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O novo presidente do Brasil, a ser eleito neste domingo (28), terá perdido o mais recente ciclo de expansão da economia mundial, e vai assumir as rédeas do oitavo maior PIB do planeta em meio a uma tendência de desaceleração em 2019.
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Indicadores reunidos por diferentes organizações ao longo dos últimos meses apontam que as tensões comerciais - em especial entre China e Estados Unidos -, o aperto das condições financeiras em mercados emergentes e os riscos políticos em todo o globo - inclusive no Brasil - devem frear a performance global.
O sinal de alerta para o fim de um ciclo de alta foi soado há um mês pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 36 países - Brasil excluído. Desde então, os sinais de alerta para o começo de uma nova desaceleração se multiplicam.
Se até o fim de 2017 e o início do ano, a perspectiva era de expansão generalizada do PIB, o cenário hoje apresenta disparidades nacionais importantes, o que levou a organização a revisar os prognósticos de crescimento para baixo: 3,7% em 2018 e em 2019.
O porcentual pode parecer elevado, mas esconde situações díspares que podem trazer instabilidade para todos. O comércio internacional vem se contraindo, o nível de investimento é inferior ao estimado há dois anos e a massa salarial registra crescimento marginal na maior parte dos países da OCDE, mesmo com o desemprego abaixo dos níveis pré-crise internacional.
O resultado é que 10 países, mais o conjunto da zona do euro - 19 nações - tiveram uma revisão do PIB para baixo, incluindo EUA, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Brasil e Argentina. Apenas quatro nações - Austrália, China, Japão e Rússia - ficaram estáveis.
Nos últimos dias, a sondagem trimestral realizada pela agência Reuters com 500 economistas de todo o mundo indicou a expectativa de desaceleração em 41 dos 44 mercados estudados. Na Europa, por exemplo, um dos fantasmas que pairam sobre o bloco de 28 países é o Brexit, o divórcio entre União Europeia e Reino Unido.
A seis meses do início da separação, os termos da ruptura ainda são desconhecidos. O resultado é que índices de bolsas de valores como o DAX, de Frankfurt, referência no continente, confirmam a chegada de uma nova fase de instabilidade também para empresas e investidores, com queda de 14% desde janeiro, segunda pior desde 2011.
Comparado a uma cesta de moedas de parceiros comerciais americanos, o dólar vem se tornando outro fator de instabilidade ao registrar nas últimas semanas o mais alto valor em 25 anos. Ao longo da história, essa realidade vem acompanhada de importações mais caras para países como o Brasil e de aumento da taxa básica de juros do banco central americano - e, por extensão, em grande parte do mundo.
Se de fato acontecer, o garrote na liquidez encerrará um ciclo de quase 10 anos de expansão, com efeitos ainda imprevisíveis - mas com potencial recessivo, como estima o prêmio Nobel de Economia, Edmundo Phelps.
Dólar
A cotação do dólar, que produz uma taxa de câmbio desfavorável para os países importadores, também pressiona para cima o preço do petróleo, cujo barril saiu de menos de US$ 50 há um ano para mais de US$ 65 nos últimos dias. Mas os principais sintomas da encruzilhada da economia mundial vêm das duas maiores potências: Estados Unidos e China. A economia americana deve crescer 2,9%, em 2018, e 2,7%, em 2019, confirmando uma fase de opulência, mas com viés de baixa. Já a chinesa tende à desaceleração, com crescimentos de 6,7% e 6,4% nos dois anos, ambos inferiores ao índice de 2017, 6,9%.
Essa situação leva analistas a acreditarem que a expansão da economia mundial será desigual de país para país, e não mais generalizada. Dentre todos, talvez o principal dos fatores de incerteza é a possível guerra comercial entre EUA e China. O confronto, se se aprofundar, poderia custar até 0,7% do PIB por ano à economia chinesa, segundo estudo de Prashant Chandran, diretor de derivativos da consultoria Western Asset.
Para Jean-Paul Betbeze, presidente da Betbeze Conseil, de Paris, e ex-economista-chefe do banco Crédit Agricole, a economia mundial enfrenta riscos múltiplos, nas bolsas, no sistema financeiro, nas taxas de câmbio e na política monetária, na desaceleração da China e na instabilidade política.
