Em musical, Elza Soares vê sua história refletida em sete atrizes

Cantora pediu que narrativa do espetáculo fosse alegre, apesar de episódios violentos

© Divulgação

Cultura Teatro 21/10/18 POR Folhapress

Sentada à primeira fileira do teatro, rodeada de fãs ansiosos por selfies, Elza Soares parece não se abalar com o burburinho. Fala calmamente, pega na mão do interlocutor e relembra sua história, que acaba de rever encenada no palco, num musical sobre a sua biografia que acaba de estrear em São Paulo.

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"Sempre me emociono com esse texto. Quando fala do meu filho que morreu, quando fala do meu pai. São trechos que mexem muito comigo", comenta a cantora, cuja trajetória foi marcada por violências -foi obrigada a se casar aos 12 anos, sofreu agressões domésticas, perdeu um filho. 

Mas não são os momentos tristes que guiam a narrativa de "Elza". A própria biografada pediu que o espetáculo fosse alegre. "Tristeza não, a gente não quer falar de tristeza. A gente quer falar pra frente, pra cima. Eu acho que meu mundo é vida", diz ela.

O espetáculo, com dramaturgia de Vinícius Calderoni e direção de Duda Maia, é permeado pelo sarcasmo da cantora. Quando falam de sua idade, que a artista não revela, a peça brinca: tenho 3.000 anos, como a rainha Nefertiti, símbolo de beleza.

Tudo parte de recursos singelos, com quase todo o cenário composto de baldes de lata, como os que a artista precisava carregar na infância -seu peso e balanço também a inspiraram no rasgado da voz, uma de suas marcas no canto. 

Em cena, não há apenas uma Elza, mas sete atrizes que se alternam no papel da cantora e de outras pessoas que passaram por sua vida. Mais do que isso, representam suas diferentes facetas e sua resiliência. "Eu sou meio gato, né?", comenta ela. "Ter sete vidas não é brincadeira, não".

A biografia ainda remete a outras mulheres negras que foram vítimas de violência, como a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada em março. "Minha história reflete em outras mulheres. O que eu mais queria é que ela fosse vista por mulheres que às vezes não têm força. E que elas tomassem isso também como exemplo, de dizer 'não', chutar a porta e ir embora."

A sessão paulistana da peça na sexta-feira (19), na qual Elza estava presente, foi algumas vezes interrompida por aplausos efusivos e gritos de "ele não", contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Em especial quando a Elza do palco diz que "não é preciso portar armas, é preciso portar a voz". A frase, originalmente pensada como um jogo de palavras que reforça a postura firme da artista, acabou ecoando na política devido à defesa de Bolsonaro da liberação do porte de armas.

E é por causa do momento político turbulento, diz a Elza da vida real, "que as mulheres têm que estar mais juntas".

"O país está muito conturbado, e acho que é a mulher que vai dar jeito nisso. Se o mundo fosse comandado por mulheres, ele seria muito mais feliz", diz a cantora, com seu gesto costumeiro de pousar o queixo sobre os dedos.

"E apesar de tudo, acho que nós estamos vivendo um momento muito feminino. Os homens vão acabar entregando o mundo nas mãos da gente, dizendo: 'Por favor, tome conta, que eu não aguento mais'."

Com informações da Folhapress.

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