É possível elevar fatia da energia limpa sem custo maior, diz estudo

Parece óbvio que o Brasil deveria investir seus recursos na produção de energia por esses meios, certo?

© iStock (Imagem ilustrativa) 

Economia eletricidade 21/10/18 POR VINICIUS TORRES FREIRE - Folhapress

VINICIUS TORRES FREIRE - Imagine-se que se possa produzir energia elétrica a custo baixo de investimento e de operação do gerador, da "fábrica", de eletricidade. Suponha-se que essa fonte seja renovável e limpa. Parece óbvio que o Brasil deveria investir seus recursos na produção de energia por esses meios, certo?

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Não necessariamente. É preciso fazer contas mais complexas. Ainda assim, parece possível aumentar em muito a participação de energias limpas e renováveis no total da capacidade de produção de eletricidade, indica estudo produzido pela empresa de consultoria PSR encomendado pelo Instituto Escolhas.

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O trabalho, "Custos e Benefícios das Fontes de Geração Elétrica", foi apresentado e debatido em seminário realizado pela Folha de S.Paulo, com patrocínio do Instituto Escolhas, no auditório do jornal, na sexta-feira (19), em São Paulo.

Mas por que não é tão simples recorrer logo a fontes mais limpas e baratas? Suponha-se a hipótese extrema de a geração de energia ser baseada apenas em ventos. O que fazer nas temporadas de calmaria? O alerta óbvio vale para outra fonte limpa e intermitente, como a solar.

Se contamos com hidrelétricas, o problema não está resolvido? Em parte, pois podem ocorrer secas e, pois, baixas nos reservatórios da água que move as turbinas.

Além do mais, pode haver ainda altas súbitas de consumo, que não seriam atendidas pelas usinas hidrelétricas, eólicas ou solares.

Então, é prudente dispor de geradores gigantes, as termelétricas movidas a carvão ou a derivados de petróleo, de energia dita suja e cara, por serem utilizadas apenas em momentos esporádicos.

O Instituto Escolhas, um centro privado de pesquisas, encomendou um estudo com objetivo de avaliar os custos reais das diversas fontes de energia no país.

Ou melhor, custos e benefícios dos diferentes tipos de "fábricas" de eletricidade que vão constituir a indústria de energia no Brasil até 2026, segundo projeções oficiais.

As estimativas indicam que, sim, se pode aumentar a participação de fontes renováveis (sol, vento, biomassa) na matriz elétrica brasileira sem que isso eleve os custos de maneira significativa.

Segundo o estudo, em 2035, o Brasil pode ter aumentado em 68% a participação de renováveis em sua matriz elétrica, em relação ao previsto oficialmente no Plano Decenal de Energia 2026, que chegariam a representar 44% da matriz (capacidade total de produção de energia).

O estudo do Instituto Escolhas e da consultoria PSR coloca em números mais precisos, de modo inédito, algumas ideias intuitivas, vagas, sobre os custos escondidos ou, melhor, não explicitados da energia hidrelétrica, eólica, solar ou produzida por geradores movidos a combustíveis fósseis ou biomassa.

Mostrou de modo sistemático como vantagens e desvantagens de cada fonte energética não podem ser estimadas de modo separado, para cada uma das fontes, isoladamente.

ENERGIA MAIS BARATA

Uma das eletricidades mais baratas vem dos geradores que utilizam biomassa no Sudeste (de restos de cana-de-açúcar, por exemplo), segundo o estudo. A seguir, vem a energia eólica do Nordeste. Veja no quadro ao lado valores para as diversas fontes.

Mas, como alertam os autores do trabalho, um corpo alimentado apenas de pão não vai parar em pé por muito tempo. Precisa de proteínas, mais caras.

A energia de maior custo seria a produzida por geradores movidos a gás natural (um dos tipos de termelétricas). Em suma, como escrevem os autores, "nem todo megawatt-hora é economicamente igual".

A fim de calcular os custos, considerada a operação conjunta do sistema, com suas partes necessárias e complementares, os autores do estudo levaram em conta as características de cada tipo de geração de eletricidade, chamados de "atributos".

Até 2013, a fim de contratar a construção de novas unidades de geração de energia levavam-se em consideração apenas preço e quantidade oferecida por cada empreendimento, contratados em leilão de menor custo.

A partir daquele ano, passou a haver leilões separados por fontes: seria possível contratar energia de uma fonte desejada, mesmo que o seu preço fosse maior.

Por trás dessa mudança, estava a ideia implícita de que cada tipo de fonte de energia tem desvantagens e vantagens, como menor impacto ambiental, que não são considerados nos custos e preços (chamados externalidades).

No entanto, não havia metodologia para dar valor a esses atributos nem para definir quanto de energia de cada fonte energética seria recomendável contratar.

O estudo procurou determinar quais são alguns desses custos mais importantes. De posse dessas informações, é possível elaborar uma nova estratégia de planejar ou contratar a energia no futuro.

Os custos maiores e mais óbvios são o de construção (investimento) e operação das diferentes "fábricas" de eletricidade previstas no plano oficial de expansão do setor elétrico até 2026 (Plano Decenal de Energia).

A seguir, há custos como os serviços prestados pelo gerador, além do fornecimento regular de energia (como a estabilidade e a capacidade de aumentar a oferta em momentos excepcionais).

Menos evidentes, há diversos custos de infraestrutura (além de redes de transmissão, os "canos" da eletricidade, o sistema tem requisitos técnicos, de engenharia, para funcionar de modo adequado, mais ou menos bancados por cada tipo de gerador de energia para o sistema elétrico inteiro).

Os geradores podem contar ainda com vantagens ou incentivos, tais como subsídios (parte de seu custo é pago por outros geradores, consumidores ou contribuintes), redução de impostos ou financiamento a taxas de juros menores que as de mercado.

Por fim, há custos não explicitados como os ambientais ou sociais (no estudo, foi considerado apenas o custo decorrido da produção de gases de efeito estufa).

Isto posto, esse sistema melhorado tem de considerar os objetivos de: 1) minimizar preços para os consumidores; 2) evitar racionamentos (confiabilidade); 3) evitar falhas catastróficas de fornecimento (robustez); 4) satisfazer políticas públicas, como o plano de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Com informações da Folhapress.

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