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Múltis estão reticentes
O novo governo brasileiro também enfrentará um cenário internacional de contração de investimentos diretos. Em 2018, a queda mundial foi de 41%, e o mercado não espera uma recuperação para 2019. Números da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que as multinacionais estão sentadas hoje em ativos de US$ 6 trilhões e hesitam em investir, em parte por conta das incertezas geradas pela guerra comercial.
Para empresários e especialistas, esse capital será atraído por países que se mostrarem competitivos. "Reformas são necessárias no Brasil", disse ao Estado Borge Brende, presidente do Fórum Econômico Mundial. "Um pouco já foi feito. Mas essa tendência precisa continuar."
O Fórum já está em contato tanto com a equipe de Jair Bolsonaro (PSL) quanto com a de Fernando Haddad (PT) para que, definida a eleição, o vencedor seja convidado a viajar para a Suíça em janeiro para explicar ao mundo quais são seus projetos para o Brasil. "No longo prazo, o Brasil tem enormes oportunidades. Mas, no curto prazo, existem desafios reais que terão de ser lidados", disse Brende, que foi o chanceler norueguês entre 2013 e 2017. "O País tem condições de superar isso. Educação e inovação terão de ser incentivados."
De olho
As grandes multinacionais também acompanham com atenção o que ocorre no Brasil. Em 2018, com a crise política, houve uma queda de investimentos de 22%. Para executivos, porém, a dimensão do mercado nacional mantém o País entre os focos de atenção.
Paul Bulcke, presidente mundial da conselho de administração da Nestlé, garante que, seja qual for o resultado das eleições no Brasil, a maior multinacional do setor da alimentação continuará a investir no País. "Somos uma empresa que pensa no longo prazo", justificou.
Nos resultados publicados pela companhia na semana passada, o cenário para o Brasil voltou a ser positivo para a Nestlé. "A América Latina viu um crescimento orgânico positivo e acelerou no terceiro trimestre", apontou em um comunicado que indicou expansão de cerca de 5%. "Apesar de um ambiente comercial desafiador, o Brasil voltou a ter um crescimento positivo no terceiro trimestre", informou a multinacional. Ração animal, café e doces registraram um bom desempenho em toda a região das Américas.
Investimentos
No primeiro semestre, a Nestlé anunciou investimento de R$ 200 milhões para ampliar a produção em fábrica da Nescafé Dolce Gusto no Brasil, em Montes Claros (MG). Em 2017, a multinacional já havia anunciado um investimento de R$ 270 milhões em uma nova fábrica da Purina, de rações, em Ribeirão Preto (SP).
Na primeira década deste século, a expansão da economia brasileira resultou em ganhos reais para a multinacional. Os balanços da empresa mostraram que o Brasil terminou 2011, por exemplo, como terceiro maior mercado, posição que já havia conquistado em 2010 ao superar a Alemanha em vendas.
Mas a recessão não poupou nem a poderosa multinacional. Em seu informe anual sobre seus resultados de 2017, a Nestlé indicou que no Brasil teve um crescimento orgânico negativo diante de "pressões deflacionárias (...), em especial no setor lácteo."
Preste atenção
1. Fatores
Diferentes organizações ao longo dos últimos meses reuniram indicadores apontando que as tensões comerciais, o aperto das condições financeiras em mercados emergentes e os riscos políticos em todo o globo devem frear a performance global.
2. OCDE
A organização, que reúne 36 países, emitiu seu sinal de alerta há um mês. Se até o fim de 2017 e o início do ano, a perspectiva era de expansão generalizada do PIB, o cenário hoje apresenta disparidades nacionais importantes. Os prognósticos de crescimento foram revisados para baixo: 3,7% em 2018 e em 2019.
3. Câmbio
A cotação do dólar, que produz uma taxa de câmbio desfavorável para os países importadores, também é um agravante para a desaceleração.
4. Potências
Os principais sintomas da encruzilhada da economia mundial vêm dos Estados Unidos e da China. Se o confronto entre os dois se aprofundar, poderá custar até 0,7% do PIB por ano à economia chinesa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.