão reformado nas pesquisas eleitorais, o que se quer evitar são declarações despreparadas que possam atrapalhar o candidato, como ocorreu antes do primeiro turno, quando vazou, de uma palestra de Guedes, que CPMF, o antigo imposto do cheque, estava em análise.

Qualquer "escorregão ou palavra mal colocada" na reta final pode prejudicar, disse um dos empresários sob condição de anonimato.

 

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Mas há outras razões.

Alguns avaliam que se precipitaram ao vir a público desde o início da campanha manifestando apoio a Bolsonaro sem medir as consequências, afirma outro peso pesado do patronato brasileiro.

A falta de clareza nas propostas e o desafino do capitão reformado em questões caras ao setor produtivo, como Previdência e privatizações, já alimenta o receio de que aliar o nome, com muita assertividade, ao do candidato pode gerar cobranças em caso de eventuais fracassos de um futuro governo.

Outras motivações para a discrição atual variam desde uma preocupação com a segurança da família até o receio de perder vendas diante da violenta polarização no país.

Sebastião Bomfim, que declarou voto em Bolsonaro e recebeu em troca um vídeo de agradecimento gravado pelo próprio candidato, passou a evitar o assunto. Procurado pela Folha, não quis se manifestar e enviou nota em nome da Centauro, dizendo que a rede "não apoia nenhum candidato".

O comunicado distancia a Centauro das declarações de Bolsonaro consideradas homofóbicas: "A empresa abraça a diversidade e valoriza a liberdade de pensamento". A rede recebeu ameaças de boicote nas redes sociais depois que Bomfim declarou seu voto.

Rocha, que em agosto participou de evento ao lado do candidato e chegou a ser cortejado com a hipótese de um ministério, calou-se. Procurado por meio de sua assessoria de imprensa nesta quinta-feira (18), não quis confirmar ou negar apoio ao candidato.

Meyer Nigri, da Tecnisa, foi um dos primeiros apoiadores explícitos. Em entrevista à revista Piauí, declarou apoio e ainda disse que vários judeus simpatizavam com o capitão reformado. Seu movimento de recuou começou em fevereiro, após ser questionado por integrantes da comunidade judaica.

Procurado pela reportagem nesta quinta para falar do assunto, Nigri retirou formalmente o endosso por meio de nota, afirmando que "não apoia nenhum candidato".

Outro entusiasta da candidatura bolsonarista, Salim Mattar chegou a defender o voto útil em Bolsonaro para que a vitória tivesse vindo já no primeiro turno. Nesta semana, não se manifestou.

Olegário Araújo, pesquisador do GGVcev (Centro de Excelência em Varejo da Fundação Geúlio Vargas), avalia que a polarização da sociedade pode se refletir no comportamento do consumidor.

"Tem que preservar os clientes, e o empresário não quer desgaste. A economia já não vai bem, as margens das empresas estão apertadas, as promoções não estão fazendo efeito. Imagine colocar ingrediente político?", diz Araújo.

No caso da Riachuelo, que vende roupas femininas, a ligação de Rocha a Bolsonaro poderia ser mal interpretada por parte das consumidoras que rejeitam o presidenciável.

O catarinense Luciano Hang, das lojas de departamento Havan, um dos maiores apoiadores de Bolsonaro no setor privado, lamenta ser um dos poucos que "não têm medo de dizer o que pensa".

O grau de envolvimento de Hang nesta campanha é mais incisivo. Ele foi multado em R$ 10 mil pelo TSE em agosto por ter contratado serviço de impulsionamento de publicações no Facebook para expandir o alcance de vídeos favoráveis ao candidato.

Reportagem da Folha de S.Paulo nesta quinta mostrou que a Havan é uma das empresas que compra pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no Whatsapp, prática ilegal de doação de campanha.

Na outra ponta do espectro político, a chef Helena Rizzo, do restaurante Maní, postou, na véspera do primeiro turno foto de apoio ao #EleNão, que repudia Bolsonaro. Enfurecidos, clientes convocaram boicote ao restaurante, o que levou a chef a pedir desculpas. Com informações da Folhapress.

 

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