© Ueslei Marcelino/Reuters
Após enfrentar a chuva durante a noite, milhares de imigrantes da América Central seguiram debaixo de sol em sua jornada no sul do México em direção aos Estados Unidos, apesar das condições precárias da rota e da dificuldade em avançar.
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As 7.200 pessoas, segundo a ONU, começaram a deixar nesta terça-feira (23) a cidade de Tapachula e a chegar a Huixtla, 40 km ao norte.
Um homem morreu na noite de segunda (22) após cair de um caminhão no trajeto, o que fez a caravana parar por algumas horas para montar um memorial em sua homenagem.
"É perigoso. Não há ambulância e se as crianças passam mal, podem morrer porque não existe ajuda", afirmou o ex-motorista de ônibus hondurenho Marlon Anibal Castellanos, 27, que viaja acompanhado da mulher e de dois filhos, com idade de 6 e 9 anos.
Eles caminharam por seis horas nesta terça antes de pagarem o equivalente a R$ 4,80 a um motorista de uma van para levar a família o restante do trajeto até Huixtla -diversos veículos acompanham o grupo e tem oferecido transporte em troca de dinheiro.
Desde que cruzaram a fronteira da Guatemala com o México, na sexta (19), a caravana avançou cerca de 70 km e quase duplicou de tamanho -eram 3.000 pessoas quando o grupo entrou no país. E ainda faltam cerca de 1.700 km até a fronteira com McAllen, no Texas, ponto de entrada mais próximo dos EUA.
É possível, porém, que o grupo decida entrar no país pela fronteira entre Tijuana e San Diego, a oeste, que fica a mais de 3.700 km. Por isso, não é possível saber ainda quantas pessoas de fato vão alcançar o território americano e nem a data de chegada.
Na última caravana, em maio, dos 1.200 imigrantes que saíram, apenas 200 chegaram a fronteira com San Diego. Até o momento o governo mexicano afirmou que 1.120 já pediram asilo no país.
Apesar disso, milhares de pessoas tem se juntado a caravana todos os dias, No início, eram apenas 160 pessoas que deixaram a cidade de San Pedro Sula, em Honduras, para fugir da violência e da situação econômica do país.
Uma segunda caravana, com mais de 1.000 pessoas, já entrou na Guatemala após sair de Honduras e também se dirige em direção ao México.
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Com 65% da população abaixo da linha da pobreza, Honduras integra ao lado de El Salvador e Guatemala, o chamado Triângulo do Norte, conjunto de países em que atuam principalmente duas "maras" (facções criminosas): a Salvatrucha e a Barrio-18. Nascidos nos anos 1990, em Los Angeles, como gangues de imigrantes centro-americanos, esses grupos foram deportados por Bill Clinton nos anos 1990.
De volta a seus países, passaram a se dedicar a atividades criminosas e se expandiram. A ONG Insight Crime estimam que os grupos juntos tenham 70 mil membros nos três países.
Um relatório da organização Médicos Sem Fronteiras divulgado no ano passado mostrou que metade dos imigrantes centro-americanos no México apontavam a violência como uma das causas por terem deixado seus países de origem - para 27% deles, era o único motivo.
É o caso do motorista de caminhão hondurenho Jimenez Flores. Ele afirmou que não pode voltar ao país pois foi ameaçado por uma gangue, que também atacou seu irmão após eles terem falado com a polícia há quatro meses.
"Passei quatro meses escondido, não podia nem mesmo ir para a rua. Não posso voltar", disse ele à agência Associated Press.
O presidente americano Donald Trump tem afirmado que há criminosos infiltrados dentro da caravana e chegou a afirmar que existiam pessoas do Oriente Médio no grupo, acusação que ele repetiu nesta terça. Ele também ameaçou retirar a verba que os Estados Unidos mandam para os países da região caso a caravana continue a avançar.
Jornalistas da agência Associated Press que viajam com o grupo, porém, afirmaram que não encontraram ninguém do Oriente Médio.
Já o vice-presidente americano, Mike Pence, disse nesta terça-feira (23) que o presidente de Honduras lhe informou que a caravana de migrantes foi organizada por grupos de esquerda financiados pela Venezuela.
"O que o presidente de Honduras me disse é que foi organizada por grupos esquerdistas de Honduras financiados pela Venezuela e enviados ao norte para desafiar a nossa soberania e a nossa fronteira", declarou Pence em um evento organizado pelo jornal The Washington Post. Ele não apresentou provas para comprovar a alegação.
Questionados, os integrantes da caravana tem negado serem parte de um movimento organizado. Com informações da Folhapress.