© Ueslei Marcelino / Reuters
"Bom dia, amados!" Janaina Paschoal, 44, costuma chamar seus interlocutores assim, amados ou lindos, nas redes sociais ou ao vivo.
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Há um mês, com apoio de 2 milhões de "amados", ela ganhou uma vaga na Assembleia Legislativa paulista, com a melhor votação na história dos Parlamentos brasileiros.
Superou em 200 mil votos o recordista na mais graduada Câmara, o colega do PSL Eduardo Bolsonaro, e multiplicou em quase sete vezes os 306 mil do ex-detentor da marca no Legislativo de São Paulo, Fernando Capez (PSDB).
Sergio Moro é o primeiro tema da uma hora de conversa com a Folha, no escritório de advocacia que tem com duas irmãs nos Jardins paulistanos. "Achei o máximo! Tô tão feliz", afirma sobre a indicação do juiz, numa sala com Bíblia, livros de direito e chocolates.
Para a advogada, é tolo dizer que Moro agiu com interesses políticos ao condenar Lula à prisão, em 2017, ou ao levantar o sigilo sobre a delação do ex-ministro petista Antonio Palocci, a dias do pleito.
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E quem levava fé em Bolsonaro? "Vamos falar a verdade, a maioria dos analistas sequer acreditava na vitória dele."
Ela crê e não é de hoje. Filiou-se ao PSL do capitão reformado e quase foi sua vice. Na convenção que ungiu o presidenciável, indispôs-se com a militância ao dizer que boa parte dela "tem uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado". E pediu: "Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário".
Já ela se diz aberta "ao contraditório". Veja só: em 2016, quando coassinou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), vários de seus alunos da Faculdade de Direito da USP, onde dá aula, não gostaram. Teve até encenação do enterro da Constituição em sala de aula.
"Pensei: 'Ah, se estou de alguma maneira estimulando a arte, tudo bem'", conta e ri.
Se ela é do diálogo, dá para dizer que também o é Bolsonaro -alguém que, no passado e no presente, já falou em fechar o Congresso, fuzilar FHC e "a petralhada" e atacou a Folha de S.Paulo por lhe desagradarem suas reportagens?
"Ele tem essas frases muito contundentes. Mas, no modo de ser, não é autoritário como o PT. É difícil sentar com petista sem ele te chamar de ignorante, se sentir superior."
Nem sempre a esquerda é gentil com ela, que virou alvo de zombaria por seus discursos inflamados -como ao tuitar que, a partir da Venezuela, a Rússia estaria por um triz de atacar o Brasil. "Estão rindo? Bem típico: fazer a pessoa passar por burra, para que se cale. Mas comigo, não!"
Em outro, girando a bandeira do Brasil feito hélice, responde a Lula ter dito que "a jararaca está viva". Aqui, bradou, não é a "República da Cobra". Pela cena, foi comparada com a garota de "O Exorcista".
Quando Bolsonaro promete "botar um ponto final em todos os ativismos", a opinião pública o entendeu mal, diz. Todo ativismo, do rural ao feminista, "acaba se tornando cruel" se "virar a única lente, e tenho a sensação de que é disso que ele está falando".
Janaina acha, sim, que há doutrinação ideológica no ambiente de estudo, e a isso ela se opõe. "O que acontece na universidade é emburrecimento em massa, o cara tem que dizer amém [para a cartilha da esquerda], se prostituir intelectualmente", afirma.
"Mas proibir temas me preocupa", continua. E se um aluno perguntar ao professor temas como homossexualidade? Ele deve dizer "vá para a casa e pergunte à sua mãe"?
A criminalista acha que não, por isso afirma ter ressalvas ao projeto Escola Sem Partido.
Não gosta que lhe digam o que deve ser. Quando usou lilás, cor associada ao feminismo, em sua campanha, ouviu: "Isso tá muito feminazi!". E desde quando a pauta é monopólio da esquerda?, questiona a advogada, que já foi confundida com assessora e cliente dos pares engravatados.
Diz ela que, se Bolsonaro fizer algo como retirar "conquistas da comunidade homossexual, LGBT, o que vocês quiserem chamar", será contra. "Agora, falar que sou oposição... Acho isso tão infantil!" Com informações da Folhapress.